Dezanove

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Estavam em casa dos seus primos distantes, na sala deles mais concretamente. Quando tinham regressado a casa, não tinham tido sinais dos pais e tinham decidido ir falar-lhes a casa dos primos. Não podiam esperar...

- Bom, meu filho... - Começou Mr. Wyatt, levantando os braços como se suplicasse perdão.

- Não! - Gritou William, furioso. Tinha a cara vermelha e lágrimas nos olhos pela raiva. - Não sou seu filho, ao que parece. - A sua voz mostrava repugnância, desprezo e rancor.

- William, escuta-nos... Por favor! - Rogou Mrs. Wyatt, com as sobrancelhas e os lábios franzidos, como súplica. - Precisas de ouvir.

- Diga! - Gritou ele, descontrolado. - O que há para ouvir?

- Eu não posso ter filhos. - Começou a sua mãe, com um pouco da sua arrogância habitual. - Sou estéril. Um dia, eu e o teu pai recebemos-te, trouxemos-te para casa e, desde então, amámos-te como se fosses nosso filho.

- No entanto, esconderam-me isso! - Vociferou, batendo com o punho na mesa do escritório da casa.

Elizabeth estava sentada no sofá, junto à janela, com lágrimas nos olhos. Amava William. Amava-o mais que à própria vida. E, vê-lo daquela maneira, dava-lhe uma enorme agonia e angústia. Sofria por ele e com ele. Era tão injusto que tantos homens e mulheres se casassem sem amor e, eles que se tinham casado por um profundo amor, não pudessem estar juntos.

- Como descobriste que não eras nosso filho? - Atreveu-se a perguntar Mr. Wyatt.

- Como?! - Inquiriu William, num tom de fúria e indignação. - Descobri que a minha mulher é minha irmã!

Os pais de William olharam-no perplexos. Como podia ser? Pois, era! Os dois eram irmãos e estavam casados. Eles não estavam à espera. Ninguém esperava uma coisa daquelas.

- Irmãos? - Balbuciou Mr. Wyatt, desconcertado.

- Sim, irmãos. - Respondeu William, tentando conter a sua raiva. - A governanta e o mordomo... contaram-me o que aconteceu. Os pais de Eli... Os meus pais perderam-me num acidente, quando eramos novos. Acharam que estivesse morto. - Ele engoliu em seco e passou uma mão pelo cabelo.

- Quando descobriram isso? - Indagou Mrs. Wyatt, com ar altivo.

- Esta manhã, ... depois da noite de núpcias. - Respondeu William, fulminando a mãe com o olhar para que ela não se aventurasse a continuar.

- Sabes bem, meu filho, que sendo irmãos é um pecado estarem casados. - Advertiu Mr. Wyatt, com um certo pesar. - Têm de imediatamente pedir a anulação, se não, estarão a cometer um pecado ainda maior. Depois têm de se confessar a um padre e pedir penitência a Deus. E que Ele vos perdoe por pecarem.

William enfureceu-se ainda mais. Aquilo tudo era uma ironia. Sabia que tinha de pedir a anulação. Mas era necessário que o seu pai o lembrasse que não podia estar com a sua amada esposa?

- Vamos embora, Elizabeth. - Disse William, inspirando fundo para controlar a sua raiva.

William virou costas, deu o braço a Elizabeth e preparou-se para ir embora, quando o seu pai o chamou:

- William?! Vais anular o casamento, certamente, não vais?

- Vou! - Respondeu William, entredentes.

Pelo canto do olho, viu uma lágrima cair dos lindos olhos de Elizabeth e, ao vê-la, uma lágrima caiu também dos seus.

- Vamos! - Disse ele, contendo a vontade que tinha de chorar.

...

William e Elizabeth voltaram para casa e tinham percorrido a viagem até lá, em silêncio. Mal pôs um pé na enorme mansão, Elizabeth correu para o quarto deles, com lágrimas nos olhos, enquanto William dirigiu-se à biblioteca.

Prometida ao IrmãoOnde histórias criam vida. Descubra agora