Capítulo 14

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Félix entrou no lugar em que viveu por muito tempo, ele quase não havia parado a moto quando pulou dela e empurrou o mordomo para fora do caminho dele. Ele não se importava com o sangue que caía no seu olho direito, manchado sua visão e fazendo-o arder como o inferno, Félix só queria fazer com que sua irmã sentisse o mesmo que Lleaud sentira durante as 24 horas em que eles ficaram presos.

-Você voltou, irmão...

O primeiro tiro foi dado na perna de Evan, para fazê-lo calar a boca, ele parecia tranquilo sentado no sofá da sala, mas Félix não estava com paciência para o sarcasmo usual de sua família. Ele percorreu todo o lugar ignorando os xingamentos do homem que havia levado o tiro. Quando chegou ao escritório, seus pais estavam lá, trabalhando em algo com sua irmã que havia sentado de costa para a porta. O primeiro golpe que ele deu em Lisa foi na lateral de sua cabeça quando ela estava se virando para descobrir quem havia entrado no ambiente quando foi acertada e caiu no chão por causa do impacto.

-Como você...? – Lisa perguntou assustada.

O sangue escorria pela lateral do seu rosto, enquanto ela se arrastava para longe de Félix, o impacto do golpe não a deixara inconsciente por muito pouco, mas ela podia sentir sua vista embaçando.

-Eu lhe disse, não disse? Se você realmente seguisse em frente, era melhor garantir que eu não saísse vivo – ele mirou a arma na direção de seus pais, quando percebeu que eles estavam reagindo – Não se atrevam a defendê-la, não quero gastar munição com vocês.

-Somos seus pais, você não pode nos machucar – sua mãe afirmou.

-Não? Faça o teste, foi assim que vocês me criaram. Ficariam realmente surpresos se eu atirasse em ambos?

O som do tiro ecoou pelo lugar quando Félix mirou no braço esquerdo de sua irmã. Ela estava prestes a sacar uma arma quando ele percebeu o movimento, o grito de Lisa o deixou 1% menos irritado, mas a respiração alta dela ainda alimentava sua raiva. Félix se ajoelhou de frente para Lisa, ignorando o casal mais velho parado a alguns metros deles, a mulher recuou quando encontrou o olhar de seu irmão. Dos três, ela fora a que menos sofrera, Félix sempre tentara fazer da vida dela a mais fácil possível, ele assumia a culpa por ela quando Lisa era pega fazendo algo que não deveria, ajudava nas tarefas que ela não conseguia fazer e sempre fora carinhoso com ela, o porto seguro que os dois mais velhos não tiveram. Mas, ela não reconheceu seu irmão no olhar vazio que ele lhe dava, aquele era o mesmo olhar que Evan lhe deu quando descobriu que ela havia sido escolhida por seus pais como representante de uma das empresas, ao invés dele. Ela recuou até onde a estante de livros permitiu, por um segundo, pensou que Félix fosse atirar em si mesmo quando encostou o cano da arma na lateral da sua cabeça, mas ele parecia apenas pensativo.

-Você foi a única pessoa com a qual eu me importei durante muito tempo e, as vezes, acho que esse foi o problema – ele refletiu em voz alta – Eu cuidei de você, Lisa, a mimei e amei quando tudo que essa família pôde oferecer para mim foi dor e ódio. 

O sangue de Lisa escorria pelo braço, mesmo com ela segurando o ferimento em uma tentativa inútil de estancar.

-Me amou? Você me fez fraca em comparação aos meus irmãos mais velhos, fraca e inútil.

-É uma pena que você pense assim, eu realmente esperava que você tivesse uma vida normal, mas uma cerca branca e uma vida tranquila não estava em seus planos quando decidiu sequestrar casais de companheiros. Você lembra do meu aniversário de dezoito anos? O Sr. Santori quase te pegou no banheiro com a boca no pau do companheiro de negócios dele. Se eu não tivesse visto vocês entrarem juntos, a batida na porta de cada vão do segundo andar chegaria chegaria ao banheiro em que vocês estavam. Você lembra do barulho? O som ritmado que fazia a cada passo que ele dava?

-Félix...

-Era uma marreta, Lisa, não era um objeto de plástico inofensivo. Eu fingi estar bêbado naquela noite para salvá-la. Irônico, não? Eu nunca fiquei bêbado em toda a minha vida, mas fingi, por você, naquela noite. 

-Sinto muito.

-Não, não sinta. Você me fez odiá-los ainda mais, quando tive que desistir das artes marciais porque nosso pai quebrou meu joelho direito.

Félix se pôs de pé, o olhar vazio e as lágrimas de ódio escorrendo pelo seu rosto, a adrenalina que havia tomado conta dele começava a baixar. Se Félix estivesse com uma granada ali, explodiria o lugar todo, ele se sentia bêbado de fato, raiva e ressentimento ocuparam o espaço da adrenalina. Ele varreu um olhar pela mesa de seus pais e encontrou um envelope com o símbolo da Land nele, foi quando lembrou de seus companheiros e, por consequência, lembrou o porquê não podia se explodir junto com sua família desequilibrada.

-Vocês já assinaram? - ele perguntou.

-Não pretendemos...

O terceiro disparo foi ouvido seguido pelo grito de seu pai. A mira de Félix não estava tão boa com o sangue e as lágrimas que manchava sua visão. Ele pretendia atirar na parede ao lado da cabeça do homem, mas acabou acertando sua orelha

-Vou reformular minha pergunta - ele falou, ignorando seu erro - Esses papéis vão ser assinados agora ou já estão assinado?

O casal rabiscou uma assinatura rápida nas folhas antes de entregar o envelope para Félix.

-Obrigado, foi um prazer fazer negócio com vocês.

Lisa tinha se permitido respirar aliviada quando o foco de Félix havia virado para seus pais, ela, definitivamente, não esperava que ele descarregasse o que havia sobrado no pente da arma em seu peito. A morte foi rápida, não porque Félix preferisse assim, mas porque era sua irmã no fim das contas e uma mulher não merecia sofrer mais punição do que as malditas normas sociais.

-Sugiro que chamem um médico, atirei em Evan quando entrei. Vou levar a arma comigo, por precaução, tenham certeza de inventar uma história convincente e comprar as pessoas certas pra que a morte de Lisa não me incrimine, vocês têm dinheiro suficiente para isso. Quanto a Land, estamos quites, não cruzem meu caminho ou o do meus companheiros novamente e vamos continuar em paz, caso contrário... bem, vocês já descobriram que o monstro que criaram não segue a lei do "família antes de tudo e todos" criada pelos Santori's. Tenham uma ótima noite, vejo vocês no funeral.

Félix saiu do escritório a passos calmos, ele bocejou na metade do caminho que levou até chegar à moto que estacionara na entrada. Alguém havia levantado o veículo e deixado a chave no mesmo lugar que ele deixara quando pulou dela. Ele acelerou na direção da Land, tudo o que precisava agora era um bom banho e dormir ao lado de seus companheiros, tinha certeza que precisaria passar no hospital para ver Lleaud, mas sabia que ele não tinha nenhum ferimento que pudesse matá-lo, Ravi havia deixado claro que queria o linhagem vivo.

Linhagens - LleaudOnde histórias criam vida. Descubra agora