28, conversa e a verdade (lua nova)

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Meus olhos se abriram com o medo, apesar de eu estar tão exausta e confusa, que eu nem tinha certeza se estava acordada ou dormindo.

Alguma coisa arranhou a minha janela de novo com o mesmo barulho alto, fino.

Confusa e lerda com o sono, eu me arrastei pra fora da cama e fui para a janela, piscando no caminho com as lágrimas que permaneceram nos meus olhos.

Uma enorme sombra escura se moveu erraticamente do lado de fora da minha janela, se lançando na minha direção como se fosse se jogar pra dentro. Eu me inclinei pra trás, aterrorizada, minha garganta se preparando pra gritar.

Victória.

Ela veio pra me pegar.

Eu estava morta.

Charlie também não!

E aí uma voz familiar, rouca chamou vinda da figura escura.

-Bella. – Ele assobiou. – Ouch! Droga, abra a janela!

Eu levei alguns segundos pra me livrar do horror antes de conseguir me mexer, mas depois eu corri para a janela e abri o vidro. As nuvens deixava uma luz fraca passar por entre elas, luz suficiente pra que eu pudesse identificar as formas.

-O que é que você está fazendo? – Perguntei quando vi a cena.

Jacob estava se pendurando cuidadosamente no topo da árvore que crescia no meio do pequeno quintal na frente da casa de Charlie.

O peso dele havia feito a árvore se curvar na direção da casa e agora ele estava se balançando, as suas pernas estavam se balançando a vinte metros do chão, a menos de um metro de mim.

-Eu estou tentando manter... – Ele bufou, inclinando seu peso enquanto o topo da árvore balançava com ele – Minha promessa.

Eu pisquei com os meus olhos molhados e turvos, enxugando-os com a ponta do meu casaco.

-Quando foi que você prometeu se matar caindo de uma árvore na frente da casa da Charlie?

Ele bufou, sem se divertir, balançando as pernas pra manter o equilíbrio.

-Saia do caminho, vou entrar.

-O que você quer? – Perguntei, dura, eu queria saber que merda ele estava planejando, eu ainda estava magoada.

-Conversar. Direito dessa vez.

Ele balançou as pernas de novo, pra frente e pra trás, aumentando o ritmo. Eu me desviei para o lado, porque já era tarde demais.

Com um grunhido, ele se lançou em direção a minha janela aberta. Pra meu choque, ele se balançou agilmente pra dentro do meu quarto, aterrissando nos calcanhares com um estrondo baixo.

Nós dois olhamos para a porta automaticamente, segurando a respiração, esperando pra ver se o barulho havia acordado Charlie.

Mais um breve momento se passou em silêncio, e depois nós ouvimos o som abafado do ronco de Charlie.

Eu chorei até dormir por causa desse garoto. Pior que isso, mesmo a chegada dele tendo sido estranha e barulhenta, ela me lembrou do jeito como Alice costumava se enfiar pela minha janela de noite, e essa lembrança cutucou maldosamente nas minhas feridas não curadas.

Tudo isso, acumulado ao fato de que eu estava cansada feito um cão, não me deixou com um humor muito amigável.

-Se você veio aqui para me invalidar igual seu pai eu te convido a ir embora. – Eu assobiei, colocando tanto veneno no sussurro quanto pude.

Ele piscou, o rosto dele ficando apático com a surpresa.

-Não. – Ele protestou. – Eu vim pra me desculpar.

crepúsculo (bellice)Onde histórias criam vida. Descubra agora