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Branco.

A ausência de cor, aquela que reflete os raios luminosos e faz com que as outras cores do espectro visível simplesmente não existam. Sempre fui ruim em física, mas sei que o branco é justamente isso, o branco é a cor da luz e a ausência de pigmentos.

Só que a luz que há nesse quarto é baixíssima, e ainda assim, minha visão é dominada por um branco absoluto. As pálpebras, imóveis como se eu estivesse no mais profundo coma, visualizam apenas um tom de branco e alguns flashes estranhos do que aconteceu comigo.

Branco. Mais uma vez.

Eu não me reconheço mais. Não mesmo.

Não sei se o que tive de madrugada foi um sonho daqueles bem ruins ou o baita de um pesadelo. É o que o branco que deu em minha mente me força. Vasculho minhas memórias a procura de alguma informação, mas não há nada que me explique o que aconteceu. Esforço-me o suficiente para que os primeiros lapsos comecem a surgir em minha mente, perdidos em meio ao mais absoluto branco de todas essas memórias de merda aqui.

Tateio a cama em busca do meu celular, mas não o encontro. A consciência já retorna, mas ainda um pouco falha. Os momentos que vivenciei antes de dormir ainda são desconexos, sem sentido e completamente longe da realidade no qual estou agora.

Mas espera, que realidade é essa?

Lembro-me que perdi o cartão do meu quarto no poço do elevador. Esbarrei em algo duro e reconhecível.

— Jotaro... — murmuro seu nome, ainda despertando aos poucos e com os olhos fechados. Levo a mão aos cabelos e os sinto ligeiramente úmidos. Eu caí na piscina e não me lembro? Puxo a mecha saliente de minha franja, mas não sinto cheiro de cloro e sim de shampoo de menta. Algo muito estranho, eu não uso shampoo de menta, eles são daqueles que agridem os cabelos e os deixam ressecados para caramba.

Branco.

Acho que estou em um hospital. O lugar é branco demais, tem um cheiro reconhecível, luz baixa e um quarto digno de uma UTI. Reviro-me sobre a cama macia e puxo o edredom, parece que estou deitado no paraíso, onde ainda assim, algo machuca minha cabeça. E por falar em cabeça, as primeiras memórias que retornam inserem logo Jotaro no meio. Estou confuso demais, delirando com o primeiro oficial Kujo mais uma vez, e do nada, uma música do Sting me vem à cabeça.

To have you with me I would swim the seven seas... to have you as my guide and my light... my love is a flame that burns in your name...

Branco.

Esqueci o resto da letra da música e paro de cantarolar, minha mente continua me sabotando. Mesmo cansado, me esforço mais um pouco e lembro o resto:

— We'll be together, we'll be together tonight...

Ai Deus, como meu corpo dói! Calo-me e me concentro em descansar mais um pouco, estou achando essa cama quentinha e gostosa demais, a Star Platinum Airways cobre um plano de saúde e tanto!

Se isso é realmente um hospital, onde estão minhas veias furadas e os soros ao meu lado? Abro os olhos devagar e me deparo com a baixa iluminação do quarto, onde apenas um abajur está aceso na mesa de cabeceira.

Branco.

Meu telefone, enfim o encontrei! Avanço sobre o móvel, estou desesperado e curioso para saber as horas, e pela cortina entreaberta, vejo que ainda é noite.

Errado. Cinco da manhã. Ah, o voo é só a noite, posso me deitar mais um pouco e sonhar com alguma coisa boa até eu ter alta. Só que a cabeça dói a ponto de não me permitir sequer manter os olhos fechados, parece até que sofri um pouso de emergência. Levanto devagar, querendo entender como fui do elevador à cama de um hospital e tudo que vejo é um jaleco branco, sei lá, acho que deve ser de algum enfermeiro. Eu nem lembro que horas eu saí da piscina, mas já era de noite quando entrei naquele elevador e dei de cara com...

Love At First Flight (Jotakak)Onde histórias criam vida. Descubra agora