Epígrafe

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As vezes, pensamos conhecer alguém de verdade. Achamos isso somente por ter estado com a pessoa por um logo período de tempo ou porque decidimos acreditar cegamente no que a pessoa nos diz.

Mas o ser humano tem uma capacidade incrível de esconder seus lados sombrios.

Estou tentando desesperadamente tirar essa droga de aliança que não sai do meu dedo anelar esquerdo de forma alguma.

Eu já tentei de tudo, ela simplesmente não sai.

O que eu vou fazer se tiver um rastreador nisso? Com certeza tem!

Ele vai me encontrar, ele virá atrás de mim.

E a pior parte é que uma parte insana e doentia, está esperando ansiosamente por isso, essa parte se apaixonou pela besta e sente saudades.

Sacudo a cabeça em negação tentando não perder o foco e tento novamente retirar a aliança de noivado com uma generosa quantidade de sabonete líquido.

- Sai... Sai... Sai logo! - Bravejo com meu dedo ficando em carne viva devido as tentativas.

Quanto tempo eu tenho até ele me achar no banheiro desse restaurante?

E o pior é saber que eu provoquei tudo isso... Ele estaria morto se eu tivesse deixado, mas eu o salvei e isso selou nosso destino de forma definitiva.

Não... Como eu ia saber?

Ninguém saberia... Ele foi um mentiroso perfeito e se não fosse pelo incidente de ontem... Eu ainda não saberia quem ele é de verdade.

Ah... Aquelas imagens...

- Não! Não! - Levo minhas mãos à cabeça tentando empurrar as cenas da noite de ontem para uma caixinha na minha mente de "merdas que preciso deletar da minha mente ou vou surtar".

Controlo a respiração do jeito que estou acostumada... Do jeito que ele me ensinou... para evitar uma crise de pânico que só me atrapalharia no momento atual.

Tento novamente pela última vez, cogitando a possibilidade de cortar o dedo.

Eu nem o deixei explicar... Talvez as coisas não sejam como estou pensando.

Não... Não tem explicação para o que vi...

O anel finalmente sai do meu dedo e eu solto um suspiro aliviado.

O deixo sobre a pia junto com meu celular e saio do banheiro fazendo sinal para o primeiro táxi que encontro.

- Bom dia, para a rodoviária, por favor! - Digo assim que entro no primeiro carro que para.

- Bom dia, senhora. Certo!

O motorista segue o percurso enquanto eu observo todos os cantos para ter certeza de que não estou sendo seguida.

Estou com a adrenalina correndo nas veias. Será que estou exagerando? Talvez ele nem me procure, talvez não venha atrás de mim.

Será que ele vai ficar preocupado? Ou vai ter pesadelos se dormir sem mim?

Lágrimas ardem nos meus olhos pois eu estou longe dele há algumas horas apenas e parece que estou vazia.

- Preciso parar um pouco para abastecer, certo? - O motorista me tira dos meus devaneios.

- Claro... Mas se puder se apressar, meu ônibus está quase saindo. - Minto.

- Só vou levar 2 minutos.

Assinto e aperto meus próprios dedos, uma mania que tenho quando a crise de ansiedade está próxima de atacar.

Sinto que o motorista já passou dos seus 2 minutos e começo a esfregar meus pés um no outro, a medida que o medo e a ansiedade me consomem.

Até que ele finalmente retorna para o carro.

- Precisamos nos apressar, por favor. - Digo olhando ao redor para certificar de que não estão nos seguindo.

- Claro, meu amor. Também estou com pressa para chegar na nossa casa.

Sua voz rouca e masculina penetra nos meus ouvidos causando um disparo frenético dos meus batimentos cardíacos, juntamente com o frio na barriga que sinto desde a primeira vez que o vi.

Viro minha cabeça lentamente para sua direção e o vejo com as mãos apertando o volante, vestindo aquela jaqueta de couro preta que o deixa um verdadeiro bad boy de cinema.

Meus lábios tremem, ele não me encara diretamente, mas seus olhos castanhos frios como uma noite chuvosa, me observam através do retrovisor.

Ele dá partida no carro e eu fico paralisada, sem saber o que fazer.

Antes que eu perceba, estou chorando.

Choro, choro e choro.

Como minha vida, que estava tão perfeita, desmoronou dessa forma? Eu confiei nele, acreditei nele e no final ele é somente um estranho pra mim. Nunca o conheci de verdade.

- O-o que vai fazer C-comigo? - Pergunto em meio às lágrimas. - P-por favor, por favor me deixa ir, Lorenzo! - Imploro.

Um silêncio sombrio e arrepiante se instala dentro do carro e ele nem sequer me dirige o olhar.

- Lorenzo... - Insisto em meio ao meu choro desesperado.

- Alguma vez eu já machuquei você, Samyra? - Sua voz contém uma falsa calma, esconde uma fúria contida e é cortante como o frio do Alasca.

Eu o olho pelo retrovisor e nossos olhos se encontram pela segunda vez desde que ele entrou no carro.

- RESPONDE, PORRA!! - Ele grita.

Eu pulo de susto e me apresso a dizer um "não" inteligível em meio ao choro e aos soluços.

- Estou muito irritado com você, meu amor... Vamos conversar com calma depois que eu me acalmar. Enquanto isso, vou te deixar refletindo sobre o que fez comigo.

Meu coração acelera ainda mais com cada palavra proferida por seus lábios. Sinto que uma um capítulo sombrio da nossa história iniciou, assim que descobri que meu namorado é um assassino.

Meu Namorado é um AssassinoOnde histórias criam vida. Descubra agora