✈️ Echo ✈️

729 91 295
                                    

— Vocês já estão fazendo pano preto de novo?

A voz de Enya desperta eu e Pierre de nossas fofocas enquanto preparamos algumas refeições na galley dianteira do A330neo. Disfarçamos a conversa e voltamos a arrumar as refeições em cima dos carrinhos.

Se você não sabe, pano preto é uma gíria de aviação que indica quando você faz alguma coisa escondida, de forma secreta e que de alguma forma, acaba prejudicando outra pessoa. A velha comissária desconfia de mim e de Pierre, que andam juntos para cima e para baixo dentro da aeronave, fofocando e também se deixando levar por algumas risadinhas que a irritam.

— O único pano preto que tem aqui é o de cobrir essa sua cara velha, Enya.

— Olha como fala comigo, estamos em expediente, Pierre! — ela aumenta o tom de voz para se referir ao meu amigo. — deixa para me tratar como sua empregada depois que os passageiros descerem, tá?

Dou as costas, segurando-me para não rir. Só que nem mesmo eu escapo. Enya aproxima-se de mim e murmura em meu ouvido:

— Eu sei que você está escondendo alguma coisa, Tenmei.

A velha grunhe, nos deixando em dúvida sobre o que ela quis dizer com aquela gíria.

Do nosso trio, apenas eu e Pierre tripulamos esse voo que liga Tóquio a Londres, Avdol acabou caindo em um voo até os Estados Unidos novamente, mas não importa. A melhor parte se encontra lá na frente.

Ele mesmo, o meu sonho de consumo lindo e maravilhoso.

— Tenmei, você pode ir à cabine para servir um café que o primeiro oficial Kujo pediu?

Meu coração dispara, mais forte do que a merda do café. A ausência de palavras me massacra, diante da porta do banheiro e lutando para dizer alguma coisa.

— Eu...

Desde o dia do ocorrido na cafeteria que não consigo me aproximar de Jotaro. Por mais que os meninos continuem a sabotagem nas escalas apenas para voarmos juntos, eu não me sinto bem perto dele. Sempre o associei ao dia da cafeteria, e para piorar, não consigo mais olhar para a porra de uma torta de cereja sem travar como uma ameba presa num intestino.

Sim, é isso que sou. Uma baita ameba. Em vez de pedir logo o telefone dele ou simplesmente o esquecer de vez, eu continuo tendo uma paixão platônica por Jotaro. Mesmo sabendo que nunca serei correspondido, são os pequenos detalhes de sua existência que ainda me arrancam os mais pesados suspiros por onde quer que ele passe.

— Tenmei, café puro, sem leite e nem açúcar, Jotaro odeia leite. — Enya me entrega o carrinho e ordena. — oferece uns biscoitos a ele também, estão fresquinhos, não estão moles que nem da outra vez.

— É, parece que da outra vez enfiaram a porra dos biscoitos em água antes de servir, aquela porra estava mais mole que mingau. — Pierre, que serve as refeições da classe econômica, volta rapidamente a galley para pegar um copo com gelo. Ele escuta nossa conversa e se intromete rapidamente.

Só Pierre mesmo para arrancar risos de mim nos momentos mais tensos. Idiota, eu o perdoei por aquele dia, mas agora ele também morre de vergonha de se aproximar de Jotaro.

— Caramba, Tenmei, tá esperando o café esfriar? Vai lá! — Enya me empurra.

E em passos lentos, avanço pelo corredor da direita até então quieto em direção a cabine. Sem ao menos esperar, a porta se abre devido a uma ligação feita por Enya, e aquela infinidade de painéis coloridos e acesos do cockpit despertam a minha atenção.

Desejo boa noite aos dois pilotos, a luz se acende e Jotaro puxa a mesinha de refeições de seu assento, o da direita. Está preparado para comer, e não sei o motivo do café de última hora, eu o conheço desde quando começamos a voar juntos, ele prefere café antes de jantar.

Love At First Flight (Jotakak)Onde histórias criam vida. Descubra agora