Esse problema é aparentemente impossível de resolver

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– Não deveríamos parar primeiro no hotel e nos recompor? Estamos esgotados da viagem... – Neva não era de reclamar, mas todos os atrasos que enfrentaram desde a saída de Istambul até chegarem a Mardin realmente sugaram todas as suas forças. Ilgaz, entretanto, solicitava um carro com urgência, não querendo esperar mais nenhum minuto para chegar ao local da missão.

– Eren deixou a Chefe de polícia e a equipe de sobreaviso da nossa chegada, estão nos aguardando todo esse tempo. Não seria justo deixá-los plantados lá. – a promotora então assentiu, pensando em como Ilgaz era atencioso, mas captou uma troca de olhares esquisita entre o comissário e ele, como se toda aquela consideração fosse... outra coisa.

Não gostou da sensação.

O dia era uma provação à parte, o calor de junho em toda a sua potência fazendo o sol brilhar acima do carro como se quisesse assá-los vivos no veículo, o ar-condicionado mal dando conta deles quatro – um outro policial de Mardin destacado para levá– los até a fronteira dirigindo, Eren no carona mais Ilgaz e ela no banco de trás, mas enquanto ela só queria um banho e descansar, quanto mais perto do destino chegavam, mais animado ele parecia ficar. Ansioso, batendo os dedos nos joelhos, até mesmo rindo da conversa descontraída entre o comissário e o policial. Ilgaz não tinha um riso fácil, mas porque aquilo a incomodava?

– Estamos chegando, Sayın Şefi. – o policial disse e ela ouviu Eren murmurar: – "Espero que guarde a língua dentro da boca e não fique babando como antes." Ilgaz assentiu e mandou um olhar assassino para o amigo.

Sus, Eren, sus. – dois Jeeps imensos estavam parados na guarita da fronteira, Ilgaz e Eren desceram logo para encontrar o pessoal e a promotora esperou a poeira que o carro levantou baixar antes de sair do veículo. Não queria parecer mais desarrumada e suja na frente dos policiais, mas um casal discutia tão intensamente que nem os ouviram chegar. E ao se aproximar, Neva entendeu que não era uma discussão: era um massacre.

– Mas o chefe da gendarmerie... – o rapaz parecia assustado ao argumentar.

– Umutcım... nem que o próprio Erdogün viesse em pessoa, eu os manteria aqui. Estamos cansados, temos outras pendências na cidade e não somos muitos. Quem esse homem pensa que é? – aquela devia ser a Chefe da Polícia de Mardin, porque nada justificava a ousadia na fala de uma oficial qualquer. – Não tenho uma equipe de lambe-botas, são homens sérios. – Neva deixou o queixo cair um pouco antes de relancear o olhar para Ilgaz e encontrá-lo rindo em silêncio, mas tanto a ponto de jogar a cabeça para trás e ela não entender mais nada de vez:

– Meus sapatos também são sérios, custaram quase dez mil liras na Vakko. Mas não se preocupe, não vou lhe oferecer para lambê-los, Ceylin Hanım. Aprendi minha lição. – ao invés de repreendê-la, um gracejo! Neva viu a expressão da mulher mudar completamente. Estreitando os olhos verdes, Ceylin perdeu a postura de briga e encarava Ilgaz como a última pessoa que esperava ali, mas não com constrangimento: era como se visse um fantasma e o ar entre eles ardia como se estivessem sozinhos no meio do deserto.

– Minha rainha, quanto tempo! – Eren quebrou a tensão ao abrir os braços indo até ela, que o enlaçou de volta timidamente. – Senti a sua falta, pequena, seni çok özledim, Allah Allah!

– Eren... Merhaba! – ela reparou então no crachá que ele mantinha no pescoço: – Komiser? – ele assentiu, orgulhoso. – Tebrikler!

– Chefe de polícia! – Ceylin baixou os olhos, humilde. – A melhor que Mardin poderia ter, não duvido. – Umut discordava, mas vendo a interação entre eles preferiu se manter quieto e fora do radar dela. Neva então pigarreou e o comissário se apressou em apresentá-las. – Ceylin Hanım, Neva Savcı, a responsável por nossa investigação civil.

– Muito prazer. – elas trocaram um aperto de mão polido e mediram-se, com discrição, até a atenção de Ceylin voltar para Ilgaz, parado com as mãos nos bolsos e Neva franziu o semblante. "Quem era aquela mulher?"

– Peço desculpas pelo nosso atraso, houve um imprevisto com o nosso voo. – a promotora deu um sorriso fraco e Ceylin assentiu, mas não desfez a carranca.

– Entendo que foi algo acima do seu poder, mas não podia manter meus homens aqui, depois de uma vigília tão intensa na fronteira, por isso acabo de mandá-los de volta para casa. – Ilgaz tirou os óculos e ela prendeu um suspiro de... luxúria? Como ele poderia estar tão mais... másculo? Os anos que passaram pelo ex-comissário só fizeram bem a ele.

– Dispensou os homens sem nos consultar, sendo que recebeu ord... – a língua não freou a tempo – instruções expressas de que deveríamos vê-los ao chegar?

– Dispensei. Pode me processar, se não gostou. – ela devolveu, secamente, e Eren riu dos dois, nostálgico.

– É como estar na delegacia de Istambul novamente, não mudou nadinha Ceylin! – "Então... é uma amizade antiga?" Neva ainda se questionava.

– Gostaria que eu não tivesse mudado, mas... – foi a única resposta.

– Pois parece que nada mudou mesmo, já que mal cheguei e já está fazendo as coisas pela sua cabeça. Era importante encontrá-los agora, Ceylin... – o nome escorreu com a intimidade de quem já conhecia o outro por inteiro e ela estremeceu. Mas Ilgaz não podia ter tanto poder assim, não tanto tempo depois e Ceylin não podia deixá-lo se aproximar demais, não quando havia o passado entre eles e todas as consequências... Era muito arriscado... Por isso se proteger com a sua personalidade difícil era o caminho mais seguro:

– Assim como a troca do plantão deles, Sayın Şefi. E porque não os dispensaria, já que estamos a duas semanas buscando algo sem sucesso? Ao menos hoje, veja a situação de acordo com as necessidades deles e não apenas as suas, não vamos resolver nada mesmo... Devemos escoltá-los para a cidade agora e amanhã apresentarei a equipe destacada para a sua missão. – e fazendo uma mesura pobre para Neva, Ceylin se despediu. – Vamos, Umut, ainda não terminamos nosso trabalho. – ela deu dois passos em direção ao jeep, até a voz de trovão fazê-la parar no lugar.

Ceylin Hanım. – com toda a má vontade que pôde reunir, ela se virou para Ilgaz, cerrando os punhos. Ele havia afrouxado a gravata e aberto o paletó, como se estivesse se preparando para comprar a briga que ela queria. – Sabe do que se trata essa operação? – Ceylin franziu o cenho, lembrando que a Procuradoria havia mandado um comunicado a respeito duas semanas atrás, mas algo na expressão de Ilgaz gelou seus ossos.

– Tráfico. – Neva suspirou, condenando-se pela falta de detalhes no email.

– Evet, tráfico. Mas não de drogas, Ceylin. De pessoas.

Ne?!

– Neste exato momento um comboio cheio de mulheres traficadas para a prostituição ou algo mais grave está na iminência de cruzar a fronteira. Se os perdermos, a culpa será sua.  

Bir kadın/adam gelir PT BROnde histórias criam vida. Descubra agora