Uma outra vez

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– Foi minha culpa, Ilgaz... – Neva chegou mais perto dele, colocando a mão em seu braço e Ilgaz precisou se esforçar para não enxergar mais tudo em vermelho. Eles estavam a dias e noites sem dormir, trabalhando para resgatar aquelas mulheres, para que Ceylin e sua teimosia as perdessem. Deu dois tapinhas amistosos onde a promotora o tocava, indicando que estava mais calmo, mas foi olhar para a chefe de polícia à sua frente – que os encarava com uma expressão nada amistosa, cheia de desdém – e seu sangue esquentou de novo. – Tive medo que interceptassem a mensagem, fizessem alarde e vazassem a informação, por isso não expus muitos detalhes no pedido de cooperação com a polícia de Mardin. – a corrupção era um combate antigo dentro da instituição, Ceylin e Ilgaz podiam entender a hesitação da Promotora. Mas não conseguiriam uma cooperação eficiente em meio a tantos segredos e, dado o olhar raivoso que trocavam, nem em meio tanta animosidade.

– Isso não exime a Chefe Ceylin da própria conduta. Precisa entender que não é a comandante dessa operação, Ceylin Hanım.

– Oh, pardon! – eles nem ao menos perceberam quando se aproximaram o suficiente para que Ilgaz visse os olhos dela faiscando sua revolta, como se gravitassem um ao redor do outro. – Não sou estúpida a ponto de ter arruinado uma operação desse porte sem motivo, apenas não sou insensível a ponto de achar que minha equipe é feita de robôs! E foi seu o atraso!

– Wallahi, não é hora para isso! Abi, Ceylin, lütfen... – imediatamente ela pareceu cair em si e se afastou, como se percebesse que não valia a pena.

– Vamos voltar para a cidade, Ilgaz, Eren... – Neva intercedeu, voltando a tocar Ilgaz com intimidade. – Precisamos conversar sobre o trabalho, sem perder a cabeça. – dirigindo-se para o próprio carro, Ceylin não emitiu mais nenhuma palavra, prometendo-se que não daria a ele o poder de virar sua cabeça novamente, porque sabia onde aquilo ia levar: paixão e arrependimento.

~*~

– Vocês pareciam muito próximos. – Neva disse, tímida. Dividia um chá com Eren no lounge do hotel, enquanto Ilgaz fazia o check-in deles na recepção.

– Ah sim. É uma amizade antiga, mas especial. Ceylin é uma amiga muito querida, tenho um carinho enorme por ela e estou feliz de revê-la.

– Mas Ceylin e Ilgaz... quer dizer, ela não parece estar muito feliz de reencontrá-lo. – Eren sabia onde Neva queria chegar, mas não queria se comprometer naquela história. Já tinha escolhido sua favorita.

– É uma... – como se fazer entender? – amizade diferente ali, não é fácil para mim explicar. É coisa deles...

– Oh, pardon, estou sendo intrometida... – a promotora escondeu o rosto atrás do copo de türk çayi e Eren gesticulou, alarmado:

– Não, não, canım, não existe tal coisa... é só que... Somos todos adultos aqui, certo? Você enxergou o mesmo que eu. – o comissário pontuou, com carinho e tristeza tingiu os olhos de Neva. – Ah, querida, não vá por esse caminho... não chore. – ela sacudiu a cabeça para espantar as lágrimas, resistindo.

– Não vou, prometo. Eren... é ela, não é? A mulher que ele nunca esqueceu e o deixou frio desse jeito. – o comissário deu um meio sorriso tímido.

– Você não vê frieza nele quando se trata da Ceylo... Já faz muitos anos, mas essa história ainda não acabou. Foram circunstâncias injustas que separaram os caminhos deles e agora parece que o destino os colocou de volta em rota de colisão, mas me parte o coração saber que você está perdida no meio disso... – com um pigarro, Neva impediu que ele continuasse e Ilgaz chegou perto deles, entendendo as chaves dos quartos.

