Fourteen

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EDA
Dias atuais

"Eu não vou voltar" foi o que eu disse quando fui embora. No entanto, estou na cozinha da casa que foi dos meus tios enquanto preparo a comida favorita do filho do meu ex namorado e ex melhor amigo. É uma merda que Alp goste da mesma coisa que seu pai, é pior ainda que eu não tenha esquecido a receita mesmo depois de tanto tempo.

— Mamãe, Ceren veio buscar o Alp — Kiraz entra na cozinha às pressas de repente.

Ceren voltou a cuidar de Alp, é ela quem deixa ele vir brincar com Kiraz todas as tardes, porque Serkan sequer tem se dado o trabalho de aparecer para mim. A última vez que o vi ele estava no jardim da rua cuidando das flores, todos seus sorrisos foi direcionado unicamente para Kiraz e Alp que ficaram o tempo todo com ele.

O senhor Erdem já esteve aqui e disse que os papéis estavam prontos para a venda da casa, tudo que eu precisava era marcar uma reunião com Serkan e os assinar, mas eu apenas os guardei comigo.

— Eu vou falar com ela, filha, não se preocupe.

Vou até a porta e vejo Ceren na soleira, enquanto Alp e Kiraz continuam na sala de estar ignorando sua presença.

— Oi, Eda. Acho que Alp já te incomodou muito, não é? Por isso vim buscá-lo — ela parece um pouco sem jeito.

— Ele não é um incômodo, estou fazendo a comida favorita dele, está tudo bem se ele ficar mais um pouco.

Ela ri.

— A comida de Serkan você quer dizer, não é?

— É o que dizem... filho de peixe, peixinho é. Os dois são iguais.

Ceren me olha um pouco e seu sorriso some. Como se ela estivesse planejando falar algo desconfortável.

— Não sei porque vou te falar isso, mas eu nunca consigo manter minha língua quieta — ela diz de repente, voltando a me olhar e rindo de lado — Só queria deixar claro que Serkan nunca quis nada comigo... E olha, não foi por falta de tentativa da minha parte, mas ele sempre esteve preso ao passado — ela continua a dizer — E eu não estou falando da minha irmã.

— Eu não sei do que você está falando.

Ela não pode me culpar por uma paixão não correspondida. Eu sequer estava aqui.

— Ah, você sabe sim.

— Olha Ceren, eu não tenho culpa se...

— Relaxe Eda, você não é culpada de nada. Eu não sou a minha irmã, ela sim era uma filha da puta, mas você pode me culpar por já ter o desejado? Ele é um bom pai, um cara legal e, bem, só tem ficado cada vez mais gostoso.

Não posso discordar dela, mas eu sinto um pouco de ciúmes voltar a nascer dentro de mim.

— Eu não entendo porque você está falando sobre isso comigo, eu não voltei por ele.

— Não, não voltou, mas ele ia deixar o país para ir atrás de você — ela responde — Eu sequer deveria estar falando sobre isso porque esse assunto não é meu, mas eu não acho justo que ele e eu continuemos presos a pessoas que não estão mais aqui.

— Você está falando de... — eu não consigo sequer pronunciar seu nome direito — da sua irmã? 

— Ah, com certeza — ela ri — Minha irmã morreu no dia do parto do Alp, Eda. Complicações ou carma, chame como quiser — Ceren diz ironicamente.

Talvez as duas também não tenham tido uma boa convivência.

— Eu sinto muito.

— Não, você não sente — Ceren me corta.

— E porque você está me contando isso?

— Porque eu estou cansada de ver ele esperar por alguém que nunca virá — ela diz e eu vejo nos seus olhos que ela está falando a verdade — Eu estou indo embora e dói o meu coração ter que ficar distante do Alp, ele é a única coisa boa que minha irmã deixou no mundo, mas eu não posso ficar presa aqui. Eu não posso ser como Serkan.

