Capítulo 18

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Gisele

― Bom dia, mãe, o que a traz aqui? ― indago enquanto contorno minha mesa e me sento.

― Vim confirmar sua presença na festa que daremos amanhã.

Há alguns dias minha mãe disse que daria uma festa e deixou explícito que eu devo ir sozinha.

― Finalmente vamos inaugurar o hospital de São Paulo. Temos que comemorar.

― Sim, realmente é um bom motivo para comemorar.

― E você parece que não liga para mais nada que seja referente a sua família ― explode.

― Meu namorado está convidado?

― Não começa, Gisele.

― Então não tenho por que ir, mãe. Para ouvir vocês ficarem falando dele e nós brigarmos como no último jantar? Não, muito obrigada.

Há um mês, minha mãe ofereceu um jantar em sua casa e as 3 horas que passei lá foram um inferno. Discuti com meu pai, meu irmão e finalmente revi meu cunhado, após meses que voltei ao Brasil, e ele foi o único que não se mostrou contra o meu relacionamento com Bellini.

Rodrigo, meu cunhado, também não foi aprovado pelo meu pai e minha mãe, mas devido à diferença de idade entre ele e minha irmã, ela tem 10 anos a mais que ele.

Nunca opinei sobre o relacionamento deles e fiquei feliz por ele fazer o mesmo com o meu, talvez seja porque ele também passou por maus momentos com meus pais.

Só não imaginei que eles fariam isso comigo.

― Eu costumava ser sua filha querida, era assim que você me chamava: minha filha querida. ― Faço aspas com as mãos para enfatizar o fato.

― E você acredita que deixou de ser? Julga que estaria tão indignada se você não me importasse?

― Você me dizia que eu trabalhava demais, que deveria me divertir mais.

― Se divertir, Gisele, não levar um sem-teto com crianças a tiracolo para sua casa e brincar de casinha.

― Ele quer se casar comigo. Estamos juntos há meses, quando a senhora vai entender e principalmente aceitar que não é uma brincadeira?

― Claro que ele quer. É obvio que ele quer se casar com você!

― Esperaria esse comportamento de todos, menos da senhora, e eu estou cansada de esperar vocês entenderem, cansada de ouvir as mesmas coisas diariamente, a senhora deveria querer me ver feliz.

― Quero te ver feliz! Gisele, você tinha sonhos acadêmicos lindos, queria fazer mais uma especialização e eu nem ouço você falando mais disso.

― Eu fiz uma escolha, mãe, eu quero viver isso, eu quero filhos, quero uma vida com ele, é a minha escolha.

― Mas não é o que eu e seu pai sonhamos para você. Você deveria ser a maior cardiologista do país, deveria receber vários prêmios, o nome do hospital e o seu seriam reconhecidos por toda a área médica internacional e onde você fosse seria reconhecida e respeitada como a Doutora Gisele Carvalho e Costa. ― Enquanto minha mãe solta toda a sua frustração, eu a fito absorvendo suas palavras, sentindo sua dor, angústia e raiva.

Eu fecho meus olhos, porque em algum lugar dentro de mim ainda existe aquela menina que ficava feliz por ter a aceitação e aprovação dos seus pais em tudo que fazia. Eu era a menina de ouro, a que não errava, a que fazia tudo que eles queriam e superava as expectativas.

Bellini- O Amor pode estar onde menos se espera.Onde histórias criam vida. Descubra agora