Contra as regras do esquadrão

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A cabeça decapitada do cinco inferior se foi ao chão, mas seu corpo mesmo que começando a se transformar em poeira continuava andando na direção de Nezuko e Tanjirou sentindo tanta inveja que chegava a se tornar raiva. Giyuu observava aquela situação atentamente, mas não se atrevia a mexer um músculo sequer.

A sentença de morte daquele oni já estava assinada mesmo.

O corpo sem cabeça de Rui foi perdendo a pouca força que tinha e caiu de joelhos bem na frente dos irmãos Kamado, suas pequenas e pálidas mãozinhas ainda tentavam desesperadamente alcançá-los mesmo que ele sequer tivesse forças de fazer qualquer coisa mesmo que os alcançasse.

Nezuko desenterrou a cabeça do peito do irmão e olhou para o corpo do oni que estava desaparecendo enquanto algumas lágrimas começavam a escapar de seus olhos cor-de-rosa.

"Ele... É tão pequeno... E tem um cheiro tão triste... É impossível de suportar..."— Pensou a caçadora.

Nezuko sentia pena, ela entendia que Rui precisava morrer; mas sentia pena, sentia uma necessidade enorme enorme de consolar aquele demônio... Aquele menino... Em seus últimos momentos de vida...

Mas assim como as mãos de Rui não os alcançavam, as mãos de Nezuko também não alcançavam Rui.

A Kamado tentava e tentava, mas seu corpo não tinha força o suficiente para sequer estender o braço e consolar aquele demônio, que agora ela só conseguia ver como uma pequena criança.

 Se sentiu uma porcaria de irmã mais velha.

Mas não precisou se preocupar com isso por muito tempo, uma mãozinha que apesar de ter garras mortalmente afiadas em cada dedo, ainda era bem mais macia e delicada que as mãos cheias de calos da caçadora de oni alcançou o corpo frio de Rui, foi apenas um toque em suas costas, mas aquilo definitivamente tinha sido o toque mais gentil que o cinco inferior tinha recebido em possivelmente dezenas de anos.

—Tanjirou...— Nezuko virou o rosto para o irmão que apesar de estar visivelmente cansado, pode sentir a tristeza daquele demônio.

O oni de mordaça então com certo esforço se sentou no chão carregando sua irmãzinha consigo e a ajudou a se aproximar do corpo que ainda desaparecia, colocou novamente sua mão nas costas do oni e lançou um olhar caloroso para a irmã como se a incentivasse a continuar. Se Tanjirou pudesse, Nezuko tinha certeza que esse seria o momento em que ele lhe lançaria um sorriso que poderia competir com o próprio sol e lhe diria: "vá em frente".

"Onni-chan... Você é... Mesmo a pessoa mais bondosa que existe nesse mundo..."— Nezuko pensou enquanto lançava um sorriso fraco e colocava a própria mão nas costas do oni, o toque suave da mãozinha delicada do irmão mais velho tinha um contraste enorme com o da mão grossa e calejada da irmã mais nova.

Mas nenhum desses toques foi de qualquer forma desagradável para Rui.

"Que calor..."— Pensou o cinco inferior— "Uma mão gentil como um raio de sol..."

"Ah sim.. Agora eu me lembro bem..."— Nesse momento, Rui teve uma vaga memória de seus pais. Já fazia tanto tempo... Ele sequer podia se lembrar de seus rostos— "Me desculpem... Eu fui o culpado por tudo... Eu espero que possam me perdoar... Mas como eu matei muitas pessoas... Eu provavelmente irei para o inferno..."— A vista de Rui foi escurecendo, ele já não podia ver os irmãos Kamado que lhe consolavam em seus últimos momentos apesar de ainda poder sentir o toque gentil deles— "Papai... Mamãe... Não poderei ir pro mesmo lugar que vocês estão..."

—Isso não é verdade— Uma voz familiar que Rui não ouvia a muito tempo apareceu de repente.

Rui abriu os olhos novamente, não estava mais naquela floresta fria e sim em algum lugar iluminado que ele não sabia identificar direito onde era, mas provavelmente seria a tal "vida após a morte", ainda sentia duas mãos gentis em suas costas, mas agora ao invés das de Tanjirou e Nezuko, eram de outras pessoas...

A promessa do solOnde histórias criam vida. Descubra agora