Capítulo 10

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Depois de uma noite inquieta na cama, pensando no momento em que estava na casa de Maraisa, a proximidade, seus olhos fechados, o rosto quente sob meus dedos, nada estava importando naquele momento e esse era o problema, o mundo em minha volta desapareceu e só vi aquela criaturinha linda a minha frente.

Meu quarto está totalmente claro, meus dedos prendem-se na coberta com tanta força que só me dou conta ao sentir minhas unhas sendo forçadas. Acordo de madrugada depois de sonhar com Maraisa, onde Almira a impede de me ver, nós brigamos e ela está magoada, dizendo que a havia lhe traído. Não consigo dormir depois disso, meus pensamentos voltam para aquele momento, o que estou fazendo?

Desligo o despertador do celular e permaneço aqui, não minto a mim mesma dizendo que não gostaria que tivesse acontecido nada algo naquele quarto, porém, minha razão pesa em minhas costas gritando desesperadamente "sua louca", ao mesmo tempo que meu emocional me traz as imagens dela, o sorriso bobo, o abraço, os cabelos lisos ao vento.

—  Droga! —  Sussurro ouvindo o celular tocar novamente.

—  Marilia? —  Ouço a voz de Maraisa ao atender o celular, normalmente eu não atenderia, porém ao ver, a primeira coisa que penso é que algo havia acontecido.

—  Maraisa? —  Respondo com outra pergunta, a voz dela no telefone é baixa.

—  Você não vem hoje? É que eu cheguei e você não estava e também não disse nada. —  Maraisa fala tudo rápido demais.

—  Eu vou, estou em casa ainda, Maraisa. —  Sorrio só por ouvir sua voz. É isso que não consigo juntar e entender, todas as minhas ações involuntárias por qualquer coisa que venha de Maraisa, isso que estava me deixando louca.

—  Então tá bom, tchau. —  Responde e desliga, era de se esperar que desligasse.

Levanto, faço tudo que preciso, vejo o E-mail que Murilo me mandou, dizendo que está voltando em alguns dias. Passo os olhos pelo jornal que estava jogado na porta e saio.

Não demoro, repassando as coisas que preciso fazer durante o dia. Maraisa estar separando os documentos para mim é minha salvação, levaria dias e dias mexendo nos papéis e nunca ficariam tão organizados. Próxima à empresa ouço um alarme soando alto, demoro a associar ao que se relacionava.

— O elevador parou. — Danilo me diz, no estacionamento.

— Alguém estava lá dentro? — Pergunto, saindo do carro em um pulo.

— Não, alguém ia descer mas ele não subiu...dia de sorte da pessoa, vou até a filial. — Entra em seu carro e sai.

O som do alarme é insuportável e não para até que os técnicos desliguem. Subo aquelas escadas quase correndo, parando a cada dez degraus buscando ar, nunca gostei de usá-las, cansa mais que qualquer coisa.

Corro os olhos por minha sala, o salão, a sala de Almira, ainda está tudo apagado, a única luz fraca é a do almoxarifado. Caminho até lá e a porta está meio aberta, Maraisa não está em sua mesa.

— Ei? — Chamo, olhando entre as prateleiras.

— Aqui. — Ouço, ela está no último corredor sentada no canto e com as mãos nos ouvidos. — Esse barulho! Esse barulho tem que parar. — Se encolhe no canto entre a prateleira e a parede.

— Ei, calma... — Sussurro colocando minhas mãos sobre as suas, para lhe tirar daqui.

— NÃO! — Grita me assustando. — Tem que parar, meus ouvidos doem! Tem que parar, tem que parar. — Fala sem parar, se mexendo todas as vezes que tento pegar sua mão para levantá-la.

— Maraisa, já vão consertar o elevador...venha comigo. — Tento, passando o polegar em seu rosto que está banhado de lágrimas.

— Eu não posso... eu não consigo...tem que parar, Marilia, por-favor. — A voz... não tem um dia que sua voz tenha oscilado tanto quanto naquele momento. As bochechas estão vermelhas, as lágrimas escorrem pelos lados do rosto até o pescoço. Sinto-me a pior pessoa do mundo, a mais idiota por não saber o que fazer, por não conseguir chegar até ela mesmo estando tão próxima.

Saio de lá correndo, o som dos meus saltos ecoam em meio ao alarme, meu coração está em fiapos, minha mente martela entre ir até minha sala e voltar até Maraisa, porém, vê-la daquela forma me assusta, me deixa com a sensação de incapacidade sobre não saber o que fazer.

— Mari, cadê os técnicos? — Pergunto a uma das secretárias, pelo telefone.

— Eu já liguei tem um tempinho. — Responde.

— Um tempinho? Faz tempo que soou esse alarme? Liga para ele, peça para dar um jeito e estar aqui em cinco minutos. — Digo firme, estou querendo matar um, quando penso que fazia tempo que Maraisa está daquela forma, um nervoso sobe pelas minhas veias.

— Mas Sra. Mendonça, eu liguei... — Ela tenta.

— Cinco minutos! Ou os dois vão ver como está difícil conseguir emprego hoje em dia. — Digo e volto ao almoxarifado.

Os joelhos de Maraisa estão dobrados, as mãos apertadas contra os ouvidos e o cabelo bagunçado caindo para frente. Ajoelho-me passando as mãos em seus braços, não tento tirá-la de lá, apenas mostro que não está só.

— Não vai parar? — Sussurra balançando a cabeça incessantemente para ambos os lados.

— Vai, Maraisa... — Falo olhando no relógio, mais dois minutos e vou desligar a força sem pensar duas vezes.

Roo minhas unhas nesses minutos, Murilo me ensinou a manter a calma diante das situações com quais não sei lidar, quando nos conhecemos ele falava muito sobre isso pois eu estourava fácil, porém, ali tudo o que ele disse sumiu da minha mente.

O alarme cessa.

— Parou... — Pego as mãos de Maraisa afastando lentemente, seus olhos varrem todo o local.

— Desculpa, eu... — Tento falar, ajudando ela a levantar.

— Você não entende... — Fala com a voz falha sem me olhar nos olhos e seca o rosto com as mangas de sua blusa.

— Explica. — Peço, ela olha pra mim e fala.

— Sons altos me afetam... O barulho entra e toma conta de mim, não consigo pensar em outra coisa que não seja o som. Isso é desesperador, não consigo lembrar de onde estou, não consigo pensar, só consigo ver e ouvir o barulho.

— É assustador. — Maraisa continua falando. — Parece que tudo começa a tremer e preciso me sentir segura, preciso parar com isso e...droga...tenho medo! — Diz com a voz cansada. — Desculpa te assustar.

— Tudo bem... — Suspiro. Nunca saberia sobre isso, enquanto fala penso em comprar um livro para ler sobre, ou vou surtar em uma próxima ocasião. — Não precisa ter medo quando eu estiver aqui.

— É mais forte que eu. — Estende as mãos incertas para mim.

Seu corpo encosta-se ao meu, não foi um abraço como todos os outros. Ela só está aqui, com os dedos presos na manga da blusa, a respiração ainda descontrolada, o peso solto contra meu corpo.

Passei os dedos por seus cabelos, acertando os fios esvoaçados, indo do início até o fim das pontas que se enrolam lindamente.

Maraisa me faz beirar o abismo, um ímã me puxando intensamente a qual nem tento resistir.
Como poderia?
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[ continua... ]

You Captivated Me || MalilaOnde histórias criam vida. Descubra agora