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Esperei horas por Beta, encostado no muro de Arcadia, de braços cruzados sobre o peito e olhando o chão

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Esperei horas por Beta, encostado no muro de Arcadia, de braços cruzados sobre o peito e olhando o chão.
- Dário. - Disse um dos vigias, no topo.
Olhei ele e depois para onde ele indicava, e vi o grandão surgindo, andando de forma normal e sem aquela máscara horrível.
Dei um passo em frente e ele parou junto de mim.
- Como raios você faz aquilo?
Ele riu. - Um dia te ensino, bonitinho.
- Não preciso que me ensine, não tenciono andar com os mortos. E para de me chamar esses nomes, parece até que está me paquerando.
- Prefiria morrer.
Entrámos na comunidade, Beta do meu lado.
- Ninguém diria. - Continuei. - Se você me chamou de bonitinho...
- Não fica se achando não, tá? Eu não jogo nesse time.
Eu ri, e foi quando vi Lexie, mais na frente, erguendo uma sobrancelha e nos observando.
- Tem certeza?
Beta segurou o meu braço, me fazendo parar, mas sem machucar, e depois ergueu o dedo, indicando Lexie.
- Eu prefiro algo assim.
Aí eu tive de rir que nem louco, segurando até minha barriga. Depois olhei ele.
- Foi mal, cara, mas a Lexie? Tá, vai sonhando.
- Não que eu esteja pensando em algo, foi só um exemplo. Mas... Ela está com você?
Neguei com a cabeça, suspirando. - Não. Lex é minha amiga.
- Hum, bom saber.
- Pára com isso, grandão. Ninguém nunca chegou perto dela assim, porque acha que você iria conseguir?
Ele me sorriu feito criança fazendo besteira. - Eu trouxe uma menina, isso conta para uma mulher.
- Pfff, grande coisa. - Revirei os olhos. - Eu construí Arcadia com a Lexie.
Beta suspirou. - Merda. Tá, você ganhou.
Ele bateu no meu ombro e continuámos andando, rindo de toda aquela besteira. Mas Beta me parou de novo.
- Não fala nada para ela, tá? Eu tava brincando. Eu não quero ninguém, não.
Eu ri de novo. - Perdeu a coragem, foi?
- Vai se lascar! - Beta bateu nas minhas costas e eu desviei.
Assim que chegámos junto da rainha, ela cruzou os braços sobre o peito e nos olhou.
- Amiguinhos, agora?
Revirei os olhos. - Beta até que é um cara legal.
Ele sorriu. - Seu bonitinho aqui, também.
- Deus do céu. - Disse ela.
- Você já viu o que o Beta faz com os zumbis? - Perguntei, do nada. - Lex, você tem que ver! É fantástico!

Sentei na beira da minha cama, finalmente, me sentindo cansado. Fechei os olhos e deitei de costas, mas rapidamente me arrependi. Imagens passaram na minha mente, imagens que eu queria esquecer.
Abri os olhos e ergui o pulso, olhando a pulseira negra que usava desde a minha antiga comunidade.
Era da Meg.
Passei os dedos por ela, respirando fundo, eu tinha de esquecer. Mas como? Tá, Lexie ajudava bastante nesse ponto, já que ela me fazia sentir coisas que nem mesmo a Meg conseguia, mas quando eu ficava sozinho, principalmente durante a noite, Meg assombrava minha mente.
Escutei bater na porta e suspirei, sentando na cama.
- Sim.
A porta abriu e Lexie entrou, fechando a porta de novo.
Franzi o cenho. - O que houve?
Ela deu de ombros. - Nada. Estava passando e resolvi entrar e ver se estava acordado.
- Porquê?
Ela sorriu torto. - Porque faz anos que não durmo com ninguém e estou ficando louca com isso, então preciso da sua ajuda.
Senti meu coração parar de bater e tenho certeza que mudei de cor, e então quando ela se aproximou e sentou do meu lado, quase senti minha alma abandonando meu corpo.
Lexie riu. - Não está tendo um ataque do coração, está? Dário, eu estava brincando.
Respirei fundo, lembrando de como se respirava novamente, e assenti.
- Não faz isso de novo. - Falei.
- Credo, pensou mesmo que eu... Você é doido.
Assenti, sorrindo. - Tá, me fala, o que aconteceu?
Ela suspirou. - Nada, só estava cansada de estar sozinha no meu quarto. E tem algo que eu não consigo parar de pensar.
Dei a ela minha total atenção. - O quê?
- Coisas do passado, mas que voltaram.
- Hum. - Dei de ombros. - Não entendi nada, mas tudo bem.
Lexie sorriu e mordeu o lábio. - Posso ficar com você?
Assenti, de cenho franzido.
- Lex, eu te conheço o suficiente para saber que você não está bem. Pode falar.
Ela olhou para baixo e depois olhou nos meus olhos.
- É a Lydia, a garota que veio com o Beta.
- O que tem ela?
- É a minha Lydia. A minha filha. Aquela que eu perdi no início do fim do mundo.
Aquilo foi como levar um murro no estômago, daqueles que deixam você sem ar e tonto.
Franzi o cenho, abri a boca e fechei de novo, balancei a cabeça.
- O quê? Espera! Você tinha uma filha?
Ela assentiu. - Nasceu antes do apocalipse. Quatro anos antes.
Ergui as mãos. - Mas como pode ser ela? Quer dizer, só porque tem o mesmo nome, não tem pais, e tem a idade certa?
Lexie suspirou. - Tem uma marca na testa dela, eu sei como foi ali parar. Foi um acidente, em casa. Além disso, ela tem aquele jeito de olhar igual ao pai dela.
Fiquei sem saber o que dizer.
Eu nem sabia que Lexie tinha uma filha e agora Beta aparecera justamente com ela? Meu Deus, quais as probabilidades de isso acontecer?
Passei a mão pelo cabelo.
- Ela sabe?
Lexie negou. - Não! E nem precisa, não por enquanto. Eu tenho de pensar numa forma.
- E o Beta?
Lexie mordeu o lábio. - Acabei de contar. Ele ficou tão surpreso quanto você. A mulher dele era a professora da Lydia.
- Eu... Nossa Senhora.
Lexie segurou a minha mão e eu olhei os seus olhos, cheios de água.
- Eu não sei o que fazer. - Disse ela, deixando que uma lágrima rolasse pelo seu rosto. - Eu...
- Vem cá.
Encostei na cabeceira da cama e abri os braços. Lexie se aninhou do meu lado, colocando a cabeça no meu peito e eu abracei ela.
- Vai ficar tudo bem. - Falei.
- Eu pensei que ela estava morta. Todos esses anos eu... Ela está aqui, Dário. Aqui. Ela está viva.
Fiz carinho na sua cabeça. - Daremos um jeito de falar para ela. Você não está sozinha.
Ela assentiu. - Obrigada D. De verdade.
Ficámos ali um bom tempo, em silêncio, minha mente voando em mil pensamentos, até que percebi que Lexie estava muito quieta.
Espreitei e vi que ela havia pegado no sono.
Respirei fundo e acabei pegando no sono também.

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