Cap. 6

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SCARLLET WRIGHT


       Blake Harris veio até aonde eu moro numa sexta-feira chuvosa apenas para me dizer que estou empregada novamente. E, surpresa: ele não me consultou se eu aceitaria ou não.

É claro que eu adoraria estar de volta a mídia, onde esta o coração de Nova York: as notícias correm, tudo flutua pelo ar como mágica. Mas não é tão fácil assim entrar num jornal como a PN. É um dos mais bem falados da região. Como se fosse a meta de todos, todos os jornalistas.

— Espere um pouco, Senhor pervertido. — Esse apelido não agrada nem a mim mesma. - Se eu começar a trabalhar lá, Beck irá saber da minha existência.

— Fascinante descoberta, Lady.

Lady. Que apelido mais sem graça e desorientado. Ignorei seu comportamento infantil e foquei na conversa, afinal, por mais que eu esteja incomodada com esse "novo emprego" de estar sendo metida a detetive, a ideia de ficar desempregada não me apetece nem um pouco.

— Quer mesmo que eu entre no jogo dessa forma? — falei para que entendesse. Na cabeça dele, tudo isso funciona como um jogo de cartas. Ou algo mais perigoso com armas de fogo e granadas. — Os danos serão irreversíveis.

Ele jogou a cabeça para trás, e sua risada preencheu o ambiente. Uma risada egocêntrica e ao mesmo tempo recheada de um sentimento incompreensível.

—Beck não irá reparar em você, Scarllet. — avisou. — Tudo que tem que fazer é entrar e sair despercebida.

— Não posso sequer ter amigos e colegas de trabalho? Tudo que devo fazer é obedecer a cada maldita ordem sua? — cuspi.

Blake é intolerante. É um "perfeito cavalheiro" e muito gentil. Mas apenas quando deseja ser. Quando decide provar que pode ser um merda com roupas engomadinhas, ele faz isso muito bem.

— Esta sendo paga pra isso. — foi tudo que disse.

Por algum momento entre as vindas dele aqui e os meios-sorrisos que me dava, eu acreditei que seria interessante trabalhar para ele. Que seria compreensível, amigável e quem sabe uma ótima companhia.

Eu estava errada.

E eu nunca erro.

Parece que Blake Harris acabou de se tornar um problema. Então, eu levantei do sofá e agarrei em seu blazer escuro ─ que deve valer muito mais que toda essa sala ─ e o arrastei até a porta; onde parou incrédulo.

—O que acha que esta fazendo, maluca? — seus olhos cor de avelã não transmitiam nem um pouco de raiva. E sua voz era incerta ao me chamar de maluca.

— Te colocando pra fora daqui. Me mande mensagem apenas se necessário. — praticamente joguei ele para o lado de fora, onde parou novamente estatico. — Que sorte a minha estar naquele banheiro.

E então com uma forte batida, eu tranquei a porta. A última imagem de seu rosto chegou a ser engraçada e amoleceu um pouco da raiva que havia em meu peito. Ele parecia um cachorrinho.

-—Alguém parece magoada. — Allie resolveu dizer. Pelo menos nisso ela é boa: não se intrometer em minhas conversas, mesmo tendo acesso a todas elas. — Foi algo que ele disse?

— Foi tudo, Allie. Tudo que ele disse.

Me aproximei da garota que estava mexendo a panela cheia de macarrão, e me sentei na bancada a sua frente. Ela estava com os fios dourados presos num rabo de cavalo alto, e parecia concentrada.

— Ele é um babaca. Tem que se acostumar com isso. — deu de ombros. — Eu já me acostumei.

O canto de meus lábios subiram com sua forma delicada de preparar o molho e ainda assim me dar atenção. Allie apontou uma colher de pau em frente ao meu rosto e me pediu para que provasse seu molho esquisito.

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