* Billie's pov.
Não conseguia evitar de olhar para seus lábios. Seu rosto repleto de sardas me lembravam as manchas de café em minha camisa predileta, me lembravam as estrelas pintadas no teto do meu quarto, me lembravam as telas que pintei enquanto tentava arrancar toda a dor que foi me dada. Ela parecia como uma pedaço de mim, um pedaço que foi tirado e levado para longe. Era uma continuação das minhas artes mais belas, uma extensão das minhas dores mais profundas, ela era tudo que eu não conseguia explicar em palavras. Era tudo que eu nunca consegui fazer com que fosse embora.
Eu poderia escreve-lá em um papel velho, contar todos os seus detalhes para alguém que nunca seria capaz de enxerga-lôs, a estampar em uma parede branca e sem graça, assim talvez transformasse isso em arte. Ela estava em minha frente, não fazia nada demais, nada que fosse bonito demais, poético demais, no entanto tudo o que conseguia pensar enquanto a olhava era o quão artística era. Não poderia deixar de me perguntar como alguém poderia fazer um ser humano quase perfeito.
Queria que ela estivesse em todos os lugares que nunca esteve. Que todo o mundo fosse capaz de presenciar sua beleza que se equiparava as das cachoeiras que caiam freneticamente, que nunca pararam de derramar formosura sobre o rio em que residiam.
O inferno nunca poderia tê-la.
Isso era o suficiente para que eu a quisesse.
Eu fui condenada ao inferno desde o primeiro momento que meus pulmões se preencheram com ar. Foi me dada uma vida que nunca quis. Ártemis era o que eu sempre quis experimentar, a liberdade. A vida.
E então quando meus olhos se fixaram nos seus pela primeira vez, eu sabia que estava destinada a querer algo que nunca poderia ter.
— Billie, você pode me passar a tesoura? — Ártemis pediu, me arrancando dos meus pensamentos. Eu assistia a garota terminar a maquete de ciências junto com suas amigas, embora estivesse como participante, eu não estava fazendo sequer uma coisa para ajudá-las, e eu não me arrependia disso.
Peguei a tesoura encostada na mesa atrás de mim, entregando-a para a garota, nossas mãos se tocaram, e instintivamente eu dei um sorriso sem deixar os dentes a mostra, a garota abaixo de mim demorou, mas fez o mesmo.
Desconectei nossos olhares quando Cherry, uma das colegas que estava fazendo o trabalho junto com as outras meninas chamou minha atenção.
— Você mora por perto, Billie? — A garota de fios ruivos tingidos me perguntou, me fazendo ficar pouco nervosa.
— Moro. — Respondi seca, tentando desviar do assunto.
— Você não gosta de falar muito, não é? — Ela me fez mais uma questão, me deixando ainda mais nervosa do que antes.
— É. — Mordi o interior da minha bochecha ao responder.
O trabalho parecia entediante e dificultoso de se fazer, mas tinha uma grande chance de eu acabar estragando com tudo se eu tentasse ajudar. Me levantei do baú que ficava de frente para cama, onde antes estava sentada, e saí do quarto sem nem mesmo comentar com ninguém. Me permiti explorar o resto da casa, que por sinal, era enorme para apenas duas pessoas viverem.
Após descer as escadas, dei de encontro com a mãe de Ártemis, que agora já era capaz de me ver. Sorri meigamente para ela.
— Olá, querida. Precisa de alguma coisa? Quer que eu te mostre onde é o banheiro? — A moça perguntou de forma prestativa. Ela se vestia com um terno feminino de advocacia, seu perfume invadia o cômodo inteiro, parecia que estava pronta para sair ou algo do tipo.
— Não precisa, senhora. Estou bem. — Estendi minha mão para que ela apertasse. — Billie Eilish, amiga de sua filha, prazer. — Cumprimentei, logo recebendo um aperto de mão da moça gentil.
— Prazer Billie, se sinta em casa. — Suas palavras me fizeram rir internamente, já que eu já morava aqui a alguns dias. A moça continuou subindo as escadas, e eu continuei as descendo, indo até o quintal espaçoso da residência e me sentando no banco a frente da porta. Suspirei pesadamente, olhando para o horizonte azul, o céu da tarde em que o sol brilhava, e as nuvens brancas desenhadas.
Pude escutar passos leves descendo as escadas, fiz questão de ignora-lós e apenas continuar admirando o infinito.
— Billie? Tudo bem? Você saiu do quarto do nada. — A voz doce de Ártemis invadiu meus ouvidos, me fazendo curvar o pescoço para olhar para a garota.
— Estou bem, docinho. É só que tem muita gente lá. — Sorri de lado de uma forma carinhosa. Me afastei do banco para dar espaço para a mais baixa se sentar ao meu lado, e assim ela o fez.
Ficamos em silêncio. Um silêncio confortável, desta vez. Agora, o sossego era uma virtude, a ausência de som falava mais do que jamais poderíamos dizer. O conforto era tanto, que me surpreendi ao sentir Ártemis descansar sua cabeça em meu ombro.
Nunca fui boa em lidar com contato físico. Nunca aprendi como recebê-lo, nem qual era o momento certo para dá-lo, mas estranhamente, não me incomodei com a garota deitada sobre meu ombro. Olhei para seu rosto sereno, me permitindo a sorrir mais uma vez no dia.
As folhas das árvores se mexiam agressivamente contra a ventania que se recusava a concordar com o remanso do ambiente. Isso deixava a situação pouco caótica, mas não deixava de ser quieta e delicada. Se eu pudesse, engarrafaria este momento e o jogaria dentro do oceano, assim, talvez em um futuro distante, algum pescador encontraria esta memória, e ela seria exposta em um museu pelo resto da eternidade.
E então, me atinge.
Eu poderia corrompe-lá.
Seria fácil.
Mas eu não queria.
Eu nunca quis ser o monstro que nasci para ser.
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* Gente, quando acordei tinha um monte de notificação no wattpad, chega assustei, mas tô tão feliz cara! Continuem comentando, amo ler os comentários de vocês =)
Aliás, meu sono está um pouco desregulado (na verdade, muito, eu to dormindo as 12:00 e acordando as 22:00) Então os capítulos infelizmente vão sair de madrugada ou de manhã, desculpa, é por pouco tempo, juro!
Esse capítulo tá meio capenga, não tem muito diálogo, mas juro que tô tentando meu melhor! Espero que gostem ;)
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Always Look Behind You. - Billie Eilish. [G!P]
Fiksi Penggemar"Acordei com a respiração pesada. O escuro do quarto tomou conta de minha visão, eu piscava lentamente tentando entender o que estava acontecendo. Tentei me mexer, mas meu corpo não respondeu ao comando. Forcei-me a observar o ambiente de maneira rá...