Capítulo 7

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Depois do observatório, voltamos para casa. No caminho de volta Maraisa me disse que esse foi um dia cheio de primeiras vezes. Primeira vez que foi lá, primeira vez que viu a chuva de meteoros, primeira vez que dormiu fora e a primeira vez que me abraçou.

Enquanto dirigia, pensei em como vai ser na minha casa, esse é um passo e tanto nessa relação que estamos criando.

Minha casa é grande. A parte da sala, copa e cozinha são divididas por balcões revestidos por pastilha e com mármore em cima. Não tem muita decoração, sempre presei pela simplicidade. Tem alguns quadros na parede, tapetes e só! Tudo em cor escura, apenas as paredes claras.

Maraisa entra olhando atentamente e seus olhos passeiam por tudo e param mais curiosos ainda sobre o aquário no canto da sala.

— Que legal! — Fala rindo bobamente para os cinco peixinhos que ali estão. ( N/A: eissss miniiinu 🐠 )

Se eu te disser o nome deles, você vai rir. — Digo pegando nossas bolsas.

— Qual é? Gostei desse laranjinha. — Tentou chamar a atenção deles.

— Um, dois, três, quatro e cinco. — Encosto ao seu lado, apontando para cada um.

— Marília, eu sei contar! — Revira os olhos, eu ri.

— É o nome deles, aquele ali é o cinco. — Aponto para um que está próximo ao vidro.

— Sério? — Cora. — Que falta de criatividade...quem é aquele? — Aponta para a foto na parede, eu estava com Murilo na Europa. E isso surge como um estalo em minha mente, "Oh, Murilo", eu penso menos nele...aliás, com Maraisa não consigo pensar em qualquer outra coisa.

— Ele é Murilo, alguém especial...— Falo, com um sorriso pequeno.

— Sua casa é grande, você consegue uma folha e um papel para mim? E onde eu vou dormir? — Vira-se em direção ao corredor, olhando atentamente.

— Entre na primeira porta à esquerda. —  Mostro a ela.

A deixo sozinha por um estante e vou pegar um caderno, lápis e borracha em meu quarto. Estou curiosa para saber o que vai fazer.

Entro no quarto e a encontro deitada, virada de lado. Não sei se está acordada ou não então deixo as coisas sobre a mesa de apoio e saio lentamente.

—  Não. —  A ouço dizer antes de fechar a porta.

—  Oi? —  Pergunto sem entender. Seus olhos estão pequenos e a boca entreaberta, como se fosse dizer algo. —  Não o que, Maraisa?

—  Não é nada...—  Diz esmorecendo. —  Isso acontece às vezes. —  Vira-se de lado mas ainda estou sem entender.

—  Ei... —  Sento na cama, tocando em seu braço sobre a coberta.

—  Não posso controlar isso, sabe? Às vezes quero dizer algo, como agora, ia dizer "obrigada" mas sai algo sem sentido da minha boca ou algo que eu deveria ter respondido a um tempo atrás para alguém e minha mente demorou demais para processar. —  Explica, soltando ar pela boca. —  Me sinto horrível, não consigo controlar nada relacionado a fala, é tão triste...cantar, por exemplo, nunca vou fazer isso.

—  Você pode fazer outras coisas! E não precisa se sentir mal por não conseguir controlar, Maraisa. Não sei como é para você mas quero que se sinta bem comigo. Olha, você conversa comigo e sua mãe disse que você tem dificuldades de comunicação, você me ajuda, foi ao observatório comigo, são muitas coisas não? Você pode confiar em mim... —  Sussurro vendo que seus olhos estão inquietos, ora ela me olha com tamanha intensidade ora sequer passa o olhar pelo meu.

—  Eu sei, é estranho não saber lidar. Estou em casa e fico ansiosa para te ver, fico no serviço e procuro coisas para te chamar ou te ajudar e me animo com coisas pequenas como a possibilidade de almoçarmos juntas. Isso é novo, não sei como interpretar...Só queria ser normal para você gostar mais de mim. —  Seus olhos marejam e meu coração se aperta, as palavras que vem em minha garganta não parecem ser suficientes diante daquilo.

—  Sou eu quem deveria ser melhor pra você, anjo. —   Deslizo os dedos por seu rosto delicadamente. —  Você é normal, aliás, não, essas pessoas normais são chatas e estranhas como eu, você é a pessoa mais especial e linda desse mundo todo. Nem as estrelas são páreo. —  Maraisa sorri e suas bochechas estão completamente vermelhas.

— Sabia que eu pinto? Em casa tenho meu quarto e uma sala cheia de tinta, telas, pincéis, lápis de cor... — O assunto desviado é algo que eu já esperava, seus olhos brilham olhando para o teto enquanto fala sobre isso.

— Eu gostaria de ver. — Penso em que tipo de coisa ela pinta.

— Sim! Vai em casa, vai vê-los! — Anima-se. — Minha casa é um lugar bom, lá me sinto mais leve que qualquer outro lugar. Porque meus pais não me julgam e você também não, você vai estar lá e isso é legal mesmo. — Ela ri sem parar.

— Vou dormir, Maraisa. Amanhã venho te chamar. — Levanto e ela assente.

— Abraçar... — A ouço sussurrar e sorrio.

— Você deveria mesmo me abraçar. — Maraisa levanta e me abraça ajoelhada na cama. Seus braços me apertam e meus olhos lacrimejam, não consigo conter. É como se todos os sentimentos que estão aumentando segundo à segundo se transbordassem por falta de espaço dentro de mim.

Entro no meu quarto e vejo ligações perdidas de Murilo, suspiro ao cogitar ligar para ele mas está tarde. Coloco o celular de lado, sem despertador, me troco e apago. Tenho um sono pesado, mesmo. Só acordo pois minha janela é de vidro e deixa uma claridade imensa no quarto. Não vejo a hora, apenas levanto, escovo os dentes e saio.

Fico de pijama, andando sem chinelo pois não lembro onde os deixei. Tomo um leve susto ao ver Maraisa já acordada, na sala. Tem papéis por todos os lados mas o que mais me chama atenção é um que está escrito "Mapa da Maraisa e da Marilia" basicamente um desenho do interior da minha casa, com plaquinhas nomeadas em tudo. "Os peixes numéricos", "cozinha", "sala", "quarto da Maraisa" e as outras portas com um ponto de interrogação de fora a fora. Me aproximo lentamente e vejo que Maraisa está desenhando o aquário com todos os detalhes possíveis.

— Bom dia. — Digo depositando um beijo entre seus cabelos.

— Boa tarde né? — Brinca sem se virar.

— Você gosta de algo específico? — Pergunto pensando no que fazer para ela comer.

— Você. — Responde assim que termino de perguntar, rápido demais, direto demais. Ri bobamente.

— Gosta de café ou leite? — pergunto indo para a cozinha, a deixando à vontade.

— Leite, com chocolate. — Responde alto. Enquanto preparo as coisas, eu a observo. O modo leve de mexer as mãos, os pés com meias coloridas, a calça e a blusa de moletom, os cabelos bagunçados caindo nas costas.

A sua volta estão um monte de rascunhos, os papéis parecem estar jogados mas olhando melhor, eles estão perfeitamente colocados em sua volta. Me pergunto quem é capaz de fazer mal a ela? Quem é capaz de julgá-la?

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Mais um! ❤️ até ano que vem agora kakaak

You Captivated Me || MalilaOnde histórias criam vida. Descubra agora