Psámata

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A mulher mais velha analisava Shuhua com cuidado, sentia uma leve preocupação com o que estava acontecendo com a estrangeira e tudo que ela havia reportado para si naquela consulta. Era óbvio que ela sabia bem o que estava acontecendo com a jovem, mas não poderia simplesmente alertar ou dizer de uma vez por todas o que significava todos aqueles sentimentos, tinha que deixar Shuhua descobrir isso por ela mesma.

– Taquicardia é uma condição que faz o seu coração bater bem mais rápido que o normal, e se não cuidar dela você pode acabar morrendo. – sua perna tremia de forma frenética. – Isso tem acontecido muito comigo, então acho melhor eu passar em um médico cardiologista para que ele me receitar algum remédio.

–Shuh..

– Tem me incomodado bastante, e ao menos é só isso! – Franziu o cenho. – Não é apenas esse sintomas, mas há também as vezes que eu sinto algo estranho na minha barriga, como se me deixasse enjoada e nervosa.

– Shuhua..

Novamente respirou fundo e deixou seu pequeno caderno de anotações na mesa, voltando o seu olhar para a taiwanesa. Na maioria de suas consultas a Doutora Seoyun apenas ouvia e auxiliava Shuhua, mas naquele momento apenas ignorou toda a sua conduta e a olhou seriamente, conseguia ver o lampejo de medo e confusão nos olhos da taiwanesa e entendia perfeitamente o por que daquilo. Mesmo que Shuhua nunca tivesse tido essa experiência de ter interesse por alguém e sentir esse gostar, ela sabia que a jovem já tinha uma certa noção do que tudo aquilo se tratava, mas apenas estava negando para si mesma ou escondendo isso.

Ela estava insegura.

Mesmo sendo tão nova já tinha passado por tanto e ela sabia a razão pelo o seu pai tê-la abandonado e isso que ela mais temia. Esses sentimentos e essa amizade com Soojin que só vinha crescendo estava cada vez mais a ajudando, já era óbvio por boa parte da família de Shuhua. Desde que a coreana entrou em sua vida as mudanças em relação a Shuhua não paravam de acontecer, em todos esses anos nunca viu ela tão confortável na presença de outro alguém sem ser da sua própria bolha, da mesma forma que nunca viu ela se aventurar para fora da sua zona de conforto.

E o fato dessas mudanças terem nome e um sobrenome e estar afetando tanto ela a assustava. A assustou porque ela nunca tinha sentido isso em sua vida, ela nunca viu seu coração bater dessa forma e nunca sentiu um medo tão grande de perder alguém ou ver ela se afastar como o seu pai fez.

– Isso é normal.. – Sorriu. – Está tudo bem você sentir assim, porque não é algo que podemos evitar de qualquer forma. – Levou sua mão sobre a da taiwanesa e acariciou. – Eu entendo que é assustador, mas mais para frente você vai ver que todo esse medo vai passar.

Observou a expressão pensativa da garota e a forma como aquelas palavras pareciam ter a acalmado de alguma forma.

– Significa que eu não vou poder ter um remédio para isso parar?

Essa foi a primeira consulta que Shuhua teve para falar sobre o que andava acontecendo, foi a primeira vez que se abriu dessa forma com alguém para dizer que esses sentimentos a incomodavam. E mesmo não entendendo muito o que a Doutora quis dizer, aquelas palavras ainda faziam ecos em sua cabeça, principalmente com a visão que tinha à sua frente.

– Está tudo bem Shuhua? – A voz da sua irmã chegou aos seus ouvidos, mas ela não respondeu. – Seu rosto... você está com dor?

Era o segundo dia desde que chegaram. A escola tinha apenas um objetivo ali que era os grupos já formados para fazerem esse trabalho que iria substituir a prova, porém como ficariam por quase uma semana nesse acampamento, decidiram que seria uma boa ideia dar alguns dias de "férias" para os alunos.

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