Uma mulher/Um homem chega.

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– Viu quem chegou? – Eren torceu o pirulito de um lado ao outro dentro da boca e se inclinou para Ilgaz, sussurrando.

O comissário de polícia não precisava que o investigador dissesse sobre o que a delegacia comentava a dias: a chegada de Ceylin Erguvan, a oficial que era afilhada do chefe de polícia. A mulher tinha a fama de ser intragável com os colegas e ter uma língua difícil de controlar. Irritável e protegida pela hierarquia, uma combinação que Ilgaz estava disposto a evitar.

– Eu não estou interessado em ver isso. Terminou o relatório do caso daquele advogado? Pars Savcı está no meu pescoço por esse caso e eu não quero ter de voltar à promotoria por causa disso.

– Allah Allah, abi, pode relaxar um pouco? A implicância entre você e Pars Savcı já está sendo comentada até por quem não conhece os dois!

– Não me importo com isso também, contanto que ele não me perturbe. Se Pars é assim sem que eu faça nada de errado, imagina se eu der motivos a ele. – Ilgaz bateu um calhamaço de documentos em cima da mesa para organizá-los e se levantou. – Traga o dossiê que falta, por favor, preciso terminar isso logo. – Concentrado em arrumar sua bolsa, Ilgaz não notou que o burburinho dentro da delegacia diminuiu de súbito, mas ergueu uma sobrancelha quando Eren se empertigou e respondeu:

– Como queira, Ilgaz Bey.

– Sağol. Bem, eu vou terminar esses em casa antes que a tropa de bajuladores da nova oficial chegue no escritório para lamber os sapatos dela. – Eren baixou a cabeça, parando de piscar alucinadamente – Essa delegacia vai se transformar em uma gaiola de periquitos barulhentos... e eu não quero estar aqui.

Ah ah, abi... – foi quando Ilgaz entendeu o que estava acontecendo. A sua cadeira foi puxada e o silêncio opressivo só foi rasgado pelo rangido de alguém sentando-se atrás dele.

– Meus sapatos não são muito agradáveis de lamber... – a ponta fina de um scarpin subiu por trás da coxa dele até parar na linha da cintura do comissário. – Veja... – Ilgaz se virou, encontrando uma mulher deslumbrante sentada em seu lugar, uma perna torneada erguida em sua direção. – Esses detalhes são chamados de "spikes". Eles ferem a língua dos desavisados. – Ilgaz baixou os olhos até a pele exposta e voltou a encará-la, sustentando um olhar cheio de animosidade enquanto tirava o pé dela de si.

– Eu sinto muito. – ele disse, mantendo a firmeza, então voltando a colocar os documentos na própria bolsa.

– Não, você não sente... – Ceylin se pôs de pé e puxou o distintivo do comissário de dentro do paletó pelo cordão, lendo o nome dele em seguida. – ...Ilgaz Kaya. – com um sorriso diabólico, ela colocou a identificação de volta no lugar e se inclinou para ele, falando baixinho: – Você vai sentir de verdade quando provar o gosto dos meus sapatos. – endireitando a coluna, Ceylin se despediu. – Senhores, foi um prazer. – ela acenou e virou-se para a saída, deixando-o no meio de uma plateia de policiais atônitos.

– Parece que começamos com o pé esquerdo, Ilgaz Bey. – rindo, Eren foi embora antes que o comissário descontasse nele o ocorrido.

~*~

– Querida! – a sala do padrinho tinha troféus e placas de prêmios por todos os lados, o que não intimidava Ceylin. Aquele era seu tio, seu protetor, mentor e amigo, e ali, nos braços dele, era como se fosse uma menina de novo, vendo a delegacia como seu playground predileto. – Como você está, kuzum? Como foi a mudança? – Ceylin deu de ombros.

– Fiz tudo com calma, meu chefe disse que seria como voltar para casa... e ele não sabe o quão certo ele está... – ela abraçou o tio com mais força. – Nós sentimos tanto a sua falta lá, tio, tanto!

– Eu também senti muito, kızım, eu senti muito... Já conheceu seus novos colegas? – a expressão de Ceylin endureceu na hora, lembrando-se daquele tal Ilgaz Kaya, mas ela forçou um sorriso para o tio.

– Não muito bem, mas eu cheguei apenas hoje, não é? Teremos muito tempo para conhecer a todos.

– Evet... bem... – o telefone em cima da mesa começou a tocar e para alcançá-lo o chefe acabou derrubando alguns papéis. Ceylin olhou para a mesa do tio e as pilhas de dossiês a fizeram apressar a despedida.

– Não vou mais interromper seu trabalho, tio. Vim apenas dizer 'oi', mas parece que o peguei em um período bem cheio...

– Não vou mentir pra você, kızım, estamos atolados naquele problema até o pescoço, por isso chamei você. É difícil confiar em alguém nesses tempos sombrios e eu preciso de alguém do meu lado para resolver essa situação... – alguém bateu à porta deles e Metin encerrou o assunto, demonstrando quão facilmente ele podia passar de tio amoroso ao respeitado chefe de polícia dentro da delegacia.

– Sem problemas, nos falamos em casa. – a tensão do tio, entretanto, se dissipou quando a pessoa à porta colocou a cabeça para dentro: Ilgaz Kaya.

– Desculpem, não sabia que estava ocupado, Metin Bey.

– Comissário, entre! Que oportunidade de ouro, eu gostaria de apresentá-lo à minha sobrinha, Ceylin Erguvan, que fará parte da nossa equipe. – a pequena serpente tinha um sorriso ardiloso no rosto ao cumprimentar o comissário, que apertou sua mão de volta com desgosto.

– São bons amigos, então, tio? – a pergunta tinha diferentes objetivos para cada homem no escritório. Ilgaz sentiu a provocação, a ameaça e a raiva da policial, mas o tio dela quis apenas assegurar a boa reputação que precedia o comissário.

– É um dos melhores homens que eu tenho, kuzum. Você pode confiar nele.

– Verdade? Hadi bakalım, tio.

– Eu sei que ela ainda não começou oficialmente, mas quero pedir que tome conta da minha sobrinha a partir de agora, Ilgaz. Sei que posso contar com você. – com um aperto amistoso no ombro do comissário, o chefe acreditava estar selando o começo de uma parceria de sucesso. O problema era Ilgaz saber que por trás do sorriso amigável que ela fingia para Metin, Ceylin na verdade queria era arrancar sua cabeça fora. 

Bir kadın/adam gelir PT BROnde histórias criam vida. Descubra agora