Capítulo 16

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Uma semana se passou e Maraisa se fechou para mim.

Os piores sete dias da minha vida.

No primeiro dia, após ter conversado com Murilo e divagar sozinha sobre tudo, eu voltei para casa e encontrei minha mãe guardando retratos de casamento que ficavam em meu quarto, as fotos penduradas na parede da sala e um quadro que havíamos escolhido os três juntos. Sua expressão denunciava sua decepção. Gostaria de ter lhe dito algo, mas não havia mais palavras. Sentei-me ao seu lado e ajudei, colocando tudo em uma caixa que eu sequer sabia onde tinha arrumado.

— Ele pediu para mandar pelo correio. — Minha mãe disse, entregando-me o endereço da casa da mãe de Murilo.

— Como foi a conversa? — Perguntei-lhe passando o polegar sobre uma foto de quando ainda éramos amigos. Sentiria sua falta.

— Foi difícil, sabia? Eu nunca morri de amores por seu marido, deixei claro desde o início, porém, não contava que isso fosse terminar, de verdade. — Deu de ombros. — Você deveria mudar tudo agora, a cor das paredes, o design do seu quarto, talvez, pudesse por mais cor em tudo. — Disse fechando a caixa, enquanto eu olhava ao redor pensando no que dizia.

— Maraisa gostaria de coisas coloridas aqui. — Comentei de modo espontâneo, me dando conta de minhas palavras após receber um olhar desconhecido de minha mãe.

— Nós passamos tantos anos juntas, Marilia, tivemos tantas conversas, tantos segredos e hábitos compartilhados, tanta coisa que me fez ter a certeza em todo o momento que eu conhecia mais você que seu próprio marido. — Riu mexendo a cabeça negativamente. — E bem dizia seu pai, eu estava enganada, não se conhece a pessoa nem dormindo uma vida inteira ao seu lado. — Não estava entendendo onde ela queria chegar, não estava conseguindo focar em alguma coisa sensata diante de suas palavras.

— O que ele diria disso? Acha que concordaria?

— Seu pai? — Ela continuava com aquele riso, que não era nem de felicidade nem irônico. — "Siga seu coração, minha filha.", "Você encontrou o seu lugar na história", "Quero que me conte tudo", "Não ligue para sua mãe! Nunca, nunca." Sinto falta dele. — Olhou para cima e suspirou. — Você sabe que eu não entendo, não é? Eu não sei lidar com você apaixonada e nem com a pessoa que escolheu. — A voz confessa denunciava que as palavras estavam presas, saiam como uma espécie de alívio, ela sempre foi assim, soltava aos poucos.

— Também sinto falta dele, e não esperava que entendesse, só...gostaria que estivesse comigo, que não deixasse eu me perder agora, estou com medo. E se ela nunca mais quiser me ver? Almira é minha amiga! E Marco pode me privar... — O desespero tomou conta de mim ao pensar em tais coisas.

Os peixinhos no aquário pareciam tão agitados quanto eu. Doeu cada parte de mim pensar que talvez eu não veria mais os olhos curiosos sobre eles, nem ouviria a voz alternando entre baixa e alta com seu humor. Não veria os olhos intensos sobre mim, a falta de jeito para pedir algo. Sentei-me sentindo lágrimas me ganharem grosseiramente.

— Marilia, você é adulta, por Deus! — Minha mãe sentou-se ao meu lado me puxando para um abraço.

— E isso importa? — Rebati, encostando a cabeça em seu ombro. — Eu não tenho coragem sobre isso, sabe como gosto de controle e de repente está tudo nas mãos de outras pessoas? Eu gostaria de ir correndo até ela, abraçá-la e até beija-la, mas não posso! — A frustração me irritou, ela deu de ombros apenas me acolhendo.

Era o que eu queria, não era? Tê-la ali.

O segundo dia voltei para a empresa, já previa sua ausência. Meus pés guiavam-se apressados em direção ao almoxarifado, mesmo esperando, uma ponta de mim gostaria de ter uma surpresa e vê-la lá, mas não vi.

You Captivated Me || MalilaOnde histórias criam vida. Descubra agora