the apple doesn't fall far from the tree.

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O inferno sempre teve o mesmo cheiro de enxofre que amargava minha língua e fazia-me engolir a seco, como se o lugar não me pertencesse.
Mas que outro lugar poderia me pertencer?

— Billie, não posso te seguir daqui em diante. Por favor, seja cuidadosa, e não hesite. — Zoe segurou em meu braço. — Não hesite, ouviu?

Afirmei com a cabeça, arrancando meu braço de suas mãos e seguindo em frente, escutando um suspiro forte dela, que claramente sentia-se culpada por me deixar novamente, mesmo que dessa vez, menos vulnerável.

— Ei, espere! — Minha irmã exclamou, fazendo-me virar de costas. — Por favor, Billie. Não se torne quem papai quer que se torno.

Com uma estaca presa as minhas costas, eu sabia muito bem que estava me tornando exatamente o que meu pai queria que fosse: um ser maligno, cegado por ódio e sedento por vingança.

Eu afirmei com a cabeça, abaixando meus olhos antes de voltar a caminhar.

Os músculos fragilizados de meu corpo se enrijeceram enquanto meus passos pesados faziam a lama respingar pelo solo de barro. Meus dentes trincaram a medida que as memórias assolavam meu cérebro já repleto de informações, limpei minha garganta de maneira silenciosa e abaixei a cabeça, evitando olhar aos arredores.

Não tinha nada de diferente no submundo, aquele local, que era cenário da minha pior memória e de meu maior pesadelo, estava miserável como de costume, tamanha agonia de um povo que sofre da carência.

Não há muitas armas que se pode usar para matar um demônio de sangue azul. Minhas mãos cheias de ódio e manchadas pelo sangue do amor da minha vida são mais que suficientes, o remorso descansando sobre minha pele é como gasolina e eu queimo por dentro como se carregasse o inferno dentro de minhas veias e ele estivesse colocando meu sangue para ferver.

Chegando ao palácio, a primeira coisa que notei foi Agnes plantada na porta, com uma expressão preocupada e gestos ansiosos, e ao me ver, levantou-se e correu para mim.

— Por favor, vá embora, Macária. Não vale a pena lutar, você sabe! Seu pai está possesso, ele vai te matar se você o der a chance. — A asiática disse, com certa pressa. Eu ri, empurrando ela com meu braço para que ela saísse de meu caminho.

Caída no chão, ela puxou minha camisa, se ajoelhando.

— Por favor! — Minha noiva, quem eu repudiava, me implorou.

— Você matou minha família, você não tem direito de me pedir por nada. — Me agachei, falando com a garota de cabeça baixa. — Você vai pagar também, sua desgraçada.

— Eu não queria, Billie, eu não queria. — Ela afirmou, /ela mentiu/ começando a chorar. — Íamos nos casar, por que não disse a ela? Por que a engravidou?

— Por que ela era o amor da minha vida. — Eu disse, com pesar. A palavra no pretérito rasgando minha língua e dilacerando meu coração que não estava lá. — Ela era sua melhor amiga, Agnes, como você pôde? Ela confiou em você.

Minha voz chorosa de dor, mas não pela minha dor, sim pela de Ártemis, dor por ter confiado em alguém que ela não deveria, mas que deveria poder.

— Ela era minha melhor amiga mas eu não podia fracassar! Por que você se importa? Ela era só uma humana, ela já está morta! — Gritou entre seus soluços. — Ela morreu, Macária! Ela não vai mais voltar! Nada importa mais, ela está mor-

Antes que pudesse finalizar, atingi seu rosto, fazendo com que se calasse.

— Ela está morta, Agnes. — Aproximei-me ainda mais, segurando seu rosto com força. — Você matou ela.

Always Look Behind You. - Billie Eilish. [G!P]Onde histórias criam vida. Descubra agora