Capítulo 10

136 23 7
                                    

Eles chegaram na mansão dos Santori pouco depois das 10h da manhã, Lleaud tinha consciência de que a família de seu companheiro era rica, mas não imaginava que seria tanto. Ele precisava de um carro para atravessar todo o caminho que levava do portão à entrada da casa, sendo "casa" uma ofensa ao monumento que se levantava à frente dele.

-Seja bem-vindo! Os senhores está esperando você na sala - um senhor elegantemente vestido os recebeu.

Félix nem o cumprimentou, passou direto pelo o que seus companheiros imaginavam ser o mordomo, e ambos seguiram atrás dele ignorando o fato de que o homem não havia se dirigido a eles em nenhum momento. Muriel engoliu surpresa com a semelhança entre Félix e a mulher sentada no sofá, os olhos, o formato do rosto e boca, quase todos os traços de seu companheiro pareciam uma cópia bem feita de quem a shifter suponha ser sua "sogra".

-Se não me falha a memória, o combinado foi a reunião ser com você - o homem sentado de frente para eles falou sem os cumprimentar.

Ele sequer levantou os olhos do tablet em suas mãos, permaneceu concentrado no que quer que estivesse fazendo.

-Eu também não me recordo de aceitar ser representante legal da Land ou da sua empresa, mas estou aqui para essa reunião, não estou? - Félix revidou.

-E esqueceu de trazer seus bons modos com você, pelo o que pude observar - a mulher falou.

-Que educação? A que vocês acham que me deram ou a que eu tive que aprender sozinho?

Lleaud olhou para Muriel, aquilo não começou bem, eles podiam sentir a tensão e estresse que emanava de Félix, sem contar no frio gélido dos pais em relação a ele, a raiva de seu companheiro estava tão perto de sair do controle que Lleaud resolveu intervir.

-Estamos acompanhando Félix por motivos pessoais, os assuntos da Land serão resolvidos entre vocês.

-Motivos pessoais?

A mulher repetiu, o pai de Félix finalmente levantou o olhar do aparelho e olhou para eles. Félix retribuiu o olhar gélido, ele não era mais uma criança assustada com medo dos métodos loucos dos seus pais, poderia revidar sem medo das consequências, se fosse muito honesto consigo mesmo, não era ele que deveria ter medo. Seus pais criaram um monstro e, para o bem deles, eles deveriam rezar para que ele nunca saísse da caixa.

-O motivo pessoal deles é não querer deixar o companheiro humano sozinho com os pais psicopatas. Vamos aos termos do acordo?

Muriel e Lleaud quase se engasgaram com a sinceridade bruta de Félix, ele sentou em uma das poltronas e cortou o assunto sobre seus companheiros. O casal assumiu a mesma postura que ele, segundos antes de começarem a conversar sobre o fim do contrato com a Land. Muriel já tinha visto muitos advogados com décadas de experiência discutindo sobre termos de contratos ou sentenças, seu companheiro daria orgulho a cada um deles, Félix questionava e debatia cada parágrafo no contrato que Laurent havia assinado antes e como seria redigido o termo para finalizá-lo, se ela não soubesse a área de trabalho de seu companheiro, ela juraria que ele estava inclinado à advocacia. Foi dada apenas uma pausa quando o mordomo voltou a aparecer anunciando que o almoço já estava servido, a refeição toda foi feita em silêncio, a enorme mesa fazia parecer um almoço triste e solitário, mas eles preferiram não dizer nada, afinal, aquela era a casa da família de seu companheiro. A decoração sofisticada só aumentava a sensação de solidão que todo o ambiente passava, era como se a casa milimetricamente decorada e organizada houvesse sido projetada para ser uma casa de bonecas, com uma vida de faz de contas, onde alguém moveria todos os moradores como marionetes e, se não fosse a energia negativa e tensa que eles podiam sentir emanar de Félix desde que ele pisara ali, talvez Muriel e Lleaud dessem ao casal o direito de provar que não era bem assim.

