Capítulo 26

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Maraisa não era criança quando a conheci, seu mundo interior parecia limitado e como ela teve medo, eu também tive, de machucar, não entender, ser julgada e não conseguir. E machuquei, não entendi, fui julgada, mas não desisti. Porque houve um momento em que meu coração a escolheu e nem por meio segundo se desfez dessa escolha.

Houve um momento em que eu soube que moveria o mundo por ela. E foram tantas coisas envolvidas, um casamento, minha melhor amiga, minha empresa, minha vida, de repente tudo virou de cabeça para baixo e não vou dizer que descobri que esse era o lado certo, não era. Voltei para o outro lado, mas voltei com Maraisa.

Todos os dias foram para mostrar que comigo os peixinhos não vão ser pegos por anzóis, a estrela cadente não vai apagar, que seu coração sempre vai bater forte em algumas situações, que não precisamos nos preocupar com os matemáticos e o principal, não precisa deixar de ser literal. Sua literalidade faz parte de quem ela é.

Estive encantada por muito tempo, pela paixão, pelos sorvetes e pelo azul, pelo amor pelas artes, pelo universo e Maraisa me deu um universo todinho. Quando ela descobriu que também poderia amar e lutou por isso, mudou a todos nós. Me fez pensar mais antes de falar, fez Almira ver que ela cresceu e fez Marco ver que também precisava descobrir mais coisas.

E com tudo que aconteceu, eu e Almira que no início estávamos conversando sobre Maraisa trabalhar para mim, hoje terminamos uma conversa sobre a filial da minha empresa que Almira vai tocar como minha sócia. É um passo muito, mas muito grande e abre pra gente outro leque de possibilidades e coisas para acontecerem.

— Eu sabia que Maraisa tinha mexido nas coisas e te contaria. Agora você é a confidente dela, sabe? Antes ela contava as coisas pra mim e agora tudo que sei é quando ela vai te ver. — Almira ri. — Mas juro que não entendi, Marilia, como...

— Almira, para. Ninguém entende nós e acho que nos faz únicas, não tem que ter uma explicação. Eu não fico te perguntando qual a razão de você ter largado tudo para mudar com Marco, porque isso é entre vocês. — Pego sua mão apertando. — Maraisa é outra pessoa agora, ela está estudando fora, está negociando de vender seus quadros e essa é a minha pessoa, eu não a moldei, nem vocês, essa é a Maraisa que se moldou sozinha e vocês devem ter muito orgulho.

— Estou orgulhosa de você também, te subestimei e em algum momento você também mudou Marilia, e eu amo essa sua versão.

— Estamos bem agora. — Digo mais para mim que para ela.

— Eu vou sair com Marco e Maraisa jajá chega. — Almira sai e me deixa na sala.

No quarto de Maraisa, na parede, tem uma das primeiras pinturas minhas e também uma que fiz quando brigamos, nós superamos aquele dia e nunca me esqueço que temos uma capacidade gigante de machucar as pessoas e temos que ter cuidado com isso, cuidado com os sentimentos dos outros. Tem também um quadrinho pequeno com um panfleto que ela levou embora no dia que fomos ao observatório, esse dia aquece meu coração.

Na cabeceira de mesa tem um porta retrato nosso na praia e um sorvetinho que acende a luz, fizeram tudo como ela queria e ela ama esse lugar. Deitei na cama por breves minutos.

— Posso deitar aqui? — Maraisa sussurra já deitando ao meu lado.

— Saudades de vocês, Mara... — Beijo seu rosto a trazendo para perto de mim.

— Eu também. Marilia, um dia eu quero casar com você, sabe? — Ela se vira de bruços, me olhando. — Ter nosso quarto, nossos peixes, nossos quadros na parede. Eu amo aprender todas essas coisas e quando tiver aprendido o suficiente, quero as pessoas que eu gosto na praia e a gente se aceitando pra sempre. Porque eu não tenho medo agora, eu tenho paz e quis isso por tanto tempo.

— Você tem todo o tempo, Maraisa. Nossa casa vai ser linda e vai ter um jardim também. — Não consigo desgrudar os olhos dela, nem controlar as batidas do meu coração.

— Ansiosa por esse dia, por essas coisas. — Ri me dendo selinhos. — Na minha sala tem muita gente bonita, sempre penso e desejo que elas tenham a sorte de ter alguém como você na vida, alguém que não desista. Eu amo você, Marilia Mendonça. Amo como você não me vê com limitações, você vê a mim, as vezes com um olhar que me faz parar de respirar, de verdade, as vezes com fogo, eu amo você. Você não é meu ar, sabe? Mas poderia ser, eu poderia respirar você o dia todinho e ficar com todo meu corpo cheio desse amor que você demonstra por mim. Você é todas as coisas boas, toda a segurança, toda as alegrias e um dia, eu realmente vou casar com você.

Maraisa me tira algumas lágrimas e não tenho muito o que dizer, a abraço e sussurro em seu ouvido: sim eu aceito me casar com você um dia. E ela ri, me apertando.

— Eu deixei uma parte do meu guarda-roupa para você trazer suas coisas e deixar aqui. — Ela diz, levantando e me mostrando. — Mas você tem que escolher bem o que vai trazer, porque tem um monte de coisa desnecessária.

— Ah é? — Levanto indo até Maraisa. — Você acha que eu tenho coisas atoas?

— Você discorda? — Fica indignada. — Você poderia mandar embora metade das suas roupas!

— Você é muito abusada, garota. — A viro em direção a cama fazendo cócegas.

— Isso não é justo! — Ri e tenta se esquivar. — Se você parar agora eu faço pipoca pra gente.

— Se sua pipoca tiver caramelo eu paro. — Rio e a deixo respirar.

— Abusada é você, Marilia. Você. — Se levanta arrumando o cabelo.

A abraço antes que saia, dando um beijo entre seus cabelos.

— Obrigada por deixar meu mundo mais leve e colorido, Maraisa.

— Agora não adianta me agradar. — Vejo um risinho frouxo e ela vai em direção à cozinha.

E é fácil imaginar essa mesma cena na nossa casa, todos os dias, pipoca, sorvete, filme, artes, é fácil imaginar uma vida inteira com Maraisa e suas peculiaridades, aleatoriedades e literalidades.

Fim
💙

Notas finais

Chegamos ao fim dessa história maravilhosa, obrigada a todos que acompanharam até aqui, que comentaram ou votaram...espero que essa história também tenha cativado vocês de alguma forma, Até!

You Captivated Me || MalilaOnde histórias criam vida. Descubra agora