Prometida ao Irmão

Dezasseis

No dia seguinte, ao acordar, Elizabeth olhou para o seu marido. Fora tão bom o que acontecera na noite anterior.

Ficou a observar o seu marido por uns instantes e decidiu mandar preparar-lhe um grande pequeno-almoço. Levantou-se da cama e depois de se lavar, vestiu um vestido simples. Ao passar diante da cama, para dirigir-se para a porta, deteve-se e olhou para William ferrado a dormir. Ele estava com o peito destapado, com a cabeça apoiada nas mãos cruzadas atrás das costas. O seu pé também estava destapado. Aliás, a única parte que estava tapada era da anca para baixo.

Estava uma manhã gelada, típica de Inglaterra e Elizabeth sentiu um arrepio de frio a percorrer-lhe as costas e notou que o seu marido também estremecera. Aproximou-se da cama e puxou os cobertores para cima, de forma a tapá-lo. Sorriu para si ao ver que ele se virava e se enroscava nos lençóis. Deu-lhe um beijo ternurento na testa, passando a mão pelos seus cabelos ruivos-alourados, fazendo com que as madeixas mais curtas se espetassem para cima. Bem-disposta, saiu do quarto e correu escadas abaixo, chamando pela governanta.

Rapidamente, apareceu a Sr.ª Roberts, a governanta. A Sr.ª Roberts era uma figura muito rigorosa e severa; baixa e um pouquinho gordinha, tinha ombros largos e braços fortes, bem como o tipo de expressão sombria e de cautela que inspirava nas pessoas desconforto e desconfiança. E, entre os olhos cinzentos-violeta, duas rugas verticais bastante visíveis, aprofundavam-se quando franzia o sobrolho.

- Senhora. - Cumprimentou, olhando para ela com uma das comissuras dos lábios erguidas, o mais parecido com um sorriso que a governanta podia esboçar. Os seus olhos olhavam-na com ironia como se dissessem «Então, é a nova senhora? Como se sente em relação a isso? Será tão supérflua e arrogante como as outras? Quanto tempo aguentará até o senhor se aborrecer?». Parecia desafia-la e Elizabeth não gostou disso.

No entanto, Elizabeth não deixou que a má-disposição daquela senhora rabugenta estragasse a sua extrema felicidade.

- Sr.ª Roberts, faça-me o favor de dizer à cozinheira que prepare um pequeno-almoço especial para depois ser levado ao quarto. - Pediu ela, sorridente e soltando um longo suspiro, tentando não perder a calma com aquela mulher, enquanto esta se virava para ir embora. - Ah! E já agora, não se preocupe em arranjar alguém para levar o pequeno-almoço ao quarto, eu mesma o faço.

A governanta virou-se, sem pressa, para a sua recente senhora. A sua rigorosa e impassível expressão não mudara, porém o seu tom de voz denunciou a sua surpresa.

- A senhora?! Mrs. Wyatt é que vai levar o pequeno-almoço para o quarto? - Ela assentiu com a cabeça e a governanta franziu o sobrolho, fazendo as rugas verticais entre os olhos acentuarem-se. - Mas, senhora, com todo o respeito, isso é inapro...

- Sim! - Interrompeu Elizabeth decidida a que aquela mulher rigorosa e chata não lhe estragasse a alegria. - Vou eu levar o pequeno-almoço. Algum problema?!

A Sr.ª Roberts pareceu amedrontar, deixando a sua máscara de rigor descair e abanando negativamente a cabeça, com veemência.

- Não, minha senhora, peço desculpa.

Elizabeth assentiu com a cabeça e fez um trejeito com os lábios, franzindo-os como se estivesse constrangida, ao ver que ela continuava ali.

- Bom, então, se me fizer o favor, poderia ir pedir à cozinheira que prepare o pequeno-almoço. Estarei na biblioteca à espera... - Deixou a frase no ar, esperando que ela percebesse que tinha sido dispensada e fosse embora.

Saindo do seu torpor confuso, a Sr.ª Roberts fez uma pequena reverência e afastou-se rapidamente, entrando em seguida na cozinha. Elizabeth então, abanando a cabeça para afastar a confusão qua sentia ao tentar perceber aquela estranha mulher, afastou-se e entrou na biblioteca, indo sentar-se numa das poltronas de couro, esperando enquanto lia um livro de sonetos de Shakespeare.