gone.

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Os olhos oceânicos herdados de uma violência imensa pairavam por cima de mim. Dor e sofrimento vidrados na imensidão azul, e mesmo assim, consegui ver o monstro que ela é. Em meio ao desespero para salvar minha vida condenada, ela engolia seus soluços para evitar me desesperar mais.

A dor, por sua vez, já havia tomado conta de meus músculos. Já nem mais tinha força pra chorar, então choramingar baixo fora a única solução. Eu não podia esperar para sentir o alívio da morte.

A primeira coisa que a criatura de olhos sombrios fez, foi arrancar meu dedo anelar com uma faca de serra, para que Billie jamais pudesse colocar um anel de casamento em meu dedo. O sentimento agoniante da faca cortando minha pele de maneira dificultosa gerou gritos de dores que levaram o demônio a sorrir de prazer. Depois, ele me espancou. Sua força incalculável parecia tão imbatível que a cada chute, eu sentia a morte se aproximar de mim como uma dádiva que viera em busca de seu filho pródigo. Seus chutes e murros torceram minha mandíbula e deslocaram meu joelho, me impossibilitado de fechar a boca ou ficar em pé. Logo em seguida, com um maçarico, ele ateou fogo sobre a pele de minha barriga, deixando a pele vermelha e em carne viva. Por fim, ele pegou a mesma faca cega e cortou minha canela de uma maneira bruta, se deliciando com minha agonia e deixando meu osso exposto, depois, me esfaqueou em sete pontos não-vitais de meu corpo, para que eu pudesse sangrar até morrer, e de uma maneira sádica, me mergulhou em uma banheira cheia de gelo, tornando o processo mais lento e doloroso.

— Ártemis, você precisa- não fecha os olhos... — A voz doce implorou, e minha visão desfocada fez questão de subir, me mostrando uma versão de Billie que eu jamais poderia pensar em ver. — Por favor, olha para mim.

Seu rosto estava manchado em meu sangue, e enquanto eu sentia seu toque, também sentia o cheiro do charuto de seu pai atrás de mim. Eu quase pude odiar os dois da mesma maneira.

Fosse agressivo ou não - o toque de Billie me machucava, e meu corpo quase inconsciente, que mal conseguia forma palavras, pedia por distância em murmúrios sufocantes. Ela não os entendia, e pela primeira vez, me senti incompreendida pelo amor da minha vida.

— Olha- Eu sei que você está com medo, certo? Eu sei que sim. Me desculpa por te assustar- Eu te avisei que era um monstro e você vai morrer por minha causa. Você vai morrer com medo de mim. Eu não quero que esses meses de amor se resumam a medo... Eu não vou conseguir viver carregando o peso do seu medo pela eternidade. - Billie afirmou, nossos olhos nunca se desencontrando. Uma lágrima quente sua caí sobre a pele de meu rosto, e eu quase sinto o medo que ela tem pelo meu medo.

Eu sempre imaginei Billie como alguém que não podia sentir medo, mas agora, sobre o luar de seus olhos, eu via o pavor que sentia de ser odiada. O seu toque cheio de ternura era um veneno naquele momento, e embora fosse a última vez que eu o sentiria, também era a última vez que ela o sentiria.

Eu estava morrendo.

Ela estava condenada a viver sem mim durante toda sua vida.

Não importava de quem era o destino mais cruel; era um fim para ambas de nós, mas só uma teria que carregar isso para sempre.

Não seria eu.

Eu não conseguia disfarçar meu ódio, não conseguia disfarçar que a culpava. Não podia morrer olhando para ela. Essa não podia ser a última lembrança que ela teria de mim.

Então, desviei meu olhar, olhando para Lúcifer que carregava uma expressão orgulhosa.

Meu sangue manchava uma poça sobre o chão, minha visão estava turva, meus olhos mal se mantinham abertos. Eu olhei para o rosto sorridente dele, eu estava com tanto medo, mas não do que aconteceria comigo, porquê quando vi Billie correndo em minha direção, notei que aquela dor não era minha, ele queria machucar ela através de minha dor, e Deus, oh Deus... Ele parecia ter conseguido.

— Eu te am-... — Meus pulmões não puxaram mais o ar e eu engasguei no sangue que escapava da minha boca, eu tossi desesperada e as gotas de suas lágrimas caíram sobre meu rosto conforme os soluços ficavam cada vez mais distantes.

Os braços frios, pela primeira vez pareceram quentes enquanto me abraçavam de maneira apertada, era de se doer o quanto ela implorava para que eu tentasse, mas eu mal sentia vontade, mesmo com seu choro invadindo minha alma e a partindo em pedaços, muito mais do que Lúcifer pôde fazer com o objetivo de me matar.

Billie me partiu em pedaços tentando me salvar... Malditas mãos, maldito demônio. Meu maior pecado, e o pecado que mais amei.

Quando eu limpei o excesso de sangue com a última força que me restava, eu não vi nada. Eu estava finalmente morta, mas ainda consegui sentir o último resquício de humanidade de Billie se acabar a maneira que meu pulmão inspirava pela última vez.

A dor foi-se para sempre, e dali por diante, eu descobri como a morte era confortável.

Que Deus me tenha, mas ele nunca poderia, pois enquanto viva, meu coração pertencera ao demônio, não pintado em ouro, mas pintado de cruel.

Que Deus me tenha, mas eu não o pertenço.

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N/A:

Bom, ainda não chegamos ao final — faltam três capítulos.

Mas, não, a Ártemis não tem um final feliz. Não há nenhum epílogo que mude o destino cruel dela – isso é quase agoniante, afinal, Ártemis era apenas uma garota que tinha o desejo de amar.

Eu sei que dói, sei que machuca, e esse sempre fora meu objetivo com ALBY. Eu sempre quis causar sentimentos reais através da escrita, e embora tenha tido vários furos de roteiro, uma perca considerável de leitores e eu odeie o que a história se tornou, meu objetivo foi alcançando. Eu causei — ou ao menos espero ter causado — sentimentos reais através de palavras.

Afinal de tudo, o começo ao final, torna a jornada dessa história singular.

Se vocês esperam que a Ártemis volte, já podem tirar a história da biblioteca e imaginar um final feliz. Ártemis morreu, sua existência foi apagada, não há salvação, não há consciência, pra ela, é tudo um vasto escuro silencioso, e pro resto do mundo ela não é ninguém.

Mas pra quem acha que deve continuar, ainda há luto e vingança.

É isso, votem e comentem. (Sério, não dêem corda a maluco, já to pensando em apagar)

Always Look Behind You. - Billie Eilish. [G!P]Onde histórias criam vida. Descubra agora