Quando eles voltaram para a sala a discussão continuou da mesma forma que se iniciara durante a manhã. Lleaud não sabia que haviam tantos termos a serem discutidos assim em um contrato e permaneceu focado em seu tablet, aproveitando o tempo disponível para atualizar alguns dos programas de segurança da Land, assim como Muriel, sentada ao lado dele, fazia com seus casos e tentando se manter atualizada sobre o sequestro de Hannah e Chaos, enquanto ambos se revezavam para atualizar Laurent. Já estava quase anoitecendo quando o celular da shifter quebrou a concentração do linhagem e fez Félix olhá-la confuso. Muriel pediu licença e saiu, Lleaud pôde ouvir quase toda a conversa, e respirou aliviado ao mesmo tempo em que seus instintos o pediam para impedi-la de fazer o que Sebastian lhe pedia, mas ele sabia que seria inútil tentar fazer isso.

-Eu preciso ir - Muriel falou para Lleaud e Félix quando voltou para sala - Encontramos Hannah e Chaos.

Félix assentiu os olhos fixos em seus pais, ele respirou fundo, trincando os dentes em resposta à reação inerte deles. Ele conhecia aquela expressão vazia em seus rostos, o humano virou o olhar na direção de sua companheira e forçou um sorriso.

-Traga-os vivos e volte inteira, ou vou precisar de um ótimo advogado - ele tentou colocar um tom de brincadeira em sua voz, mesmo sabendo que era verdade o que estava falando.

-Mantenham-me informada, amo vocês.

-Nós também te amamos - Lleaud respondeu.

Muriel deu um beijo rápido em seus companheiros antes de correr porta afora. 

-Vamos encerrar por aqui. Ainda tenho um quarto ou precisamos voltar amanhã? - Félix perguntou olhando diretamente para sua mãe.

Lleaud manteve a expressão tranquila, mesmo estando surpreso com a sugestão de seu companheiro de passarem a noite ali.

-Você é nosso filho, seu quarto permanece da mesma forma que o deixou - ela respondeu.

-Ótimo! Vou passar na cozinha para pegar algo para comer e vamos no recolher, terminamos de discutir as cláusulas amanhã depois do café.

-Seus irmãos irão chegar em alguns minutos, podemos esperar para comermos juntos - seu pai argumentou.

-Não tenho mais nenhuma vontade de socializar com pessoas que não gosto, passar o dia com vocês já foi o suficiente para minha bateria social, se eles quiserem falar comigo vão precisar esperar o sol nascer novamente. Tenham uma ótima noite.

O linhagem não conseguia se acostumar com a troca de alfinetadas entre pais e filho, mesmo tendo passado o dia com eles, ainda era chocante ver a interação problemática deles. Ele seguiu seu companheiro e o viu fazer exatamente o que disse que faria antes de subir dois lances de escadas em direção ao antigo quarto de seu companheiro. Depois do banho, ele esperou por Félix enquanto olhava ao redor, o antigo quarto de seu companheiro era pintado em tons de verde, estrelas fluorescentes brilhavam no teto, iluminadas pela luz fraca que entrava pela janela, na parede ao lado da cama estava uma moldura dourada que deixava exposta diversas medalhas, ao lado das prateleiras que sustentavam diversos troféus. Lleaud estava tão disperso com a decoração que só percebeu que seu companheiro havia saído do banho quando ele começou a subir em seu colo, ainda molhado e completamente nu, ele gemeu quando Félix beijou seu pescoço.

-Félix, essa é realmente uma boa ideia? - Lleaud perguntou.

-Depende, querido.

Lleaud precisou se esforçar para se concentrar no que seu companheiro falava, seu olhar prendeu em um objeto preto nas mãos do humano. Um chicote, com várias linhas em sua ponta, o pensamento do linhagem correu direto para em como a pele de seu companheiro iria se parecer com as marcas que ele poderia causar com aquele objeto.

-Depende do quê? - Lleaud perguntou.

-Do quão alto você pretende me fazer gemer e gritar essa noite.

Linhagens - LleaudOnde histórias criam vida. Descubra agora