ALL IN MY HEAD

Nineteen

— Vocês deveriam parar de besteira — Ceren diz.

Ela está na minha casa comigo. Veio avisar que ficaria com Alp próxima semana, mas acabou deitada no meu sofá enquanto assistimos filmes infantis com Kiraz e Alp.

— Nós não podemos fingir que nada aconteceu durante esses anos — eu me defendo.

— Vocês podem sim — ela contesta — Na verdade vocês deveriam simplesmente deletar os últimos anos, já esperaram tempo demais para agora ter cautela.

— Mas nós temos Kiraz e Alp agora, qualquer decisão pode afetá-los e...

— E mais nada, Eda — ela se senta — Desculpe, mas Alp já te adora e Kiraz não para de falar sobre o "tio Serkan" — ela ri, fazendo aspas com as mãos — Um namoro dificilmente será um problema.

— Tenho medo que algo dê errado, uma coisa é eu sair machucada, outra coisa é isso afetar minha filha.

Ela come mais um punhado de pipoca e então volta a falar.

— Me desculpe de novo, mas o que tinha que dar errado na vida de vocês já deu há muito tempo — ela pega a latinha de refrigerante — Vocês só estão adiando o inevitável.

Penso um pouco no que ela disse. Serkan e eu temos tido dias bons... depois da noite no seu quarto, quando fiz a loucura de subir até lá, nós temos nos beijado ocasionalmente. Ele me rouba um ou dois beijos inocentes quando não estamos na presença dos nossos filhos e eu faço o mesmo quando cruzo com ele nos corredores de casa quando ele está sujo de massa ou tinta. É sexy.

— Por falar em inevitável — Ceren diz — Aposto que é ele na porta.

E então eu ouço a batida e meu coração se perde ali mesmo.

Ceren ri e me acompanha até a porta.

— Oi, Ceren, Oi Eda — ele nos cumprimenta.

— Não está muito cedo para você estar aqui? — Ceren questiona.

— Sim, eu acabei encontrando algo e tirei o dia de folga para fazer uma surpresa.

— Surpresa? — pergunto.

— Mmmm, acho que essa é a minha desculpa para ir embora — Ceren interrompe — Bem, por favor não tenham juízo e se divirtam de verdade. Estou saindo!

E ela realmente se vai, sem nos dar nenhuma chance de fazê-la ficar.

— Onde as crianças estão? — ele pergunta.

— Assistindo filme de animação — explico — Que surpresa é essa?

Ele passa por mim suavemente e encosta a porta, para que nossos filhos não nos escutem.

— Olha, não surte, ok? — ele segura a minha mão — Quero te mostrar algo antes de mostrar a eles.

E ele me leva até o seu carro, mas não é preciso de muito esforço para ver a surpresa que ele está falando. Há uma pequena caixa de transporte de animais dentro do carro.

— Você comprou um cachorro?

— Não, eu adotei — Serkan explica, tirando a caixa e mostrando o pequeno filhote dentro dela — Foi uma coincidência, uma cliente apareceu com ele na floricultura, disse que ele estava abandonado na rua e eu logo pensei nos nossos filhos.

Pego o filhotinho no braço e ele se aconchega a mim, dando uma pequena lambida na palma da minha mão. Ele é pretinho e fofo, mas provavelmente ainda vai crescer muito.

— Stella acabou oferecendo essa caixa — ouço Serkan dizer enquanto faço carinho no filhote — Ela disse que morava perto e me entregou a caixa quando eu disse que ficaria com ele.