– Podem subir. Nevacım, sei que está esgotada... – deu um aperto amistoso no ombro dela, sorrindo, e a promotora prendeu um suspiro dolorido. – Descanse, tente dormir um pouco. – ele mesmo gostaria de descansar, mas estava agitado demais para isso. Queria resolver uma questão e logo.

– Não vai subir, abi? – Eren deu voz à curiosidade da amiga e Ilgaz fez que não com a cabeça. – Precisa de companhia? – outra negativa.

– Descanse você também, só vou adiantar algumas coisas do trabalho. – o comissário não riu ou gracejou em respeito a Neva, que aproveitou a deixa para sair dali. Mas assim que a promotora estava longe suficiente, Eren atacou:

– İş, tabii ki iş... Mande meus cumprimentos para Ceylin entre um trabalho, discussão e outro trabalho, lütfen... – e lá estava Ilgaz, rindo de novo.

~*~

A Artuklu Polis Merkezi trabalhava em um ritmo completamente diferente do caos de Istambul, refletindo o senso de organização da Chefe de Polícia. Não havia sujeira, papéis amontoados ou policiais trabalhando em meio à cacofonia desesperada e por um momento Ilgaz pensou ter entrado no lugar errado.

– Hoşgeldiniz, deseja falar com quem? – uma oficial perguntou na recepção. Ele mostrou sua identificação antes de responder:

– Genel Müdürü Ceylin Erguvan. – após interfonar para a Chefe, a moça conduziu Ilgaz pelos corredores até a sala de Ceylin. Era nítido o desagrado na expressão dela enquanto aquele homem tomava conta da delegacia de Mardin com sua presença. – İyi akşamlar.

– Para quem? – Ilgaz suspirou e sem que ela convidasse, sentou-se.

– Por Allah, Ceylin, não vim discutir com você, vim me desculpar. – aquela maldita sobrancelha arqueada, desafiando-o, que Ilgaz sentia diretamente no meio das pernas. Como poderia ter se enganado, dizendo que seria fácil reencontrar aquela mulher e trabalhar com ela, se todos os anos que haviam passado se resumiram a dia nenhum?

– Há quanto tempo sabia que eu estaria aqui? – cirúrgica, ela não se deixou abalar por aquela expressão de cordeiro. Sabia bem o lobo que se escondia por trás daqueles olhos.

– Acha que forjei uma operação falsa por sua causa?

– Não foi o que perguntei.

– Desde sempre. – não era mentira. Quando Eren falou sobre pedir apoio à polícia de Mardin, Ilgaz sabia que teria de lidar novamente com ela, sabia que a possibilidade de se encontrarem era enorme, mas jogou para o Universo e aguardou. – Mas se quer saber especificamente se eu sabia que trabalharíamos juntos, não exatamente. Havia uma chance, mas não foi algo planejado. – desconfiada, Ceylin se recostou na própria cadeira, considerando. Algo no seu campo de visão, porém, a fez enrijecer no lugar e Ilgaz sentiu que não adiantaria de nada seu pedido sincero, mas o fez mesmo assim: – Começamos com o passo errado, novamente, mas não precisamos entrar em guerra como da última vez.

– Não foi uma guerra justa, Ilgaz. – ela levantou, derrubando coisas de sua mesa com uma precisão disfarçada de trapalhada. – Minha reputação ficou manchada, minha vida precisou ser refeita do zero e você colheu todos os louros por dissolver a máfia Tilmen. Não pode me culpar por dispensar essa "oferta de paz." – fez as aspas com os dedos e voltou a arrumar os enfeites que caíram na mesa, exceto um porta-retrato, que por pouco não havia quebrado no chão e que agora repousava nas mãos de Ilgaz, ela constatou com terror.

Nele uma foto de Ceylin com uma menina no colo, abraçadas sob uma faixa escolar: "Dünyanın en iyi annesi için: Anneler Gününüz kutlu olsun"¹.

– Mãe? Ne demek anne misin, Ceylin? 


"Para a melhor mãe do mundo, feliz dia das mães!"¹

Bir kadın/adam gelir PT BROnde histórias criam vida. Descubra agora