Love At First Flight (Jotakak)

✈️ Broken Wings ✈️

Vazio.

Os primeiros sete dias sem ouvir a voz de Jotaro foram um grande vazio para mim. Eu não quero pensar que passarei a vida inteira assim, afinal não sou dependente de nenhum homem. São apenas os primeiros dias, os mais difíceis após o término de um relacionamento. Aqueles dias onde você se sente como uma planta no deserto, lutando pela vida, e que o simples mercador de passagem tem que te alimentar, te regar para permanecer viva até que os outros também passem pelo local.

Va... zio. Suspiro, desanimado. Bem, parece que isso vai durar mais tempo do que eu imaginava.

Ontem cheguei de um voo, passei dois dias em Vancouver, revivendo sozinho no quarto de hotel a primeira vez que estive no Canadá. O passeio íntimo que fizemos até o aquário da cidade, de mãos dadas e longe de todos os outros colegas de tripulação. Meu cérebro bem que poderia parar de me bombardear com momentos e mais momentos meu e do Jotaro juntos, cada vez que penso sobre nós dois, um fogo consome meu peito intensamente.

Meus dias estão tão sem luz e cores que nem mesmo a luz do sol eu faço questão de ver. O apartamento está totalmente fechado, as cortinas cerradas e o ar condicionado ligado. Essa coisa de término é tão dolorosa a ponto de eu tentar tirar do rabo forças para instalar o Tinder novamente e acabar falhando miseravelmente, não consigo ter um encontro com outra pessoa, não agora.

Revivi todos os nossos momentos novamente na frente da televisão ao assistir pela incontável vez ao filme "Top Gun". Ao saborear uma torta de chantilly feita em cima da hora, com uma garrafa de absinto sobre a mesa, a bebida quase escassa. Merda, estou perdendo a cabeça, eu deveria?

São seis da tarde, e tudo o que fiz até agora foi beber duas doses de absinto.

— Alexa, toque "Love Hurts". — ordeno, e a assistente da Amazon é a única que me ouve no momento.

A música começa a tocar e desolado, repito junto os versos da canção do Nazareth. A letra dói tanto em mim, que começo a chorar discretamente, cantando sozinho as palavras que mais causam identificação em mim, rasgando o meu peito com força, e eu juro por Deus que nunca me senti assim antes.

Droga, preciso me levantar, mas não consigo. Força, já se passaram sete dias de tamanha amargura, o Tenmei que ainda existe dentro de mim se questiona se devo ou não continuar assim, o Tenmei assume sua posição quando precisa voar, ele nem parece estar sofrendo, mas as camadas e mais camadas que cobrem as olheiras dele escondem a real dor.

Nutro em meu peito uma esperança de quem sabe receber alguma mensagem de Jotaro, mas o celular continua em zero notificações, recebendo apenas links de vídeos do TikTok do Pierre e mensagens de "bom dia" da velha Enya. Que deprimente.

Quanto desânimo, Jotaro não me envia um bom dia sequer. Seguimos em um silêncio doloroso e que me faz pensar em uma coisa: Jotaro, eu fui realmente amado por você? O celular dispara, vejo a notificação na tela e meu peito arde em antecipação achando que até que enfim ele se lembrou da minha existência. Porém não é o desgraçado, é o Jean. Recebo uma mensagem motivacional dele:

"Vai fazer algo feliz hoje, Nori. você não é dependente do Jotaro, e no mundo de hoje, cai mais pau de nuvem do que água."

Põe motivacional nisso. Pierre não sabe ser motivacional, mas consegue ser divertido. Eu o chamei para minha casa no mesmo dia que eles chegaram de Zurique. Contei sobre o que aconteceu e pedi para que eles dormissem aqui comigo. Meus amigos ficaram devastados com a notícia do meu término com Jotaro, eles sequer conseguiram falar algo nos primeiros minutos após o desabafo, apenas me abraçaram e depois vieram as palavras de motivação. Eles concordaram que fui muito áspero com Kujo, mas que eu estava certo em relação a Joseph, ninguém merecia ser humilhado como eu fui, pois citei em detalhes sobre tudo o que aconteceu no banheiro do aeroporto. Teve todo aquele blá-blá-blá de términos, abraços, carinho na cabeça e no final dormimos esparramados na sala, com eles me abraçando e Avdol murmurando para mim palavras que me deixasse confortável, mas que duraram apenas uma noite.