O necrotério era a parte mais afastada e desprezada do prédio, até por aqueles que trabalhavam nele. A morte não tinha o apreço de ninguém e aquele cadáver em especial deixava a equipe desconfortável, Ceylin notou assim que chegou ao local procurando por Berk, o seu comissário de polícia. Ele tomava o depoimento de Neva em uma sala separada e levantou-se assim que a viu.
– Ceylin Hanım, acabei de ligar para Ilgaz şefi, ele está a caminho daqui, mas Sila acabou de informar que os resultados serão liberados em até 48 horas, porque o estado do cadáver era muito precário... – Neva se levantou atrás dele, indignada com algo:
– Merve. O nome dela era Merve, era descendente de turcos, estava nos Estados Unidos em um intercâmbio e aceitou viajar achando apenas viria visitar parentes e voltar, aceitou por querer economizar milhas... – a cada palavra, a voz da promotora se alterava, mais e mais alta.
– Bayan Savcı, eu... – o comissário de Mardin gaguejou, sem jeito.
– Ela era só uma menina, você consegue entender? – Ceylin interviu:
– Berk, se já terminou com ela, eu assumo daqui... – Neva encarou a chefe de polícia com uma fúria mal controlada.
– Achei que a sua equipe era mais humanizada tendo uma mulher à frente, mas me enganei. O sistema realmente consegue vencer em qualquer lugar, apesar do gênero. – Ceylin enrijeceu o maxilar, travando a resposta mal criada que gostaria de dar.
– Tratar as coisas como são não significa desumaniza-las e ser profissional, mesmo na adversidade, é o que se espera de nós, enquanto força policial. Lamento que tenha perdido sua informante, Bayan Savcı. – Neva expirou, com escárnio.
– Informante, cadáver, bravo, Genel Müdürü... Merve nada além de uma função e uma estatística. – era compreensível que estivesse insatisfeita com a morte da garota, mas a paciência de Ceylin para aquele excesso estava quase no limite.
– Ela não era sua amiga. – Neva empalideceu. – Não era uma colega de trabalho, tampouco era uma conhecida. Não estou sendo desrespeitosa, Neva Savcı, mas a senhora está, e sendo grosseira com quem apenas está realizando o próprio trabalho. Sugiro que exerça da 'humanidade' que está em falta na minha delegacia, para o bem de todos. – as duas ouviram o burburinho da chegada de Ilgaz, mas Ceylin não se deixou intimidar pela plateia que se formara ante a discussão delas.
– Algum problema aqui? – o paletó e o cabelo em desalinho deixavam o chefe da gendarmerie com um aspecto selvagem de um jeito que Ceylin conhecia e ela recuou dois passos para longe dele, esquecendo imediatamente de Neva e da discussão que estavam tendo, mas não por desejo e sim por sentir o cheiro de álcool no hálito dele.
– O que significa isso, Ilgaz Bey? – Eren entrou logo atrás dele, desejando "Boa noite" discretamente. – Veio para a delegacia direto de um bar?
– Eu poderia ter passado no hotel, mas ainda estava por perto... – como ela continuou olhando para ele de cara amarrada, Ilgaz se exaltou também: – Não estou bêbado, Ceylin!
– É inacreditável...
– Por favor, chega vocês dois! – Neva queria explodir e gritar. Era o que faltava, Ceylin e Ilgaz trocando insultos depois da notícia horrível que deu a ele e a Eren por telefone.
– O que houve, Ceylo? – o comissário de Istambul ignorou a briga que surgiria e Ilgaz se afastou para abraçar a promotora, sabendo que ela estava com os nervos em frangalhos. Ceylin engoliu a intimidade deles a seco.
– Ainda não soube detalhes completos, acabei de chegar. Berk me ligou quando já estava em casa sobre o carro do cara sérvio. Foi incendiado na estrada mais afastada da cidade com uma pessoa dentro.
– Merve. – Eren constatou com pesar e Ceylin assentiu, finalmente demonstrando para o amigo que estava desolada com o ocorrido.
– O estado do cadáver não é dos mais fáceis de analisar, pelo que ouvi.
– Pelo menos se houver alguma amostra de DNA poderemos confirmar a identidade, ela era metade turca e possui registros no banco de dados nacional. – ele apalpou os bolsos atrás de um isqueiro. – Essa porcaria some toda vez que preciso de um trago...
– Bebida e agora cigarro, Eren? Minha delegacia não é o seu hotel. – Ceylin implicou com o amigo, mas Ilgaz se doeu por ele.
