✈️ November ✈️

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Uma praia! Uma maldita praia!

Esse é o destino do nosso passeio de hoje, e Jotaro tem razão. Ele realmente sabe guardar bem um segredo. Eu não esperava ir a uma praia, de todos os destinos era o menos improvável, e de Jotaro eu esperava tudo. Um aeródromo, um salto de pára-quedas, sumô, qualquer coisa cheia de adrenalina e tensão, menos uma praia. E então, lembro do quão estúpido fui ao esquecer de sua bio no Instagram. Eu, que olhava sua conta todo santo dia, esquecer de algo tão simples assim me causou um pouco de culpa. E é isso que fez Jotaro vir aqui hoje: o surfe e claro, o mar.

E lá está ele, no meio das ondas que eu julgo baixas demais para a prática do esporte, deixando de lado sua timidez aparente e a descontando sobre a prancha, fazendo manobras que nem em santa consciência eu acertaria. Se me jogassem em cima de uma prancha, vocês veriam o verdadeiro significado de inútil, prefiro ficar aqui mesmo na areia, observando-o surfar enquanto chupo com calma um picolé de suco de cereja. Bem que eu preferia estar chupando outra coisa com sabor cereja, mas deixa para depois.

As ondas não estão tão altas, mas valeu a pena a viagem de carro até aqui. O sol, aberto e brilhante, arde em minha pele e espero que dê um pouco de cor a essa pele de fantasma que tenho. Certeza que se você me ver às três da manhã, no escuro de sua casa, cai para trás achando que sou o Gasparzinho. O próprio Pierre uma vez já se assustou, sendo preciso ser amparado por nós após o susto com um leque, e depois desse evento, ele pediu até pelo amor de Deus para eu não usar roupa branca de noite.

Jotaro é lindo até surfando, mas fico facilmente entediado com a prática em si. Só tenho olhos para ele, como sempre gracioso em tudo que faz, com aquele corpo bonito, e muito, mas muito hipnotizante. Mais cedo, ele foi nadar com os golfinhos e me fez um convite para ir também, porém prefiro continuar por aqui mesmo, estou com preguiça de ter que fazer todo aquele ritual de tirar o grosso do mar dos meus cabelos ao chegar em casa. Os golfinhos vão ter que ficar apenas com o papai deles agora, o senhor-biólogo-marinho-nas-horas-livres. Ele dá uma pausa após quase uma hora dentro do mar e vem em minha direção, desfilando como se a areia fosse uma passarela. Sacode a cabeça e várias gotas de água são espirradas de seus cabelos escuros e macios.

Eu quero apenas parar o tempo e contemplar todos esses detalhes só para mim, eles são somente meus. A cara fechada, de seriedade, mas que por dentro tem a textura leve como a decolagem de um Boeing 787... a água que escorre por seu peitoral forte e agora bronzeado, a forma de segurar a prancha embaixo do braço contendo a linda tatuagem, as pernas fortes e resistentes como a mecânica do ar que desliza pelas asas de um avião. As tetas... ah meu Deus, as belíssimas tetas! Quero o contemplar de todos os ângulos, mas só o que está de frente já é o suficiente para encher meus olhos, cada vez mais sedento por seus sutis detalhes e que arranca de mim alguns breves suspiros apaixonados, porém disfarçados. Meu Deus, Noriaki, pare imediatamente de olhar para esse avião à sua frente, você não pode ter o motor dele agora, a praia está cheia demais para isso!

É tão surreal que levo a mão ao rosto esperando encontrar uma fileira de sangue escorrendo pelas narinas, que nem aquelas garotinhas de animes, mas tudo que encontro é o picolé derretendo em minha boca e entre meus dedos.

— Está tudo bem, Nori? — Jotaro enfia a prancha na areia e senta ao meu lado. Ele possui um pouco de seriedade, talvez esteja preocupado por meu olhar estar tão perdido.

— An? — minha mente que divaga rapidamente sobre seu corpo luta para voltar à realidade. Se eu pensar demais nos detalhes de Jotaro, é capaz de uma coisa muito específica acontecer aqui na frente de todo mundo e eu quero evitar esse constrangimento.

Sinto a mão tremer, tornando o picolé instável e que mais parece estar em um terremoto. Jotaro se aproxima da guloseima e sem minha autorização, abocanha o gelado com toda a boca. Não ligo para permissão, posso muito bem comprar outro. Só que a forma como ele segura minha mão e mantém o sorvete em sua boca me deixa meio excitado. A proximidade entre nós assanha ainda mais meu corpo, e só piora.

Love At First Flight (Jotakak)Onde histórias criam vida. Descubra agora