Linhagens - Lleaud

Capítulo 13

Eles recobraram a consciência muito tempo depois de serem colocados em um quarto, os desconhecidos fizeram Félix assistir cada minuto da tortura de Lleaud. Eles queriam informações que o linhagem não daria mesmo que fosse obrigado a andar pelo inferno, Félix fez questão de não desviar o olhar, ele podia sentir todos os seus anos de autocontrole se esvaindo entre seus dedos enquanto observava seu companheiro ser torturado por causa de sua irmã e as insanidades dela. O homem, que parecia liderar o bando de neandertais, chamado Ravi entrou na sala para continuar o trabalho, trancando o lugar apenas com os três dentro. A risada de Félix fez todos os que estavam presentes olharem para ele, mesmo Lleaud completamente exausto depois de horas sendo torturado e interrogado olhou para seu companheiro. Ravi olhou para o humano, parecendo notá-lo pela primeira vez.

-O que tem de tão engraçado nessa situação? - ele perguntou irritado.

-Você. Você é uma piada triste e fúnebre e, para o seu próprio bem, eu espero que qualquer um chegue antes que eu seja capaz de fazê-lo pagar pelo o que está fazendo com o meu companheiro - Félix respondeu, o sorriso sádico ainda moldado em seu rosto.

-Um humano acorrentado não é capaz de fazer nada - Ravi sorriu.

Félix olhou atrás do homem, Lleaud estava de joelhos, metade do seu corpo coberto de sangue e a respiração tão pesada que ele podia ver seu peito subindo e descendo. O pequeno humano nunca havia agradecido antes pela criação que tivera, mas naquele momento, ele entendeu os princípios de sua família, mesmo que contra o tradicionalismo deles.

-Não se preocupe, Grandão. Ravi vai pagar por cada segundo dessa tortura - Félix tentou tranquilizar o linhagem.

A risada dele voltou a explodir no lugar quando sentiu a arma de choque em seu abdômen, Lleaud se assustou, conhecia o lado sádico de seu companheiro, mas ele se limitava ao quarto, agora, aquilo estava fora de seus padrões, o pânico cresceu mais ainda quando viu o humano soltar seus pulsos. 

-Eu lhe avisei, o linhagem é o menor dos seus problemas - Félix falou se aproximando, enquanto enrolava as correntes que fora usadas para prendê-lo em volta a mão esquerda - Ele não é o monstro que a mídia pinta, você devia ter me matado antes de resolver machucá-lo. Sabe, Ravi, ao contrário de Lleaud e Muriel, eu não me importo com o que você faz com o resto da população mundial, mas existem duas e, apenas duas, pessoas, com as quais você não deveria ter mexido. 

O linhagem estava prestes a perder a consciência, mas ainda podia ver seu companheiro encurralando o outro homem. Ravi deveria ter percebido que era um grande erro tê-los trancados lá dentro sem nenhum reforço, a porta não poderia ser aberta sem a digital do sequestrador e Félix parecia prestes a virá-lo do avesso.

-Você é apenas um rato de laboratório, não é capaz de me assustar! - Ravi revidou enquanto recuava.

Félix sorriu, Lleaud não tinha com o que associar o sorriso inocente, mas havia algo diferente brilhando nos olhos de seu companheiro, algo que ele não teve tempo de processar o que era antes de perder a consciência. Ravi o acertou, o sorriso de Félix se alargou enquanto passava a língua na linha de sangue que escorria pelo canto de sua boca. O humano olhou para seu companheiro para confirmar se ele estava desacordado.

-Se você tivesse feito as perguntas certas, teria descoberto que eu amo o gosto férreo de sangue, mas, vamos ao que interessa - Félix começou - Eu não me importo com o que o você esteve fazendo, mas, a partir do momento que machucou meu companheiro, você comprou uma dívida comigo.

Ravi continuou acertando Félix, enquanto o outro sorria a cada golpe, o homem não estava acostumado a ter alguém sorrindo enquanto ele o acertava com força o suficiente para um nocaute. Félix continuou rindo a cada golpe, até se cansar e prender Ravi contra a parede, os dedos apertando seu pescoço com mais força do que costumava fazer com Lleaud e Muriel faziam com ele. Félix sorriu, lembrando das surras e lentas torturas que seus pais aprovaram que ele sofresse durante toda a sua infância e adolescência, enquanto ignorava a tentativa inútil que Ravi fizera de deixá-lo inconsciente, ele não conseguia se igualar ao que Félix sofrera, perto de seus pais, Ravi nada mais era do que uma criança fazendo birra.

-Eu gosto da dor, ela é uma amiga íntima de longa data. Mas, você não, deixe-me ensinar-lhe algo - Félix falou sorrindo, enquanto tirava o celular do bolso do cientista e discava o número de sua companheira - Mandarei a localização, Muriel, não precisa se apressar, estamos seguros.

Quando sua companheira desligou, Félix desferiu o primeiro golpe contra o maxilar do homem adorando o som que ecoou pelo lugar  fechado. O humano perdeu as contas de quantas vezes acertou o homem, ele não estava preocupado em enumerar a quantidade de golpes desferidos, sua única preocupação era devolver cada machucado que Lleaud sofrera. 

-Félix! Abra a porta!

Ele levantou o rosto quando ouviu sua companheira, percebendo pela primeira vez o suor que pingava e a dor que se espalhava pelo braço esquerdo. Ele soltou o homem sem se dar ao trabalho de olhá-lo novamente, arrastando o corpo para usar a digital no aparelho e caminhou em direção à porta enquanto se livrava das correntes que havia enrolado ao redor de suas mãos, o sangue pingando durante todo o caminho. O aço havia machucado a ambos, as mãos de Félix estavam pintadas de sangue, as feridas abertas em seus punhos.

-Cristo! O que aconteceu com você? - Muriel perguntou chocada.

Ela quase desmaiou quando viu seus companheiros quase banhados em sangue. O rosto e tórax de Félix estavam com sangue o suficiente pra ela achar que alguém havia jogado tinta vermelha nele.

-Eu estou bem, o sangue não é meu, Lleaud é quem precisa de atendimento médico. Cuide dele, preciso visitar minha irmã, encontro vocês na Land.

Félix tirou a arma da mão de Muriel e pegou as chaves da moto do bolso traseiro de sua calça, a shifter estava chocada e preocupada demais com o cenário a sua frente para perceber o que ele estava fazendo e só notou quando era tarde demais.