– Agora que é chefe de polícia realmente se acha a dona do lugar, não é mesmo? - a bebida rodeava os pensamentos e os empurrava para fora, mas Ceylin estava exausta de se segurar o dia inteiro:
– Tabiiki. – assentiu, indo até ele, de cabeça erguida e queixo empinado. – Bu kadar. E se contestar mais um pouco o modo como lido com a minha delegacia, vai aguardar no hotel o resultado.
– Não vou ficar aqui de braços cruzados enquanto vocês agem como crianças! Preciso de uma guarnição que me leve ao local do crime. – Neva encarou Ceylin, colérica. – Hemen!
– Não é trabalho da promotoria perseguir culpados por conta própria, acalme-se e aguarde a ação da polícia, Neva Savcı! – a chefe tentou conter os ânimos exaltados da Promotora, mas apenas a inflamou mais:
– Então considere fazer o seu trabalho ao invés de perder nosso tempo em conflitos desnecessários com Ilgaz, Ceylin Hanım! – Neva apontou o dedo no rosto de Ceylin com raiva e deu as costas, antes que perdesse a cabeça de vez, Ilgaz partindo atrás dela, não sem antes dar uma última olhada crítica na chefe de polícia.
– Yaa! – foi a única exclamação incontida que Ceylin deixou escapar antes de alguém tocar em seu ombro com cautela, puxando-a de lado.
– Ceylo, não... releve, por agora. Neva vinha conversando com essa moça há quase dois meses e tinha muita esperança de conseguir resgatá-la, por isso está tão abalada. – Eren passou a mão no rosto, cansado e cheio de olheiras marcadas, como o de Ceylin.
– Neva Savcı está agindo como se a culpa fosse da minha equipe, sendo que há meses estávamos procurando por pessoas sem rosto. Que imagem farão de nós na gendarmerie ou na Interpol? "Policiais caipiras deixam quadrilha de tráfico humano escapar em Mardin", é isso que ela quer acusar?
– Não é culpa nossa, entende? Você sabe que o que acontece de ruim é culpa da maldade desses homens. Quando Neva cair em si, ela por si só pedirá desculpas, agora deixe de ser cabeça-dura e me arranje um café decente, eu imploro... – Ceylin expirou com força e se deixou ser conduzida por Eren até a bancada com a cafeteira.
– Devia deixá-lo miserável desse jeito para não desperdiçar o seu descanso bebendo, Erencım.
– Ah, não seja cruel, minha rainha... – em silêncio, os dois tomaram o café e Ceylin vigiou a porta, como se os esperasse voltar, de um jeito que fez Eren ter certeza sobre o que havia dito a Ilgaz: Ceylin não havia esquecido seu amigo. – Gostaria de ter reencontrado você de uma outra forma, Ceylo. Fiquei muito triste pelo modo como foi embora. – ela baixou o olhar, envergonhada.
– Digo o mesmo. Mas era para ser assim, não teria a vida de agora se tivesse ficado naquela situação em Istambul. Foi melhor desse jeito.
– Não pensa em como poderia ser hoje, se tivesse ficado? – com o queixo o comissário apontou para a porta, claramente mencionando Ilgaz.
– Do que me serviria imaginar tanto, Eren? Sabe que nunca fui de ter a cabeça nas nuvens. – ela sacudiu a cabeça. – E nunca teria dado certo...
– Talvez. Soube que tem uma filha. – Ceylin engoliu em seco, subitamente nervosa, a mudança brusca de assunto pegando-a desprevenida. – Quantos anos ela tem? – mentir ou não mentir, eis a questão: uma palavra com qualquer pessoa que a conhecesse e seu segredo cairia por terra, por isso Ceylin diria a verdade e rezaria para que Eren não descobrisse tão rápido.
– Oito. – "Droga." Deus não estava afim de atender suas preces, ela constatou assim que Eren pareceu ser atropelado com um trator pela resposta.
– Allah Allah, Ceylin, ele vai enlouquecer quando descobrir! – e nenhum dos dois percebeu quando ele voltou e se colocou atrás deles:
– Quem descobrir o quê? Do que vocês estão falando?
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Bir kadın/adam gelir PT BR
FanficEle era o chefe de operações de uma organização policial que investigava corrupção dentro da instituição, e ela era um dos principais suspeitos do esquema. Depois de usar todas as armas para proteger seus segredos, incluindo a sedução mútua, os cami...