when the party's over.

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Nada a dizer, apenas desculpas a pedir.

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O vento frio bateu contra meu corpo, fazendo com que me encolhesse entre meus próprios braços. Meus olhos focaram no céu escuro acima da minha cabeça, o som do choro alto ao meu lado não me incomodava porquê eu sequer havia o processado. As memórias atingiam minha mente como tiros em um corpo frágil, o gosto da decepção descansava embaixo da minha língua, engulo a seco, percebendo o ambiente ao meu redor.


Levanto do colo de Billie cuidadosamente, fazendo com que ela percebesse a falta de pressão em suas coxas, seus olhos estavam encharcados e inchados, preenchido com lágrimas, eu nunca havia visto ela chorar dessa maneira, nunca havia a visto tão vulnerável. Tive a vontade de rodear meus braços por seus ombros e chorar junto a ela, para que fôssemos vulneráveis juntas.

Ao contrário disso, minha face se contraí em raiva e eu me afasto lentamente de seu corpo curvado. As mãos de Billie estavam fortemente machucadas, sangue pingava de seus dedos até o chão, ela secou suas lágrimas, escondendo seu rosto em seu próprio ombro. Eu esperava que ela falasse algo, e depois de alguns segundos em um silêncio absoluto, fungo tristemente, me levantando com dificuldade para me manter em pé.

— Ártemis... — Murmurou meu nome tão suavemente como uma pena, senti o seu corpo caminhar atrás do meu, mantendo uma distância considerável.

— Billie, já chega. Não acha que fez o suficiente por hoje? — Viro de costas, sussurrando rispidamente. Sua mão sangrando foi até seu nariz, fazendo uma sujeira vermelha em seu rosto. — Eu preciso ficar sozinha. — Voltei a andar ignorando a garota fungando.

— Eu sinto muito, Ártemis, por favor... — Sua voz fraquejou, deixou um soluço alto escapar. Meu coração quebrou por sua dor, mas não importava quantas vezes pedisse perdão, nada repararia o quão me senti substituída quando tive a visão que tive hoje a noite.

— Eu quero ficar sozinha, Billie. — Pedi com a voz rígida. — Saía de perto de mim, por favor.

— Me deixe te levar até o hotel, pelo menos. — Eu queria negar, mas no mesmo instante em que me atrevi a tentar falar, meus pés fraquejaram, não aguentando o peso do meu próprio corpo, cedi. Soltei um grito frustrado seguido de um choro alto, minhas mãos seguravam minha própria cabeça, fraca. O corpo de Billie rodeou meus ombros cuidadosamente, me fazendo soluçar ainda mais alto.

— Eu- Eu não queria que ele me tocasse daquela maneira, Billie, eu pedi para ele parar! — Gaguejo entre soluços, minhas pernas se esperneiam e se torna impossível conter meus gritos. Abafo meus soluços no ombro de Billie, mordendo o fino tecido de sua camisa.

Meu corpo ansiava pelo toque carinhoso da mesma garota que havia me machucado há alguns minutos atrás, com o sentimento de necessidade de tê-la, veio junto a impotência de pertencer a alguém. Eu senti nojo de mim por querer tanto algo que não merecia ser pertencido por mim; não merecia, porquê queria apenas me ter, não me pertencer, e deixou isso claro quando tocou duas mulheres estranhas da mesma forma que me tocou durante a última semana. As tocou da mesma forma em que eu amava ser tocada, da mesma forma que eu achei que ela tocaria apenas a mim.

Eu desejei que houvesse amor em seu toque, mas eu não queria compartilhar com outras pessoas o mesmo sentimento que tinha quando Billie me tocava, queria que fosse um sentimento exclusivamente meu, um sentimento inefável*.

Mas naquele mesmo dia, Billie tocou outras pessoas com as mesmas mãos que eu desejei que fossem apenas minhas.

* inefável: que não se pode nomear ou descrever em razão de sua natureza, força, beleza; indizível, indescritível.

— Vai embora, por favor, acabou... — Sussurrei contra o ombro da mais alta. Meus olhos se encheram de lágrimas quando ela me apertou entre nosso abraço, minha garganta já ardia pelo meu choro escandaloso que durava minutos. Com ajuda de Billie, me coloquei de pé, encarando as ruas frias.

