Em busca da voz

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Hora de reencontrar os irmãos Cavalcante de Menezes, e provavelmente o meu personagem favorito desse grupo de irmãos...

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A mansão dos Cavalcante de Menezes em Alphaville II permanecia gloriosa, oculta pela mata fechada, com as palmeiras imperiais acompanhando o caminho de pedras até a majestosa residência, que não possuía mais um de seus ocupantes – enquanto outro prosseguia em suas idas-e-vindas na casa.

A chácara ainda era o segundo lar de Alice, que prosseguia com seu noviciado, mas a jovem religiosa, agora com 19 anos, não estava naquela tarde de sábado em reflexão na tranquilidade de seu refúgio.

Na verdade, Alice aproveitava a oportunidade de estar com os irmãos mais novos, brincando de bola – um tempo ela jogava com Ricardo, e no outro com Cecília.

Já os irmãos mais velhos estavam enclausurados no quarto de Léo, um local mais plácido e organizado que o quarto de Júlio, eternamente bagunçado; ou a frieza dos aposentos de Álvaro, tão cinzentos quanto a camisa com gola em V que usava. O grupo aguardava a chegada de mais uma pessoa para a regular conversa dos irmãos Cavalcante de Menezes.

O professor dedilhava distraidamente algumas notas no piano, sem pensar em uma música específica. Álvaro, um dos gêmeos, conversava com alguém no smartphone, os olhos azuis transparentes demonstrando uma rara emoção. Ele tinha o temperamento frio, o mais próximo do gênio do pai, Alberto.

Quanto a Júlio, o gêmeo mais desencanado, estava deitado com os braços cruzados por trás da cabeça, sempre extrovertido e despreocupado. Yasmin – a prima – também surgiu no quarto, cumprimentando o grupo com bom humor, e deixou algumas sacolas de compras na poltrona a qual Léo costumava sentar para ler um pouco.

Eram sacolas com roupinhas de bebê: ela estava grávida de quatro meses de seu noivo, Jeremy Winter, advogado britânico.

- A que horas Beca vai chegar? – Yasmin, programadora de formação e trabalho, mas também sócia de uma agência de publicidade ao lado do marido da prima, Thiago, não parecia muito paciente naquele dia. – Ela sempre chega cedo, e a gente vai ficar esperando? Tô meio enjoadinha e Jerry vem me buscar...

- Oxe, e como você veio pra cá se tá de carro, doida? – Júlio ficou surpreso.

- Peguei um motorista de aplicativo!

- Eu também estou achando estranho essa demora de Rebeca... – observou Álvaro, sem desgrudar os olhos do smartphone. – Ela é a mais pontual da gente.

- Correção, gêmeo: ela sempre chega primeiro, não é questão de ser pontual. Se bobear, Rebeca disputa com o tempo pra ganhar.

- Estou ouvindo sua ósadia, Júlio... – a voz rouca e firme de Rebeca Cavalcante de Menezes encheu o quarto, e todos se puseram a abraçar a executiva.

- Demorou hein?

- Aconteceu alguma coisa?

- Ainda bem que você chegou!

- Calma gente, peço desculpas! Reunião de última hora na CDM/Calete,

- Reunião dia de sábado, Beca? – Júlio revirou os olhos. – Cadê os direitos trabalhistas?

- A CEO nunca para, meu irmão.

- Ainda bem que eu nem quero isso pra minha vida! Vou ficar no RH recrutando gente, perfilando funcionários igual a um agente do FBI daquelas séries procedurais!

Rebeca revirou os olhos e se voltou para Léo, que havia pedido aquela conferência na casa da família.

- Pode contar, Léo. Estamos todos aqui.

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