Featuring

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(featuring, na música, é a presença de um participante - cantor, banda, músico - de maneira proeminente numa faixa ou álbum)

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Anderson piscou duas vezes, os olhos acreditando que estava vendo outra coisa. Roboticamente, caminhou até o portão eletrônico, que se fechava aos poucos, tentando confirmar se a mente não estava lhe pregando peças.

De repente, alguém colocou a mão em seu ombro.

- O que você está fazendo no meio da rua, Anderson?

A pessoa que interpelou o adolescente era um homem bem alto, cabelos ondulados, meio despenteados com o vento. A pele bronzeada curtida de sol, barba por fazer, os olhos grandes, redondos, analíticos, o rosto era bem marcado, quadrado, queixo definido, o que dava à misteriosa figura uma aparência bem dura, mesmo com seu rosto jovem.

- Quem é você, maluco?

- Meu nome é Henrique Villas Bôas, sou amigo do namorado da sua irmã, Leonardo.

- Não sei quem é Leonardo e eu nem tenho irmã.

- Seu nome também não é Anderson?

- Meu nome é André.

Pela primeira vez em muito tempo, Henrique sentiu vontade de gargalhar. O garoto era esperto e provavelmente não iria responder absolutamente nada sem que ele confirmasse sua identidade.

- Eu vou fazer uma ligação para confirmar a você quem sou eu – Henrique pegou o celular e apertou alguns botões. Não demorou muito, alguém atendeu o telefone e ele passou rapidamente para Anderson. – Fale com a pessoa.

O garoto segurou o aparelho, um pouco relutante, mas logo levou ao ouvido.

- Henrique, aconteceu alguma coisa? Leonardo e Tainá não voltaram de viagem ainda, mas estão no caminho.

- Seu Alberto? - Anderson não sabia se olhava o adulto estranho, tirava o celular da orelha e olhava para o aparelho.

- Oi, Deco, por que você está com o celular de Henrique?

- O senhor conhece esse cara?

O garoto ouviu uma risada do outro lado da linha.

- "Esse cara", Anderson, é um dos melhores advogados da empresa que minha família comanda, uma pessoa da nossa inteira confiança.

- Tá bom... – "esse maluco tem a maior cara de mafioso, eu hein..." - Vou desligar então.

Anderson entregou o celular para Henrique, que não havia mudado a expressão em nenhum instante da conversa final. Foi o garoto, até então estava com a postura mais dura e relutante, que acabou se suavizando e soltou os ombros.

- Tá... Você é de boas, mas o que você quer?

- Eu estou curioso porque você tá na porta da escola e até onde foi negociado, deve esperar o pessoal da segurança entrar no colégio e pegar você no carro.

- Eu sei disso, mas é porque eu tive a impressão de que eu vi-

- William?

- Ele mesmo, do outro lado da rua, como se tivesse me observando. Aí eu queria ver se era ele mesmo, e acabei andando até o portão. Eu sei que não devia ter feito isso, mas... Foi mais forte do que eu.

- Vou colocar alguns caras de sobreaviso. Vamos à casa dos Cavalcante de Menezes, porque daqui a pouco sua irmã está chegando e ela vai querer falar com você.


Anderson não foi sozinho com Henrique até a mansão: ele foi acompanhado por Lenita, que ligou para os pais avisando que passaria o dia com o colega estudando. Porém, ela notou rapidamente a tensão do amigo durante o percurso.

Um novo amanhecerOnde histórias criam vida. Descubra agora