— Não diz isso... não acabou. — Ela murmurou com a voz embargada, senti que sua dor me faria chorar mais do que eu já chorava. Meus pés deram alguns passos para trás enquanto eu balançava minha cabeça negativamente, meus olhos liberaram mais algumas lágrimas quentes. — Eu não quero que acabe. — Negou com a cabeça, se aproximando de mim enquanto eu me afastava, seus olhos eram carregados de sofrimento e de culpa, meus lábios estavam prestes a deixar com que as palavras dolorosas escapassem.

— Você não me quer, Billie. — Olhei para baixo, fungando antes de continuar a falar. Contorci minhas sobrancelhas, tentando conter os gemidos baixos que ameaçavam escapar de minha garganta. — Você só quer que eu te queira. Isso ajuda o seu ego. — Brinquei com as pulseiras de metal descansando em meu pulso, meus lábios se apertam em dor. — Eu não posso ser sua se você não é minha. — Sorri tristemente, me atrevendo a olhar para Eilish mais um vez. Seu rosto se contorceu em dor enquanto seu corpo se aproximou de mim com receio. — Vai pra casa. Acabou.

— Você é minha casa. — Ela confessou em um soluço, abaixou seu rosto, levando seus fios para trás de forma melancólica, me dando visão a sua testa suada e seu rosto completamente vermelho e encharcado pelas lágrimas atrevidas que caíam de seus olhos.

Eu não podia me submeter a ver isso. Era dor demais para aguentar.

— Suas ações não condizem com suas palavras, querida... — Sussurrei, com dor, um sorriso triste se fez presente em minha boca. Queria contar para Billie o quanto doía, queria me rastejar em seus braços e construir uma parede que nós isolasse do mundo exterior, para que assim, eu pudesse ser confortada pelos seus braços mais uma única vez; no entanto, eu queria contar de minha dor para quem havia me machucado.

— Promete não deixar a crueldade do mundo corromper sua inocência? — Tocou meu rosto delicadamente, fazendo um pedido que fez meu corpo se arrepiar. Sua promessa me fez lembrar de uma de nossas primeiras conversas, alí, afirmou que eu era ingênua demais para um mundo onde isso era abominável. Naquele dia, também disse que sentia vontade de destroçar minha esperança, assim como fez algumas horas atrás.

Sorri de leve enquanto sua mão acariciou minha bochecha suavemente. Não respondi seu pedido, apenas encarei seu rosto de culpa e seus olhos brilhantes por cima de meu rosto. Me virei de costas, deixando a garota estática na mesma posição de antes. A vulnerabilidade em meu corpo carregava meus passos, me permitindo a seguir em frente sem olhar para trás, efeito do orgulho que também se afundava em meu peito. Eu poderia mentir para mim só para me convencer de que eu gostava dessa forma, assim não doeria dessa maneira, mas a agonia era real; ultrapassava todos os limites humanos, e se eu fosse permitida, eu gritaria para todo o mundo o quanto queimava acreditar que o nada era melhor do que isso.

Limpei as lágrimas salgadas caídas em minha bochecha com as costas de meus braços, meus pés cambalearam bebadamente enquanto eu sentia sua presença ficar cada vez mais distante a cada passo que meu corpo dava. Senti como se eu tivesse deixado o meu coração para trás, como se aquilo que me mantia vivo estivesse vulnerável e sangrando, caído sobre o chão da rua, implorando pelo meu toque e pelo meu cuidado. Não podia olhar para Billie por uma última vez porquê eu desejaria correr até seus braços e cair dentre eles, mergulhar entre frio que seu corpo emanava.

— Adeus, Billie. — Sussurrei como um suspiro, sabendo que ninguém além de mim havia sido capaz de me ouvir.

Estava tudo acabado – todos os toques, todas as belas palavras mentirosas que escutei, toda a melancolia em seu silêncio confortável, todas as vezes que os seus olhos brilhantes e poéticos encontraram o meu caos esverdeado.

Ela cresceu em meu coração só para deixar um espaço nele quando fosse embora.

Acabou.

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Ia lançar esse só quando o próximo capítulo tivesse pronto, mas tava ansioso pra fazer vocês sofrerem. :'D

Always Look Behind You. - Billie Eilish. [G!P]Onde histórias criam vida. Descubra agora