the monster you created.

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* Billie's pov.

A voz doce de minha mãe ecoava pelo quarto fechado, cantarolava uma canção de ninar, uma melodia reconfortante e melancólica. Tentava evitar fazer com que as lágrimas caíssem, mas era tudo muito novo para apenas ser ignorado. Eu ainda conseguia ver a cor do sangue, conseguia escutar os gritos desesperados. Uma culpa enorme me seguia diariamente depois daquela situação.

Toda a paz é cortada quando escuto a porta se abrir abruptamente, fazendo com que minha mãe se calasse e separasse nosso abraço de lado. Engoli a seco, sentindo todo meu corpo estremecer em um pavor inigualável. A silhueta alta do meu pai invade o quarto brutalmente, fazendo eu me encolher entre meus próprios braços. Mamãe saí da sala, me deixando sozinha com meu pai e seus guardas.

— Você não pode se dar ao luxo de sentir medo, O'connell. Seu sangue é o mesmo que corre em minhas veias, você me escuta? Você não pode fracassar. Você tem o inferno na palma de suas mãos, é sua responsabilidade, quer você queira quer não. — Meu pai afirma com sua voz ríspida e baixa. — Levante.

Com receio, saio dos meus lençóis confortáveis e fico de pé ao lado de minha cama. Minha cabeça baixa e os soluços demonstravam todo o medo que eu sentia, mesmo que não fosse permitido a senti-ló.

— Não abaixe a cabeça! — O homem disse de forma alta, me encolhi antes de levantar a cabeça e olhar para seu rosto cínico e sem culpa. — A partir de hoje, Billie, você é alguém diferente. Alguém mais forte, nunca esqueça que tudo o que eu faço é pelo bem desta nação. — Caminhou para fora do quarto, eu sabia que tinha que segui-ló, então o fiz sem muitas demoras.

De volta ao campo de alguns dias atrás, eu consigo sentir meus olhos se encherem de lágrimas, mas não me permito a chorar. Respiro fundo, sentindo a ansiedade se espalhar pelo meu corpo inteiro.

— Você não pode mudar quem você é, Billie. Você é um monstro, você nasceu para destruir o mundo, então não seja piedosa com ele. — A porta se abriu automaticamente, me dando a visão de duas pessoas crucificadas, elas pareciam sentir uma dor imensa. Levei minhas mãos até minha boca, para me impedir de gritar. — Mate-os. Seja o monstro que você é. — A porta atrás de mim fechou, me fazendo correr para trás na tentativa de fazê-los abrirem.

— Pai! Pai! Por favor, me deixa sair daqui! — Minha voz chorosa ecoou por todo o ambiente. Eu batia freneticamente contra a porta do campo, os meus soluços altos escapavam fazendo com que a situação fosse mais desesperadora. — Finneas! Me ajuda! — Exclamei entre meu choro. Eu sabia que ele não seria capaz de me ajudar, ele sequer estava aqui. No entanto, eu sabia que ele seria o único que questionaria papai.

“Monstro.”

“Lembre-se do monstro que você é.”

“Não esqueça de quem você nasceu para ser.”

Qual é o preço de querer salvar o mundo, quando eu nasci para destruí-lo?

Viro meu corpo para o campo aberto para ter a visão dos dois anjos pendurados em uma cruz. Engulo a seco, dando alguns passos a frente. Meus pés infantis descalços em meio a toda aquela poeira, sentem o gelado de uma faca que brilha, me chamando atenção. Minhas mãos vão em direção ao cabo de plástico do objeto que mal cabe em minha mão minúscula, mordo meus lábios instintivamente, tentando prender meu choro.

E então, quando me dou conta do que estou fazendo, me viro de costas novamente. Mas então, meus joelhos vão contra a areia do chão novamente, não por um choro, dessa vez, mas sim por um barulho agudo que ecoa entre todo o campo. Minha cabeça explode com todo esse barulho, e então me atinge que eu tenho uma escolha a fazer. Eu não sou a única gritando no ambiente, sou capaz de escutar as duas vítimas vibrarem em agonia.

Arrasto meu corpo frágil pelo chão, tentando chegar até uma das cruzes, meu choro se torna cada vez mais desesperado. Eu queria que todo aquele som se calasse, eu queria o silêncio pelo menos mais uma vez. Toda a minha cabeça gritava em agonia constante, e até que eu chegasse ao lugar que queria, o som está mais alto.

CADA VEZ MAIS ALTO. FAÇA ISSO PARAR. PARE! POR FAVOR! POR FAVOR!

Eu sou uma boa criança.

Talvez esse seja um problema.

Eu preciso ser má.

Eu preciso ser terrível.

Talvez assim pare de doer como dói.

Com dificuldade, me ponho de pé, segurava a faca de forma desajeitada, meus dedos fraquejavam entre o cabo, mas eu não fui capaz de pensar, esfaqueei o ser a minha frente brutalmente, sentindo o sangue escorrer dentre minhas mãos. Isso só não foi mais agoniante que o barulho constante que já perdura por minutos. Retiro a faca do peito do ser com dificuldade, me empurrando para trás devido a força que fiz.

E então, o barulho ficou lentamente mais baixo, mas não baixo o suficiente para que eu me sentisse confortável. A outra presa ao meu lado parecia desesperada, tentava se mover freneticamente, em busca de uma chance de sobrevivência. Não pensei antes de correr até seu corpo amarrado, apenas o fiz,  usando a faca mais uma vez contra o peito da criatura.

E então, o silêncio. A paz. Meu corpo pequeno banhado em sangue se acolheu entre os próprios braços, tentando me confortar. Minhas mãos ensanguentadas manchavam minhas madeixas loiras e meu rosto delicado, me deixando ainda mais desesperada.

Eu os matei. Eu tirei suas vidas. Eu tenho seus sangues espalhado por todo meu corpo. Isso mostra o quão cruel eu fui.

— Muito bem, criança. — Meu pai proferiu.

Always Look Behind You. - Billie Eilish. [G!P]Onde histórias criam vida. Descubra agora