Capítulo 6

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-Ouse tocar em um deles e eu descarrego o pente em seu crânio! 

Essa foi a primeira frase que Muriel e Lleaud ouviram quando acordaram, ter um estranho em seu quarto já era assustador o suficiente quando nenhum dos dois acordou com ele entrando na casa, mas ver Félix apontando uma arma para o desconhecido adicionava uma pitada a mais de pânico, principalmente quando eles não sabiam como o homem entrara na Land.

-Olá, maninho.

O sorriso que o homem esboçou ia na direção oposta ao que Félix  sentia, ele estava muito mais do que irritado, esquecera completamente que seu irmão tinha passe livre na Land desde que a empresa de sua família assinara o acordo com Laurent, algo que ele pretendia consertar em breve.

-Saia do quarto, conversaremos na sala - Félix ordenou.

Lee olhou para a mulher que estava na cama ao lado do seu irmão mais novo, ele conseguiria entender porque seu irmão se manteve solteiro até hoje se aquele era o padrão dele. Lleaud rosnou quando quando conseguiu sentir o cheiro de excitação do desconhecido enquanto olhava para Muriel, mas o barulho da arma destravando o distraiu. Félix apontava para a pequena pistola para o meio das pernas de seu irmão, a expressão ainda mais tensa do que estava a alguns segundos atrás.

-Continue olhando para minha companheira dessa forma e não vai ser a cabeça de cima quem vai receber os tiros - Félix sussurrou.

-Vou estar na sala - ele falou antes de sair e fechar a porta atrás de si.

Félix relaxou, travando novamente a arma e guardando na gaveta da sua mesa de cabeceira. Ele tinha consciência de que vestia apenas uma boxer azul e começou a se vestir enquanto Lleaud e Muriel faziam o mesmo.

-Seu irmão? - Lleaud perguntou enquanto vestia a camisa.

-O mais velho da família, se preparem para uma conversa agradável e não se envolvam, ou vou seriamente irritado com ambos.

Esse tom sarcástico e a postura irritada não parecia em nada com o que eles conheceram até agora. Aquela postura lembrava Lleaud da companheira de River quando saíram para resgatá-lo do sequestro e, se essa lembrança era um bom palpite, ele e Muriel tinham um companheiro muito explosivo.

-O que você veio fazer aqui? - Félix perguntou.

-Não posso fazer uma visita ao meu irmão caçula para saber como ele está? - Lee perguntou, travando o seu celular e colocando-o no braço do sofá.

Lleaud olhou desconfiado para o humano, ele era quase do seu tamanho, grande demais para os padrões humanos e muito diferente de Félix. Não era como se seu companheiro fosse muito magro, não era, Félix tinha a quantidade certa de músculos, embora Lleaud não o tivesse visto se exercitar em nenhum momento até agora.

-Vou perguntar novamente e espero conseguir a verdade dessa vez. O que você veio fazer aqui?

-Nossos pais e mandaram para começar a negociar a renovação do contrato da nossa empresa com a Land.

-E...?

Lee sorriu, seu irmão poderia ser muitas coisas, mas não era burro. Félix sempre foi capaz de perceber quando alguém da família mentia ou omitia informações dele.

-Ficamos sabendo sobre seus... companheiros. A propósito, não vai fazer as apresentações? - Lee perguntou se levantando.

-Por que eu apresentaria alguém insignificante para meus companheiros? - Félix rebateu - Saia, você já deveria saber que não vai mais existir acordos entre vocês e a Land assim que entendeu o que eles são para mim.

-Você não vai conversar com nossos pais sobre isso? É um assunto familiar, afinal.

-Minha resposta para o Sr. Santori é a mesma, não preciso repetir, ele vai ouvir minha própria voz quando ouvir a gravação que você está fazendo.

Félix olhou para o celular que seu irmão havia colocado no sofá, a risada de Lee o fez ficar mais irritado ainda. Lleaud e Muriel não ousaram sair da sala, eles não confiavam no humano, irmão ou não de seu companheiro, eles sabiam o quão fodidas algumas famílias podiam ser e Félix ter colocado seu irmão na mira de uma arma foi indicador suficiente para eles.

-Sempre sagaz, não é, pequeno coelho?!

-Saia, agora, antes que eu considere buscar a arma que deixei no quarto.

Lee sorriu antes de pegar o celular e sair sem dizer mais nada, fazia muito tempo desde que Félix tivera dificuldade em controlar seus impulsos de raiva, mas ele o fez, aquela não era sua casa e não tinha o direito de sair quebrando nada.

-Você está...? - Lleaud começou.

-Não pergunte se estou bem. Preciso falar com Laurent e passar em casa para buscar umas coisas.

-Podemos te levar até ele depois das suas aulas.

-Não irei para a universidade, quero resolver isso antes, não posso correr o risco de deixar Laurent assinar esse contrato.

-Ok, podemos nos arrumar e tomar café enquanto eu ligo para ele pedindo para nos encontrar essa manhã. Podemos fazer assim?

Félix assentiu e voltou para o quarto, quando ouviu o barulho do chuveiro Muriel soltou a respiração, ela ainda estava em choque pela personalidade explosiva do humano.

-Vou acompanhá-lo, tenho a impressão de que nosso pequeno rato de biblioteca é capaz de quebrar o banheiro - Muriel falou.

-Direcione essa energia, tenho certeza que vou adorar ouvi-los.

-Você é incorrigível! Vamos precisar conversar com Félix sobre tudo isso.

-Depois, agora vamos tentar evitar que ele tenha um AVC.

Muriel assentiu antes de fazer o mesmo caminho que o humano tinha feito, deixando Lleaud na sala discando o número de Laurent.

***

-Defeitos? - Laurent perguntou confuso.

-Você não ouviu o que eu disse? Seus sistemas de segurança e armas fornecidas pelos Santori's são, propositalmente, falhas.

-Elas têm funcionado muito bem.

-Obviamente não são todas, eles não são tão estúpidos. O portão que os manifestantes derrubaram a alguns anos atrás, quem você acha que foi responsável por aquilo?

Laurent ficou em silêncio, ele não conhecia o companheiro de Lleaud e Muriel, mas havia algo que não se encaixava ali.

-Desde quando você sabe disso? - Laurent perguntou.

-Desde que você assinou o contrato com eles.

-E não passou pela sua cabeça nos dizer isso antes?

-Não era problema meu.

Lleaud e Muriel se entreolharam, eles podiam sentir a indignação de Laurent, mas Félix parecia não se importar com a irritação do linhagem.

-Você tem ideia de quantas pessoas se feriram naquele dia? Não...

-Antes que você comece o discurso moral, deixa eu esclarecer algo. Não me importo com os outros, humanos, shifters e linhagens, sou igualmente indiferentes a todos eles. Se você me pedir para escolher ter uma tarde de tranquilidade e salvar uma multidão de pessoas, vou escolher ficar na tranquilidade da minha casa. Conseguiu compreender o que eu quero dizer?

-O que mudou?

-Lleaud e Muriel, se vocês estão em perigo, significa que eles estão em perigo e eu não quero ser responsável pela morte da minha suposta família por terem sido a causa da morte dos meus companheiros.



Linhagens - LleaudOnde histórias criam vida. Descubra agora