Capítulo 16

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Bellini

Confiro às horas e constato que em breve Gisele chegará em casa, mas ainda há tempo para organizar o jantar romântico que estou planejando. Faz um mês que saí do hospital e já consigo me movimentar melhor, dificilmente sinto dores e a cicatrização está dentro do esperado.

Há 15 dias, tive a revisão com o cirurgião, não foi algo nem um pouco interessante, por meu médico ser irmão da minha namorada, e eu não ser a pessoa que ele mais gosta no mundo, contudo não houve maiores problemas. Ele me receitou repouso e mais 30 dias em casa antes de retornar ao trabalho.

Não consegui ver Gisele naquele dia no hospital, mas deu para sentir o clima hostil entre os funcionários em relação ao nosso relacionamento.

Antes de voltar para o apartamento de Gisele, quis passar na minha casa e ver se o clima tinha melhorado, mas o motorista do táxi me disse que estava ocorrendo uma operação policial na comunidade e mudei de ideia.

Consegui vender a oficina há algumas semanas e várias pessoas já foram ver a casa. Pelo que Maria diz, em pouco tempo também conseguirei vendê-la e com este valor, alugarei um apartamento e conseguirei certa estabilidade. Não é muito dinheiro, mas pelo menos não vamos viver no mesmo sufoco que antes e o melhor disso é que manterei meus irmãos longe da violência.

Desço meu olhar para minhas pernas e vejo meus meninos dormindo agarrados a elas. Hoje eles brincaram até a exaustão, a babá os levou ao zoológico e passaram o dia por lá, chegaram quase à noitinha, ela deu banho neles e jantaram quase sonolentos, vieram se arrastando para o meu quarto e mal deitaram na cama e já adormeceram.

Só aceitei continuar com a babá depois que Gisele concordou que eu assumiria as despesas em relação a ela e para falar a verdade, pretendo continuar com ela mesmo após alugar um lugar para ficar com os meninos, eles gostam dela.

Eles vão sentir falta daqui, não só pelo luxo, mas sim por todo o carinho, atenção e segurança que têm e vão sentir falta de Gisele, mas eles ainda vão se ver, não mais como agora, mas vão. Não pretendo me afastar dela, eu apenas sei que tenho que sair, que temos que sair.

Ela não fala, mas tenho certeza de que está tendo vários problemas no hospital e com a família.

Ontem ela chorou baixinho pensando que eu estava dormindo, então eu a puxei para meus braços e a beijei, perguntei o que estava acontecendo, mas ela não me falou. Ela não diz nada, é como se quisesse manter os problemas longe da gente, mas eles nos cercam como arame farpado que a qualquer movimento ferem e muito.

Eu sei que a sua família não me quer aqui, não nos querem juntos. Mas por enquanto não vou focar meus pensamentos nisso, quero continuar vivendo na maravilhosa bolha que criamos. Nossa cumplicidade aumenta a cada dia, criamos laços que eu sei que estão sendo enraizados em nossos corações e no momento em que ela entra pela porta do apartamento, entramos no nosso lugar perfeito.

Só tem uma coisa que discordamos: eu quero fazê-la delirar diariamente e ela insiste em esperar.

Há um mês que não fazemos amor, nos beijamos, tocamos, mas sempre que as coisas esquentam, Gisele se afasta. Ela se culpou por dias pelo que houve na última vez e me fez prometer que só tentaríamos novamente duas semanas depois da última consulta, ou seja, hoje.

― Vamos para a cama. ― Acordo Marcelo e Matheus e os levo para o quarto em que eles dormem.

Estava cansado de ver Gisele andando na ponta dos pés no seu próprio quarto com medo de acordar os meus irmãos. Por este motivo, há algumas semanas decidimos que o melhor era trocá-los de quarto, eles não ligaram muito, o que foi um alívio.

Bellini- O Amor pode estar onde menos se espera.Onde histórias criam vida. Descubra agora