Dueto

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Tainá ainda se lembrava da conversa que tivera com Leo durante aquela noite no Rio Vermelho. Ele falou por alto que era professor, que dava aula em um colégio de ensino fundamental II e médio; enquanto ela explicou que trabalhava como atendente de call center. Mas os dois não tinham falado absolutamente nada além do fato de que ele tinha muitos irmãos, e que ela só tinha um.

Tanto que Tainá nem parou para avaliar se o professor trabalhava na mesma instituição onde seu irmão estudava.

O rapaz que conheceu no bar foi a última das suas preocupações, quando Tainá pediu encarecidamente à chefe que a liberasse para ver o irmão no colégio. Em sua cabeça, repetia-se apenas uma pergunta: o que Anderson havia feito?

Ela sempre conversava com o irmão para que fosse um bom aluno e não se envolvesse em confusão, porque a bolsa de Anderson estava condicionada a não apenas um bom desempenho na escola, como também a um comportamento irretocável dentro da sala de aula. Por isso, Tainá ficou desesperada quando recebeu a informação de que o garoto estava na diretoria.

Porém, a tensão virou surpresa ao encontrar o homem com quem conversou no bar ao lado de seu irmão.

- Vocês se conhecem de onde? – foi o menino quem se manifestou, mãos na cintura.

- Em primeiro lugar, Anderson, eu quero saber o que que você tá fazendo na diretoria que me fez me descambar lá de meu trabalho para vir pra cá?

- Nada não, Tai, foi só um colega chato me enchendo o saco.

- Nem vem com esse "Tai", o que você tá fazendo na diretoria?

- Não se preocupe, Tainá. Tudo não passou de uma confusão entre garotos. Eu conversei com a diretora, ela e a inspetora envolvida entenderam a situação e ninguém será suspenso ou expulso. – Leonardo, com seu tom de voz calmo e pacífico, buscou tranquilizar a moça; ao mesmo tempo que procurava tranquilizar a si próprio por rever a jovem que mexeu tanto com ele.

- Suspensão? Expulsão? O que é que está acontecendo?

Anderson percebeu os dois se observando e conversando, e achou bastante curiosa a forma como interagiam, considerando que em tese eles não se conheciam. Ainda tentou insistir com a pergunta, mas Tainá parecia ignorar o adolescente. Como a irmã mais velha prosseguiu conversando com Leonardo, o menino se recordou de Tainá após sua saída para o bar no Rio Vermelho. Ela não comentou nada sobre a noite, apenas trocou alguma informação com as amigas pelo aplicativo de mensagens, e toda vez que o irmão tentava perguntar alguma coisa, ela falava de maneira enigmática:

- Sim, eu conversei com o cara na festa, mas nem comece a criar fanfic em sua cabeça!

No entanto, existia a possibilidade de que as desconfianças de Anderson fossem realidade.

- Anderson... - Léo direcionou o olhar para o garoto. - Você não tem uma aula para fazer agora?

- Verdade, professor, vou correr! Bom dia e boa sorte pra vocês, tô torcendo!

O garoto correu, animadíssimo, deixando o professor e a sua irmã completamente constrangidos após ouvirem as palavras encorajadoras do adolescente. Não conseguiam sequer olhar um para o outro.

- Eu peço desculpas pelo meu irmão. Adolescentes...

- Tudo bem! Eu tenho irmãos nessa faixa de idade... Todos são assim, e ainda convivo com adolescentes em sala de aula. Todos têm mais ou menos essa personalidade.

- Eu... - Ela segurou os dedos das mãos, puxando repetidamente, tentando encontrar algo para falar. – Então, o senhor dá aula pro meu irmão?

- "Senhor", não... A gente conversou dia desses...

Um novo amanhecerOnde histórias criam vida. Descubra agora