Um sucesso só

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Foi uma manhã de aulas bem animadas entre os alunos que acompanhavam a disciplina de música. Os adolescentes estranharam até mesmo o comportamento do professor Leonardo, sempre tranquilo e discreto, mas que naquela manhã sorria abertamente – tanto que o brilho dos olhos passava pelas lentes do óculos.

- Isso aí tem cara de mulher na área...- comentou Marquinhos, enquanto Lenita, sentada entre o garoto e Anderson, não disfarçou o horror ao escutar o comentário do colega:

- Que elegante e educado...

- Mas faz sentido... - comentou Deco. - Professor Léo não é casado, ninguém nunca ouviu falar de namorada... – coçou a cabeça. - Pode ser uma namorada. Pode ser um namorado também, porque a gente não sabe qual é a orientação sexual dele.

- A propósito, se o professor é homossexual, isso não é dá conta da gente. Professor Léo nunca ficou abrindo espaço para a gente ficar especulando sobre a vida dele!

- Você estraga a alegria das pessoas, né Lenita?

- Eu não tenho culpa, Marcos, se entre nós aqui eu sou a pessoa mais madura!

Curiosamente, Deco reconheceu aquele sorriso meio fácil e distraído do professor também em sua irmã Tainá; que desde sua saída para o bar no Rio Vermelho, ao invés de andar parecia flutuar pela sala pequena do apartamento.

Tanto é que a jovem até acompanhou o garoto na música que ele cantava no chuveiro, e ela conseguia ouvir da sala.

- Eu gosto dessa música, Deco! Tá cantando muito, hein?

- Esqueceu, Tai, que eu sou o futuro solista do coral do Colégio Global?

- Nunca, bestão! - a jovem deu um beliscão na bochecha molhada do adolescente. - Meu irmão caçula é: - listou contando em cada dedo. - jogador de futsal, futuro craque da seleção, bom aluno e um cantor maravilhoso! Eu só quero saber de onde veio tanto talento!

- Deve ter sido da mamãe!

Os dois riram, unidos na memória de uma pessoa que amavam muito. Após se acalmarem nas gargalhadas, Deco decidiu perguntar à irmã:

- Você não vai contar mesmo o que tá acontecendo?

- Sobre o que, moleque?

- O que teve no bar... Você chegou em casa, ficou só no celular com suas amigas, mas não disse nada. Tá com uma cara feliz de quem comeu e gostou!

- Mais respeito com sua irmã, menino! – Anderson respondeu com uma careta. – Humpf... O que eu posso dizer é que eu conheci um carinha, ele é simpático, bonito... Tem um jeito tímido... Eu curti. Ele é professor, um cara legal. Família grande, gente boa.

- Já tá de olho pra puxar o saco dos cunhados e do sogro, Tainá?

- Cadê o respeito por sua irmã mais velha?

Tainá intencionou correr atrás de Anderson, mas ele foi mais rápido, mesmo ainda úmido do banho. O garoto foi até o quarto para se ajeitar, mas ainda deu tempo de provocar por trás da porta:

- Esse cara pode ser legal, mas não tem professor melhor que o meu professor de música! O cara broca, Tai!

- Eu tô vendo que ele broca, até descobriu que você é artista!

- Oxe, eu não era o cantor talentoso há dois minutos atrás?

O humor de Tainá batia com o do seu professor de música; e de fato, Léo estava mais animado até mesmo na preparação do coral que se apresentaria pela primeira vez no chamado "Dia da Família", que ocorria em maio no lugar do Dia das Mães.

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