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AYRA 🧚🏼‍♀️
Rocinha, 2015.

Coloquei uma roupa confortável e me deitei na cama ao seu lado com várias perguntas na minha mente, mas preferi ficar calada e aproveitar o momento.

Eu sei que ainda sou jovem e que tenho muito a viver mas não hesito em falar o quanto Thiago me fez/faz bem e o quanto queria que durasse até a morte nos separar, posso estar sendo emocionada e mais pra frente encontrar outra pessoa mas é isso que eu sinto neste momento.

Ayra: Só quero que você entenda que nada disso anula você ter entrado no tráfico. — murmurei baixo e levantei a cabeça encarando ele.

Thiago: Já disse que eu não espero sua compressão. — disse com a voz rouca. — Quero que fique bem.. que termina os estudos se torne uma fisioterapeuta foda pra caralho..

Ayra: Do jeito que você fala parece que você vai morrer. — falei sentindo meus pelos se arrepiarem.

Thiago: Espero que um dia você me perdoe.. fico bem sabendo que, você não levou pro coração hoje e quis esse momento nosso mas sei que amanhã será bem diferente.

Ayra: Não vamos pensar nisso agora. — peguei a coberta que estava no pé da cama e cobri a gente. — Eu queria poder te impedir de ir.. queria que seu recomeço fosse aqui.

Thiago: Eu quero e vou voltar.. por você.. por nós. Eu não brinco quando eu digo que tu é a mulher da minha vida..

Encarei ele por segundos até seus lábios tocar-me, foi como um beijo de despedida. Sei que quando eu acordar amanhã estarei furiosa e totalmente magoada pelas decisões dele por isso quero viver o hoje.

Ayra: Quando você voltar para mim e nós nos casarmos.. na valsa irá tocar a abertura do filme da Barbie e as doze princesas bailarinas.

Thiago: Não sei do que se trata essa porra mas eu topo tudo pela sua felicidade.

Ficamos conversando até as duas e meia da manhã, eu não queria pregar os meus olhos porque sabia que o tempo é curto e que quando eu acordasse tudo não passaria de um conto de fadas.

Notei que por volta das cinco da manhã ele se foi, depositou um beijo demorado em minha testa e saiu pela janela.

Eu pensei em abrir meus olhos e implorar para ele ficar.. mas não consegui.

Me permiti dormir até 12h, não queria acordar e encarar a realidade.. tudo oque ele me falou estava me massacrando.. minha mente estava a milhão como já esperado.

Minha avó bateu na porta do meu quarto umas três vezes, fingi estar dormindo em todas elas.

Quando percebi que não conseguiria mais ficar dentro do quarto sai e tomei banho, meu celular vibrou com algumas mensagens mas nem fiz questão de olhar.

Tomei meu banho tentando ocupar minha mente mas não dava.

Como eu pensei ontem, hoje a verdade viria a tona.. o conto de fadas acabou.. eu tento não sentir nada de ruim pelo oque o Thiago fez mas não consigo...

Fico pensando como teria sido se ele tivesse confiado em mim para contar as coisas antes de sair metendo os pés pelas mãos.

Sai do banho e coloquei um pijama confortável, minha intenção hoje é passar o dia inteiro dentro de casa, nem no celular quero tocar.

Andei pela casa toda a procura da minha avó e foi aí que lembrei que ela iria fazer compras cedo hoje. Fiz um miojo de carne e me sentei no sofá ligando a tv e assistindo casos de família, tem algumas pessoas da comunidade que já foram convidadas para ir nessa baixaria.. mesmo sendo combinado eu amo.

Me assustei quando ouvi batidas exageradas na porta.

Abaixei um pouco a tv e deixei meu prato na mesa de centro, limpei minha boca com a mão e levantei do sofá pegando as chaves e indo até a porta.

Pela sombra do vidro vi que era a Alana, girei a chave na maçaneta abrindo a mesma e sendo supreendida por um abraço.

Alana: Não imagino oque você esteja sentindo mas quero que saiba que eu estou aqui com você!! — me abraçou forte. — Eu nunca imaginei isso dele.. — murmurou com a voz embargada.

Provavelmente o Luiz já havia contado a ela sobre o Thiago ir embora, já que os dois não se desgrudam, creio que ele já sabia muitos antes também.

Ayra: Eu só queria que ele tivesse sido homem e me contado tudo desde o começo sabe? — ela me olha com o semblante franzido. — Oque foi?

Alana: Não olhou minhas mensagem?! — neguei com a cabeça. — Não viu o grupo da comunidade hoje cedo? — balanço a cabeça negando. — Ayra..— sussurrou dando passos para trás e eu já temi o pior.

Ayra: Me fala oque aconteceu.. — falei  sentindo meu peito subir e descer desesperadamente. — Alana me diz oque aconteceu!! — gritei assustando ela.

Alana: Hoje cedo.. — falou. — Foi achado o corpo da mãe do Thiago na caçamba de lixo na rua sem saída.. — levei minha mão até a boca. — Parece que o pai dele matou ela.. e..

Ayra: Ainda tem mais? Meu Deus! — falei desesperada. — Eu preciso ir atrás do Thiago não imagino como ele deve estar.. meu Deus! – falei passando por ela.

Alana: Ayra o Thiago matou o Jeferson! — paralisei aonde eu estava.

Foi como se por um momento eu tivesse esquecido como se respirar.. como se viver!

Olhei para minhas pernas vendo escorrer sangue e, virei meu rosto para Alana sentindo meus olhos encherem de água.

Alana: Ayra.. você estava grávida? — senti minhas pernas perderem as forças e acabei me desequilibrando, Alana deu um passo me segurando.

Mesmo com a visão ruim consegui ver o chão de casa cheio de sangue.

{....}

2 dias depois.

Me olhei diante do espelho notando o quanto meu rosto estava inchado. Eu acabei de chegar do hospital, fiz alguns exames e de fato eu estava grávida, de 5 semanas.

Mas perdi.

Fiz um coque no meu cabelo e escovei os dentes, desde que cheguei em casa não consegui pensar em nada somente me culpei.

Sequei minha boca com a toalha e sai do banheiro, passei no quarto da minha avó e depositei um beijo nela que já estava dormindo.

Peguei as chaves e tranquei as portas e as janelas, fui pro meu quarto e fechei a porta do mesmo, me virei para deitar na cama e tomei um susto com o Thiago passando pela janela.

Thiago: Ayra.. — disse me olhando.

Ayra: Sai daqui! — andei até ele e apontei para janela. — Anda! — grito e ele tapa minha boca me prensando na parede.

Thiago: Me deixa explicar por favor. — mordo a mão dele e o mesmo tirou ela da minha boca e gruniu de dor. — Caralho!!

Ayra: Eu não quero te ver.. nunca mais! — falo. — Esquece tudo oque vivemos, eu quero que você suma da minha vida. — começo a chorar. — Eu não quero um assassino na minha casa!

Ele me olhou chocado com oque eu disse, mas estranhei sua reação, porque a surpresa? Não foi exatamente oque ele cometeu?

Ayra: Eu só quero que você vá embora daqui. – falei sentindo minha voz fraquejar.

Ficamos nos encarando alguns minutos e depois disso ele passou por mim pulando a janela e indo embora, tranquei a mesma e apaguei a luz do quarto, me joguei na cama e comecei a chorar.

Da dor ao amor  (Livro 1) Onde histórias criam vida. Descubra agora