Fifteen

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SERKAN

Se alguém me contasse que um dia eu estaria na cozinha de Eda ajudando a lavar e guardar a louça do nosso jantar, enquanto nossos filhos estão na sala da sua casa assistindo desenho animado, com certeza eu duvidaria da sanidade dessa pessoa.

Sempre tentei ser positivo sobre um dia poder ter Eda de volta na minha vida, mas a verdade é que eu não me sentia, e não me sinto, merecedor de conseguir seu perdão. Mesmo agora, enquanto ela me entrega prato por prato e eu os enxugo e guardo no armário, eu espero o momento que tudo vai voltar a dar errado. É por esse motivo que eu seguro o prato mais forte em minha mão, prestando atenção para que ele não caia e quebre em pedaços, da mesma maneira que um dia eu deixei meu relacionamento com ela ficar.

— Você está calado — Eda quebra nosso silêncio confortável — Na verdade, estou surpresa que você tenha me evitado nos últimos dias.

Bem, ela também percebeu isso... como se já não bastasse a Ceren todos os dias dizendo que eu deveria "largar de ser um idiota fodido da cabeça e ir atrás daquela que eu amo". Sim, ela disse estas exatas palavras.

— Desculpe — sou sincero — Eu só não queria te incomodar.

— Ou você não queria me ouvir falar sobre o beijo? — ela me confronta — Dessa vez você não tem como negar o beijo como você negou na primeira vez que beijei você.

Me sinto minúsculo diante do poder que Eda tem sobre mim, mesmo suas palavras duras e rosto sério não são o suficiente para me fazer gostar menos dela.

— Eu achava que era isso que você queria, que era o melhor pra você.

— Ai que está o nosso problema, Serkan — ela desliga a torneira — Você sempre supõe muita coisa do que deveria ser o melhor pra mim.

É a verdade.
Não posso negar.

— Você não vai negar? — Ela parece que consegue ler os meus pensamentos.

— Não vou, eu jamais faria algo que eu pensasse que seria ruim para você.

— Mas você fez — ela afirma o óbvio.

Fiz, de um jeito torto e fodido, mas eu fiz.

— O que você quer que eu diga, Eda? Porque de repente você está tão aberta a me ouvir?

Ela demora alguns segundos pensando, como se quisesse escolher as palavras exatas. Ela vai até a porta da cozinha e então volta a atenção para mim.

— Eles estão entretidos com o filme, vamos lá fora, não quero que eles nos ouçam e pensem que estamos brigando.

— Você pretende me xingar? — pergunto, porque também não consigo resistir a ver sua expressão ávida com a minha atitude.

— Ah, com certeza haverá alguns xingamentos.

E eu posso quase ver um pequeno sorriso surgir na sua boca.

Ela vai até a porta e eu a sigo, indo em direção às cerejeiras. Nosso lugar fica um pouco diferente a noite, mas eu sempre fiz questão de deixar essa área iluminada, mesmo que nunca houvesse ninguém além de Alp para brincar no balanço.

— Por onde você quer que eu comece? — pergunto assim que Eda se senta em um dos balanços e eu no outro.

— Primeiro quero que você me fale porque quer a casa.

— Para devolver a casa da minha mãe — respondo rápido demais.

— Eu quero o verdadeiro motivo, Serkan.

Suspiro alto porque mesmo esses anos não foram o suficiente para diminuir a maneira que ela me conhece.

— Quando os seus tios morreram eu não sabia que a casa ficaria pra você — começo a dizer devagar — Então eu não imaginava te encontrar naquele dia, eu só queria comprar a casa o mais rápido possível para que... para que você tivesse para onde voltar.

Ela respira fundo com a minha resposta, calculando o que vai dizer em seguida.

— Você queria comprar a casa para me dar?

— Não, eu queria ter a casa disponível para que você tivesse onde morar quando voltasse e me aceitasse de volta — sou honesto — Eu tentei comprá-la dos seus tios várias vezes, trabalhei dobrado por isso, mas eles nunca aceitaram. Eles realmente me odiavam.

Não consigo segurar o sorriso amargo que me sobe. Eu também os odiava, então o sentimento era mútuo.

— Ceren me falou algo...

— Ah, claro que falou, ela sempre teve a língua maior que a boca.

— Eu não sabia que ela era irmã da Selin, então ela falou sobre o falecimento, eu sinto muito — ela parece realmente afetada com isso.

— Sim, uh, claro... O falecimento foi... difícil, eu não queria isso para o Alp.

Eu não queria que meu filho crescesse sem a mãe. Selin nunca foi um bom exemplo, mas ainda assim, ela queria muito essa criança.

— Acredito que Ceren deve ter contado mais coisas — incentivo Eda a continuar com as perguntas.

— Ela disse sobre vocês nunca terem tido nada, não por opção dela, claro.

— Sim, eu nunca a vi desta forma — suspiro um pouco pensando sobre como eu percebia alguns dos seus olhares apaixonados, mas eu nunca consegui corresponder — Me senti  um pouco culpado durante alguns períodos, como se eu devesse isso a ela, já que ela me ajudava com Alp.

Eda fica em silêncio mais uma vez e eu entendo que ela precisa de tempo para processar tudo.

— Talvez devêssemos continuar o assunto amanhã? Você não parece tão confortável...

— Não, eu estou bem — ela nega — Só estou pensando sobre como deve ter sido difícil pra você, como um pai solteiro.

— Assim como você — eu a lembro — Você não pensou em encontrar uma pessoa e formar uma família para a Kiraz?

Pergunto, mesmo que o medo da resposta faça minha respiração parar.

— Já, mas minha família é ela. Isso sempre nos bastou.

Sua resposta me enche de orgulho pela mulher forte que ela é, mas quando penso que será suas únicas palavras ela volta a falar: — Antes de ir embora, Deniz pensou que eu pudesse estar grávida.

Sua confissão me pega desprevenido e eu sinto um arrepio subir.

— Eu fiz dois testes, os dois deram negativos, mas eu sempre me questionei como teria sido se ele estivesse certo e você fosse o pai dos meus filhos.

— Eda, eu...

— Por favor, deixa eu terminar — ela diz, sem conseguir me encarar e continua — Então eu fui embora, fui inconsequente, engravidei de um desconhecido e quase perdi minha bebê porque eu não estava me alimentando direito, mas tudo que eu conseguia pensar era sobre como, mesmo com a tristeza que você me fez passar, eu desejava que você fosse o pai de Kiraz.

Suas palavras me machucam na mesma proporção que me comovem, eu não tenho dúvidas de que eu amaria que Kiraz fosse minha filha.

— Então anos depois eu preciso voltar — ela continua — E quando encontro você, fico sabendo que você tentou ir atrás de mim, mas que você também tinha um motivo maior para ficar aqui. Motivo esse, as consequências de suas escolhas com Selin, que me fizeram ir embora e desejar nunca mais voltar.... Você consegue imaginar como eu me sinto?

E eu não consigo imaginar, mesmo que eu tenha pensado sobre isso todos os dias e carregado em silêncio essa culpa comigo.

— Eu sinto muito — são minhas únicas palavras.

— Agora eu sei que sente — Eda finalmente volta a me olhar nos olhos — É por isso que eu quero que você me conte a sua versão da história.

ALL IN MY HEADOnde histórias criam vida. Descubra agora