— Desculpe, eu... eu... — não sei o que dizer, minha voz embarga e eu fico confusa para processar as informações.

— Você não tem culpa — ela faz questão de ressaltar — Mas eu e ele seríamos perfeitos, sabe? Eu não amo Serkan, mas gosto dele o suficiente pra fazer tudo dar certo, pelo Alp...  era o que todos esperavam acontecer, mas ele sempre esteve esperando por você.

Eu fico em silêncio mais uma vez, deixando cada palavra que ela diz montar o quebra cabeça desses últimos anos.

— Cada maldita flor daquele jardim lá fora é um exemplo disso — ela aponta para trás — Ele começou a cultivar logo depois que descobriu da gravidez da minha irmã. Quando estive aqui a primeira vez eu perguntei porque ele fazia isso na rua — ela ri se recordando da memória — E ele disse que já que não podia ir atrás da mulher que amava, ele iria deixar tudo lindo para quando ela voltasse.

— Eu? — pergunto, mesmo que algumas lágrimas já teimem em nublar minha visão.

— De quem mais seria? — ela gargalha mais alto e eu começo a pensar que talvez ela seja um pouco louca — A melhor parte é que ele disse isso na frente da minha irmã, a filha da puta jogou veneno por todo o lugar, mas nenhuma flor morreu, acho isso sinistro até hoje.

Eu imagino a cena, mas não consigo acreditar. Passei os últimos anos cultivando o ódio por uma pessoa que estava me esperando voltar.

— Eu não sei o que dizer, Ceren.

— Eu imagino como deve ser difícil, mas a única coisa que eu peço é que se não há mais espaço para o Serkan na sua vida, que você deixe ele saber — sua expressão volta a ficar séria — Ele merece amar de novo, mesmo que esse alguém não seja mais você.

— Tia Ceren, você vai ficar? — Alp aparece se depende.

— Ela vai — eu respondo antes que ela negue — Fiz jantar o suficiente para mais pessoas, se você não se importar pode comer aqui.

— Eba! — Alp começa a pular e Kiraz o acompanha.

— Pela felicidade das crianças, eu fico!

E ela começa a pular junto com eles, entrando na casa. 

A gente começa a colocar a mesa quando ouço alguém na porta e claro que ao abri-la dou de cara com um Serkan vestindo o seu tradicional macacão de jardinagem.

— Oi Eda, desculpa atrapalhar, Ceren e Alp não estão em casa então eu pensei...

— Sim, eles estão aqui — aviso.

— Oh, estão? — ele parece surpreso — Eu vim aqui só para ter certeza, mas eu não imaginava realmente...

— Nós estamos aqui sim — Ceren aparece atrás de mim — Na verdade, já estou caindo fora, vou aproveitar que você já chegou. Desculpa, Eda, aquele pode ser o prato favorito de Alp e Serkan, mas não é o meu.

— Você fez a minha lasanha favorita?

Serkan pergunta boquiaberto.

— Uh... sim.

Não consigo deixar de pensar em tudo que Ceren me contou enquanto o vejo.

— Dê um beijo em Alp por mim — Ceren diz para Serkan — Eda, já tem quatro pratos postos na mesa, eu não vou ficar, mas aposto que Serkan está morto de fome.

— Ceren... — ele adverte.

— Ah, qual é, um pedaço de lasanha não vai matar ninguém — ela ri e desce os degraus da minha varanda — Tchau para vocês.

E ela se vai, como se não tivesse largado uma bomba em minhas mãos.

— Desculpe por ela, você não precisa...

— Vamos, entre — eu o corto antes que ele termine de falar — Tem lasanha o suficiente para repetir.

— Tem certeza? — ele pergunta.

Se havia alguma dúvida dentro de mim, ela sumiu no exato momento que Alp e Kiraz correram para abraçá-lo e o arrastaram para dentro de casa.

ALL IN MY HEADOnde histórias criam vida. Descubra agora