Capítulo 12

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O livro em minha mão explica sobre a síndrome, as dificuldades e soluções encontradas para pessoas portadoras viverem bem. Há coisas que estavam no meu nariz o tempo todo e deixei passar, fechei os olhos. Mas com certeza, diante do que li, o que mais os incomodam são os olhares confusos e desentendidos diante de suas ações. Fico chateada por eu mesma já ter feito isso várias vezes com Maraisa.

Meu celular toca me dando um susto daqueles, penso ser o alarme, mas é ligação.

—  Bom dia, Marilia! —  A voz masculina do outro lado não me é estranha.

—  Quem é? —  Pergunto levantando.

—  Marco. Tudo bom? —  A animação de Marco me lembra de que eles são os senhores alegres.

—  Tudo, aconteceu algo com Maraisa? —  Pergunto de modo automático, nunca me ligam assim, por nada.

—  Não...na verdade, ela saiu com Almira para comprar algumas coisas antes de ir à empresa. Você pode vir aqui? Temos uma conversa pendente. —  Bravo ele não está, mas não consigo pensar que essa conversa poderia ser boa. —  Antes de Almira chegar, por favor.

—  apareço aí em alguns minutos. —  Desligo, já na frente do guarda-roupa escolhendo a roupa do dia.

Levo alguns minutos para me arrumar e conferir a agenda do dia. O dia é menos cheio que o anterior. No caminho para a casa de Marco me pergunto o que ele dirá, se Almira e ele conversaram, se Maraisa disse algo. Estou ficando louca com a quantidade de perguntas que vem em minha mente acerca disso.

Marco está na porta, o carro não está lá e onde eles moram está bem mais frio que na minha casa, arrepio de frio.

—  Nunca se lembra que aqui é gelado né? Pergunta, dando um beijo em meu rosto. —  Entre, bom dia.

—  Bom dia. —  Respondo indo em direção à sala.

—  Ah, não precisa sentar, quero te mostrar algo. —  Toca meu ombro, seguindo em direção ao corredor, ou melhor, a sala onde Maraisa pinta.

As paredes estão mudadas, tem peixinhos pintados em uma delas, com fundo azul. Tem flores pintadas em frente à dos peixes e as outras duas eram vermelhas. As telas estão mais organizadas, algumas ainda cobertas por lençóis, algumas ainda em andamento, outras viradas para a janela já aberta.

Todas as vezes que entrar aqui vou ficar fascinada, enquanto passo tocando as pinturas me lembro do último dia que estive aqui.

—  Você reconhece? —  Pergunta tirando o lençol de uma das pinturas que estão próximas a porta. —  Demorei a reconhecer, porém, eu e Almira inventamos de ver fotos antigas e vocês tem muitas.

Deixo de ouvir depois do "reconhece", cerca de dez telas. Meu rosto desfocado na maioria delas, ora dando atenção aos olhos, ora a boca, ora ao corpo. As telas com fundo colorido, os lábios vermelhos vivos com meu batom, como as duas paredes, os olhos em tons marrons, os cabelos, que estão em uma única tela caem em riscos sobre uma linha fina que modela os ombros.

—  E tem mais... —  Ele diz, trazendo duas telas que estão no fundo. Em uma, assim na parede, há peixes como os do meu aquário e a outra tem o interior de minha casa, a folha onde ela fez o "Mapa da Maraisa e da Marilia" estão juntos. —  Você tem uma explicação lógica?

—  Não... —  Sussurro, com uma lágrima correndo em meu rosto. —  São lindas...

—  São...tudo que ela faz é lindo, mas não é normal, você sabe não é? —  Senta-se no banquinho pequeno sobre uma tela em branco. —  Ela não deveria estar te desenhando, estar desenhando sua casa, ou tão animada para te ver...Maraisa não sabe lidar com as emoções, elas alternam entre rasas e avassaladoras, Marilia.

You Captivated Me || MalilaOnde histórias criam vida. Descubra agora