A missão chegou por meio de um certificado de bons serviços prestados: Ilgaz Kaya, comissário de polícia de Istambul, estava sendo convidado a receber uma medalha de honra ao mérito por seus dez anos na polícia das mãos do chefe da gendarmerie turca. O convite tinha data e horário, o local sendo o próprio escritório de Yekta Bey, com um número limitado de convidados que o surpreendeu um pouco. Se não estivesse assinado à mão pelo chefe da gendarmerie, Ilgaz não saberia quão sério e oficial o documento era.
No dia da premiação, tendo apenas Eren ao seu lado, Ilgaz foi condecorado perante os veteranos da corporação, recebendo um pedido especial para conversar privadamente com Yekta.
– Acho que alguém será promovido para a gendarmerie... – Eren especulou, mas Ilgaz não esperava tanto.
– Não acho que seja isso, essa situação toda está esquisita. Mal conheço as pessoas daqui... apenas Yekta.
– Não seja modesto, abi, Yekta é o chefe de todos. É o suficiente. – Ilgaz estalou a língua, dando pouco crédito, mas logo o assistente do chefe da gendarmerie se aproximou para conduzi-lo ao escritório de Yekta Bey.
– Parabéns pelo seu prêmio. – o chefe da gendarmerie turca começou. – Teşekkürler. – Yekta indicou a cadeira à sua frente e Ilgaz se sentou, desconfortável com o olhar estranho que recebia, mas apesar disso o chefe seria objetivo.
– Fui seu instrutor na academia durante uma formação policial, não sei se lembra. – Ilgaz sinalizou que lembrava, mesmo tendo sido a muitos anos atrás. – E acompanhei cada um dos seus anos dentro da força policial com atenção, comissário. Às vezes é difícil ter olhos em todos os lugares e saber todas as coisas. cada delegacia e equipe contam com pessoas as quais podemos ou não ter visto desde o começo da carreira. Outras, nunca ouvimos falar, mas estão lá atuando. Deve imaginar que a polícia de Istambul tem atenção redobrada, é o coração da Turquia, deve ser referência para as outras e conta com o apoio do parlamento e do governo diretamente. – a cada sentença, Ilgaz assentia em concordância, até que o chefe disse: – E está passando por um caos de corrupção jamais visto antes.
– Senhor...? – surpreso, Ilgaz se empertigou na cadeira e Yekta continuou.
– A gendarmerie turca é preparada para ameaça externa ao país, mas estamos em uma situação tal que as máfias turcas, a parte podre do povo, se infiltrou de forma tão gritante dentro da polícia que beira a guerra civil. E já não estamos conseguindo manter essa guerra silenciosa e discreta. Você vê os jornais. Você observa no povo a insatisfação com isso, sente que o governo está pressionado e as pessoas com medo.
– Compreendo o problema, mas onde estamos querendo chegar, Yekta Bey?
– Estamos falando de algo grande, Comissário, algo que toca nas bases ideológicas da nação, que rouba a segurança do nosso povo. Tendo observado sua trajetória com atenção, Ilgaz, posso afirmar que é o mais indicado para chefiar uma operação dentro da polícia, para que seja meus olhos e ouvidos, com discrição para que a parte corrupta da equipe não desconfie que estamos investigando um esquema ligado à máfia de narcóticos e que está financiando um golpe contra o presidente. – a situação se assentou devagar no entendimento do comissário, mas ambos estavam se encarando com sobriedade. – Precisamos expurgar esse mal e quero contar com você, Comissário.
– Pode contar comigo, senhor. – o aperto de mãos entre eles dava início a uma inquisição de dentro para fora na polícia, uma operação de porte jamais visto antes na Turquia.
E Ilgaz chefiaria tudo desconfiando até da própria sombra.
~*~
As semanas de adaptação de Ceylin foram um tormento para todos os envolvidos, mas especialmente para Ilgaz foram o inferno na terra.
A oficial queria saber de tudo, repassar tudo, fiscalizar tudo e apontava cada erro, de cada pessoa, citando o código de conduta da polícia e a Constituição como um fiel citando o Kuran e parecia se divertir ao chamá-lo de cinco em cinco minutos para ajudá-la a se ambientar.
– Komiser Kaya, notei que o registro geral de visitas aos presos da delegacia está desatualizado a duas semanas, pode me informar o responsável para que eu pegue o mais atual? – rolando os olhos pela enésima vez, Ilgaz girou a cadeira para olhar a policial, esquecendo-se que prometeu ignorá-la. De novo.
– Pensei que já tivesse designado um estagiário para esse tipo de solicitação, Ceylin Hanım, o que houve com o policial Mert? – Ceylin sorriu, com aquela eterna expressão maliciosa de quem queria tirá-lo do sério, o que fez o comissário lembrar porque ignorar a oficial era tão importante: para além de querer irritá-lo, ela conseguia.
– Ele acabou de sair, era hora da troca de turno, coitadinho. – jogando o cabelo para trás de um jeito muito informal, ela acrescentou o veneno: – Nem todos são com o senhor, comissário, emendando ou pulando horários no trabalho quando bem entende. – Ilgaz segurou o palavrão que queria escapar e suspirou.
– Creio que eu não precise reportar meus horários a você e sim ao seu tio, Ceylin Hanım, ele é o chefe. – mas assim como Ceylin se aproveitava da posição do tio para aborrecê-lo, Ilgaz se fazia valer do próprio cargo e da amizade com Metin para responder adequadamente e àquela altura, todos já estavam se acostumando a uma troca de farpas diária entre a oficial e o comissário.
– Allah Allah, polis hanım, se me permitir ajudá-la, terei prazer em encontrar o registro dessa semana para a senhorita, é só me dizer qual o período deseja ver... – Eren também estava fazendo malabarismos pela delegacia para evitar que as discussões "sadias" de Ceylin e Ilgaz não acabassem em uma situação insustentável de tão desagradável.
– Çok teşekkürler, Erencım! Çok! – pendurando-se no pescoço de Eren, Ceylin encarou Ilgaz com todo o desprezo que conseguia reunir. – Pelo menos alguém se interessa em ajudar a equipe... – e antes que o comissário perdesse de vez a paciência, Eren saiu rebocando a policial.
– Buyurun, canım... – mas quando estavam prestes a sair do escritório do comissário, Ilgaz perguntou:
– Pra que você quer esse registro em específico? Não me recordo de nenhum caso que você esteja em que o preso tenha passado apenas uma semana ou duas aqui antes de ser liberado. – e se não tivesse se acostumado às respostas rápidas de Ceylin, ele não teria notado que a policial gaguejou e empalideceu antes de responder:
– Creio que eu não precise reportar meus casos a você e sim ao meu tio, Ilgaz Bey. Ele é o chefe... – desconfiado e maldoso, Ilgaz se debruçou na direção dela, pronto para incomodar.
– Somos todos colegas aqui, não precisa ficar na defensiva. A cinco minutos você queria tanto o meu empenho em ajudar a equipe, sou todo ouvidos agora, hadi...
– Não se esforce tanto, komiser, ou vou pensar que hoje é quando estará disposto a lamber meus sapatos. E nem estou com o par adequado.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Bir kadın/adam gelir PT BR
FanfictionEle era o chefe de operações de uma organização policial que investigava corrupção dentro da instituição, e ela era um dos principais suspeitos do esquema. Depois de usar todas as armas para proteger seus segredos, incluindo a sedução mútua, os cami...