Fraudes e plágios

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O dia no ponto de ônibus tornou-se o primeiro de vários que Tainá percebeu ser seguida por alguém.

Não apenas no trabalho, mas no percurso que ela fazia para casa, quando ia comprar pão no mercado da esquina, ou quando aguardava a chegada de Anderson quando demorava na escola por conta dos treinos de futebol ou do coral.

Aquilo a preocupava sobremaneira, porque Tainá sentia que algo muito grave estava acontecendo: a pessoa que ela não queria que retornasse estava de volta.

- Tu anda meio distraída, Tai...- comentou Simone, observando a amiga com preocupação enquanto ela se alimentava no horário do almoço, com o olhar focado no conteúdo da marmita.

- Eu tô... Só pensando... Coisa para pagar, cartão de crédito... mas isso passa. Tudo passa.

- Pior que é verdade, amiga! No final, tudo passa, menos o cobrador! – Simone riu da própria piada.

Porém, Tainá não a acompanhou no riso. O dilema que rondava suas desconfianças era de que seu objetivo – fugir outra vez do seu padrasto ao lado de Anderson – era uma missão ainda mais complicada agora.

Nem a ideia de ficar trancada em casa era uma opção: afinal, precisava trabalhar e pagar as contas.

Ainda com a mente em confusão, Tainá voltou para casa e assim que entrou no prédio, mais especificamente no corredor de entrada, onde tinham as caixas de correio referentes a cada apartamento, reconheceu um envelope dentro da sua.

Não gostou nada daquilo, em especial porque o envelope não tinha remetente, mas possuía um destinatário – era seu nome no papel.

As mãos tremeram, porque as suas desconfianças poderiam ser verídicas. Subiu as escadas correndo, carta em mãos, entrou no apartamento e trancou a porta, não apenas com a chave, mas usando a tranca.

Abriu a carta em desespero, estremecendo, e puxou o papel. Não podia acreditar que depois de tantos anos, sua vida que seguia tão bem voltaria ao mesmo inferno. Inferno esse representado pelas palavras que estavam ali.

"Já sei onde você mora.

Acabou tua farra, tua e a do moleque."

Não precisava gastar muito tempo para saber de quem se tratava aquela letra, ou as palavras ditas com tamanha crueldade. Era ele, o monstro, o pai de Anderson e o responsável pela morte da mãe deles.

Não podia acreditar que depois de tanto tempo, quando sua rotina estava normalizada, quando tudo parecia seguir em frente, ela sequer pensava naquele homem, e ele estava de volta. "Não posso deixar que esse maldito desgrace a vida de Anderson, não posso..." O primeiro pensamento de Tainá foi fugir: sair do emprego, pegar Deco na escola e juntar o pouco que tinham, indo embora para bem longe. Não tinham dinheiro, mas dariam um jeito de recomeçar. Ao mesmo tempo, Deco estava bem na escola: possuía oportunidades, amigos, bom desempenho. E ela... Ela não queria perder algo tão bom que ela havia construído, não queria deixar Léo, sua gentileza, seu carinho e o amor dele – não queria deixar o homem que amava para trás.

Mas não podia falar a Léo a respeito do que estava acontecendo. Não ia jogar tamanha informação nas costas de um homem que amava tanto, e que sabia de sua história, contudo, ele não precisava saber da extensão do seu sofrimento. Não podia contar a Léo o que estava acontecendo; teria que resolver sozinha.

- Tá tudo bem, Tai?... Tai?

- Oxe, o... Deco, o que você tá fazendo aqui? – a atendente olhou para um ponto além de Anderson, que se colocou à frente da irmã, mexendo as mãos na frente da jovem.

- Tai, já terminou a aula, voltei pra casa...

- Ah, graças a Deus! – ela tocou no rosto do garoto, mexeu nos cabelos, cortados bem rente, e segurou o braço dele. – Tá tudo bem, nada de errado aconteceu, né?

Um novo amanhecerOnde histórias criam vida. Descubra agora