Cap. 23

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SCARLLET WRIGHT

       Passaram-se nove longos dias desde que vi o "garoto problema" pela última vez. Num desses dias ─ noite, para ser mais específica ─ me debrucei no parapeito do prédio, para encarar o céu.

As estrelas arranhavam o céu num rastro de brilho gélido. Existiam milhares delas, todas igualmente admiráveis. Me perguntei o que estrelas tinham de semelhante com cicatrizes. Quando uma ferida aberta, se fecha, ela deixa rastros prateados como estrelas deixam no céu? E se as estrelas forem as cicatrizes do espaço?

"Eu confiei em você. Essa é minha cicatriz, não é?"

As palavras duras ecoavam em minha mente. Blake Harris não sabia, mas eu adorava ser a sua estrela. E praguejei a mim mesma por ter estragado tudo de novo.

Allie estava dormindo, capotada na cama, e eu já estava de pé. Ultimamente tenho acordado cedo e rodado a cidade atrás de algum emprego. Afinal, eu não coloquei meus pés da PN depois do Halloween e nem faria isso.

Foi quando estava no notebook, mandando um e-mail para um jornal próximo daqui, que ouvi alguém bater na porta. Prendi minha respiração e saltei do sofá, já tendo em mente quem estava me procurando. Pode ser Jony procurando por Allie, pensei. Mas joguei essa possibilidade para o fundo da minha mente.

Um sorriso morreu em meus lábios quando dei de cara com Beck.

─ Você? ─ questionei com tédio.

A garota, que antes carregava sempre um sorriso ou gestos delicados, agora está detonada. Com olheiras gigantes embaixo dos olhos e postura cansada.

─ Oi, Scarllet. ─ suspirou ─ Preciso falar com você.

Fiz uma careta, jogando a porta para frente e resmungando:

─ Não tenho nada pra falar com você.

Insistente, Beck colocou os pés entre meu apartamento e o lado de fora. Revirei os olhos com força, abrindo lentamente para encará-la.

─ Ouça, Beck, eu não gosto de você. ─ disparei. Ela deu um sorriso amarelo, o que me fez notar que peguei pesado ─ Mas... você pode entrar e dizer o que quer, se for rapida.

Ela assentiu, e sem relutar, entrou. Eu a segui atentamente até a sala, onde ela despencou no sofá. O semblante serio e os cabelos dourados desgrenhados. Fiz um sinal brusco com as mãos para que ela começasse, e me sentei em sua frente com os braços cruzados.

─ Eu não sei ao certo por que vim. Sabia que você não iria me entender, mas por um momento, pareceu a coisa certa a se fazer. ─ falou, desajeitada e insegura ─ Blake e eu nos conhecemos desde o colegial. Éramos crianças quando tudo começou, e eu escrevia cartas para ele. E ele, me trazia chocolate todas as segundas feiras.

A ideia de imaginar Blake como uma criancinha desde sempre sendo gentil me fez abaixar um pouco a defesa.

─ De repente, estávamos no ensino medio. Eu devia escolher com o que iria trabalhar pelo resto da minha vida, aturar exames finais, ser uma adulta. Foi rápido demais para mim, não pude lidar com tudo. ─ contou ─ Tudo que ainda me restava para me trazer sensação de conforto e segurança era Blake, e eu me agarrei a isso.

Um sorriso sincero escapou de meus lábios. Lutei para reprender ele.

─ Então por que o traiu? ─ questionei.

─ Porque quando me dei conta, eu estava namorando Blake por conveniência. Porque minha vida tinha se tornado aquilo e eu não tinha mais o controle de nada. ─ explicou calmamente ─ E não me diga que eu poderia ter simplesmente terminado. Blake havia perdido seu pai, e precisava assim como eu, ser um adulto. Não podia deixá-lo na mesma situação onde eu estava com medo e assustada.

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