moon.

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* Billie's pov.

Ártemis me encarava pelo outro lado da sala, seu rosto tinha uma feição cansada. Descansava sua cabeça na palma de sua mão, de uma maneira que parecia até desconfortável, ou doloroso. Ela não se esforçava para responder as questões matemáticas escritas no quadro, o que me fez a invejar pelo fato de que nunca fui tão boa com números. Nunca foi necessário, afinal, meu futuro já percorria pelo meu sangue. Nada que eu fizesse poderia mudar o fato de que eu sou filha de Lúcifer, herdeira do trono do inferno, a sucessora. Sempre tive que ser a mais forte, era quem eu tinha nascido para ser. Fosse sorte ou azar, nada poderia fazer com que fosse diferente.

No entanto, vir a terra foi uma decisão estúpida. Não tinha um motivo, não tinha algo que tivesse na terra mas não no inferno. Pelo menos não quando eu vim da primeira vez, foi quando meus olhos bateram pela primeira vez em Ártemis. E agora tinha algo que o inferno jamais teria; Pureza. Inocência. Piedade. Sentimentos humanos me atraíram, isso não era estúpido? Definitivamente essa era uma das coisas mais estúpidas que já havia feito.

Boa parte dos demônios que moram na terra, vieram em busca de vingança, retaliação. A outra, vinham por diversão, pregar peças e espalhar o medo, porque era divertido ter alguém na palma de suas mãos. Ser superior a alguém, algo que nunca sentiriam no inferno. Alguns, a minoria eu diria, se sentiam em casa, se sentiam confortável em um ambiente quase totalmente humano. Mas não para mim. Era vergonhoso dizer que eu estava obcecada por um humano, não só pelos seus sentimentos, mas por ela por inteiro. Era abominável, temível, inaceitável. O que os moradores do inferno sentiriam se soubessem que a sucessora do lugar em que moravam estava completamente obcecada por um ser inferior?

Alguém completamente dominado por sentimentos, alguém genuinamente capaz de sentir empatia, alguém tão fraco que poderia ser quebrado sem qualquer esforço. Alguém que deveria se curvar ao meus pés e implorar por piedade. O sangue corre por suas veias, seu coração bombeia mais forte quando sente medo, ela se encolhe quando sente frio. Estar obcecada por alguém cujo era tão frágil quanto um copo de vidro era um perigo, era injusto e assustador. Era decepcionante.

Era desconfortável ter noção de quanto perigo ela estava exposta. Em um mundo sombrio e feroz, onde mal tinha noção do lugar em que caminhava. Onde só via o que queria ver, ou o que era permitida, o que foi fadada a acreditar.

[...]

A garota de cabelos castanhos guardava seu material na mochila de cor verde água encostada na carteira da escola. Ela parecia irritada. Caminhei em passos lentos até próximo do seu corpo, tocando seu ombro para chamar sua atenção para mim. Ela virou a cabeça, me olhando com um sorriso meigo, sem mostrar os seus dentes.

- É hora do intervalo. Eu vou ficar na sala, se você quiser, pode ir andar pela escola. Talvez aprender onde fica cada lugar, não sei... - Sua voz parecia cansada, deixou um suspiro escapar de sua boca, me fazendo curvar a cabeça confusa.

- O que aconteceu? Você não parece bem. - Perguntei, pouco preocupada.

- Nada demais. É só que a escola suga qualquer resto de energia em mim. - Ártemis deu uma risada baixa, logo antes de respirar fundo.

- Bem, eu não acho que tenha algum motivo para sair da sala. - Puxo uma das cadeiras ao lado da garota, que faz um barulho alto e agudo.

A garota sem mantém em silêncio, desenhando com seu dedo em sua bancada. Eu consigo escutar seu coração bater mais rápido do que o usual, eu sinto a agonia escapar de cada respiração falha que ela solta com dificuldade. Um sentimento humano que não parecia bom de se sentir.

- Parece que algo te preocupa. - Chamo sua atenção, a tirando dos seus devaneios.

- E como você pode ter tanta certeza? - Pergunta. - Ah, é. Lembrei. - Ela ri de suas próprias falas, embora não sejam engraçadas.

Always Look Behind You. - Billie Eilish. [G!P]Onde histórias criam vida. Descubra agora