Awaken

5

Arcadia era apenas um aglomerado de barracas, no interior de muros baixos, em redor de uma casa grande.
Seu líder, agora morto, queria aumentar a altura dos muros e o seu comprimento, tornando assim, a comunidade maior.
Tudo aquilo me trouxe memórias que eu queria esquecer. Parecia que estava de volta na fazenda, com Carson, planejando erguer os muros.
Em menos de nada, Lexie conseguiu dividir o pessoal, aumentar os muros e dar condições ótimas para aquelas pessoas viverem. Além de construir um lugar mais afastado, onde nossos guerreiros treinavam.
Entrei na sala, onde Lexie estava sentada atrás de uma mesa, e ela ergueu o olhar para mim, baixando de novo.
- Disseram que queria falar comigo.
Ela assentiu e me olhou.
- Você é o único em quem eu confio aqui dentro, o suficiente para ficar comigo gerindo isso tudo.
Franzi o cenho. - Lexie...
- Ah cala a boca, Dário! Você sabe que é verdade e além disso, precisa esquecer o que aconteceu antes.
Sentei na frente dela, colocando a arma no chão e as mãos em cima da mesa.
- Tá, o que você quer que eu faça?
Ela sorriu. - Preciso de alguém que, para além de ser o meu braço direito, tome conta dos guerreiros.
Encostei na cadeira. - Deus do céu.
- Eu não sei se consigo sozinha, D. Eu... eu nem sei se estou fazendo as coisas certas.
Sorri. - Você está sendo ótima. Mas essa ideia, eu não...
Ela me olhou e fez um beicinho adorável. - Por favor?
Revirei os olhos e sorri. - Tudo bem, eu posso fazer isso.
Ela sorriu, triunfante e depois escreveu algo nas suas folhas.
- Então... Estava pensando em vigias no topo dos muros, e ter uma equipe andando por aí também era uma ótima ideia.
Assenti.
Fiquei olhando ela enquanto Lexie falava sobre as coisas que queria para Arcadia e nesse momento, eu soube que tinha feito a escolha certa quando salvara ela. Ela era uma líder nata. Lexie nascera para liderar Arcadia.

Soquei o boneco, uma e outra vez, sentindo meu corpo cansado e minha mão doendo. Mas era um daqueles dias, e eu precisava fazer minha mente esquecer de certas coisas.
- Perdeu todas as suas camisas, foi?
Olhei para trás, vendo Lexie encostada na porta, de braços cruzados sobre o peito, me olhando.
Sorri e parei se socar o boneco.
- Porquê? Fica demasiado incomodada?
Ela deu de ombros. - Eu? Óbvio que não. Só estou comentando.
Assenti, rindo e pegando minha água.
- E você? O que está fazendo aqui?
Ela suspirou. - Estava passando, hoje não tem nada de especial para fazer, mesmo.
Dei de ombros. - Quer treinar comigo? Eu prometo que vou socar devagarinho.
Ela riu. - Não sei se é boa ideia. - Indicou meu peito. - Você, sem camisa, pode ser uma forte distração.
Eu ri, pegando minhas coisas, incluindo minha camisa.
- Tá bom.
- Rainha.
Olhámos para trás e vi a tal mulher negra, que eu ainda nem sabia o nome direito, surgir, e parecia que vira fantasma.
- Fala. - Disse Lexie.
- Tem um homem lá fora. E ele tem uma criança.
Troquei um olhar com Lexie e vesti minha camisa, pegando a arma.

Esperei junto de Lexie, enquanto nossos homens traziam o homem e a criança para dentro.
Eles pararam a poucos metros de nós e eu segurei a arma com força.
- Quem são vocês? - Perguntei.
- Eu sou o Beta, ela é a Lydia. - O homem falou com uma voz forte.
Senti Lexie ficando tensa do meu lado, mas ignorei.
Fiquei olhando eles. O homem era enorme, de cabelos claros e olhos azuis. Estava vestido com uma jaqueta de couro, enorme, e tinha duas adagas presas no cinto. Tinha um ar ameaçador. A menina tinha cabelo escuro, e um olhar selvagem. Parecia assustada, mas era possível sentir a força que ela tinha. Seria filha do grandão? Porque não parecia.
Lexie deixou aqueles estranhos ficarem, por mais que eu dissesse que o tal de Beta parecia sinistro.
Andei pelos corredores, com Beta do meu lado. Era estranho. Como se eu sentisse que a gente tinha acabado de deixar entrar um gato esfomeado numa casinha de ratos... Só que nesse caso, nós éramos os ratos.
- Ela ficará bem? - Perguntou com sua voz forte.
Assenti. - Não se preocupa, em Arcadia não somos um bando de lunáticos.
Ele assentiu.
Olhei ele de canto. - A menina é sua filha?
- Não, eu achei ela na cidade, minha esposa cuidava de crianças. Lydia era uma delas.
Parámos junto de uma ds portas e olhei ele. - Seu quarto. Fica á vontade. Amanhã a Lexie deverá querer falar com você.
Ele assentiu. - Obrigado, de verdade, pelo que estão fazendo.
Assenti, olhando ele. - De boa.
Dei as costas e me afastei, indo em direção do quarto de Lexie e entrando sem bater.
- Hey! - Disse ela.
- Sabe que eu morreria por você, e seguiria você até o fim do mundo, né?
Ela me olhou, confusa. - Dário...
- Que ideia foi essa de deixar aquele cara ficar? Você já olhou ele?
Ela riu. - Ele pode ajudar Arcadia.
Cruzei os braços. - Sério? Como?
- Estava pensando. Ele é enorme, deve ser bom lutando. Amanhã poderiamos pedir para ver ele treinando contra um dos nossos.
Fiquei olhando ela, sem querer acreditar. - Espera, o quê?
Lexie deu de ombros. - Se ele for bom, podemos colocar ele como responsável pela segurança.
- Ficou doida?! O cara acabou de chegar!
- E a Lydia disse que ele sabe controlar os mortos.
Aquilo foi como levar um murro no estômago. Franzi o cenho.
- Sabe o quê? Impossível.
- Dário, falamos com ele amanhã e vemos como corre, depois decidimos.
Olhei o chão, mordendo a língua, e depois olhando Lexie de novo.
- Ainda acho uma irresponsabilidade tremenda colocar um cara que não conhecemos, num lugar tão importante assim. Mesmo que ele seja o melhor lutador do mundo e que saiba, realmente, controlar os mortos! - Neguei com a cabeça. - Você ficou doida.
Lexie sorriu. - Está com ciúmes, é? Por não ser mais o único bonitinho de Arcadia?
- O que... Você... Ah, vai se lascar, Lexie!
Ela riu e depois se aproximou, rodeando minha cintura com os seus braços e encostando a cabeça no meu peito.
- Confia em mim, Dário.
Abracei ela. - Eu confio em você, mas não nele. - Falei, sentindo minha raiva indo embora.
- É por isso que eu preciso de você. Você irá decidir comigo.
Revirei os olhos. - Já falei o que eu penso.
Lexie se afastou, me olhando nos olhos.
- Eu preciso de você do meu lado, dando a ele o lugar de responsável pela segurança, você ficaria mais liberto de suas obrigações e poderia me ajudar melhor.
Suspirei. - Tá bom. Fechado.