G A R O T A P R O D Í G I O

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EXISTEM DETERMINADOS MOMENTOS NA VIDA DE ALGUÉM em que você olha para trás e percebe que o conto de fadas simplesmente não existe. Você para de acreditar em príncipes encantados, no feliz para sempre, e naquela velha lorota de que você irá encontrar uma boa pessoa e esta será o amor da sua vida para toda a eternidade.

Com quantos anos você parou de acreditar que as pessoas eram boas e dignas de confiança para começar a pensar no quão cruéis elas realmente são? Com quantos anos você caiu na realidade e percebeu que, querendo ou não, o mundo nunca irá parar pra que você tenha um minuto de descanso e se cure de suas cicatrizes? Com quantos anos você percebeu que a felicidade é parcelada e que a tristeza e o ódio não são hóspedes passageiros?

Com quantos anos você parou de enxergar seus pais como heróis e passou a vê-los como eles realmente são?

Eles costumam dizer que a criação não influência em nada no futuro de uma pessoa. Que os pais... A família em si não é tão poderosa ao ponto de deixá-lo marcado com cicatrizes tão profundas ao ponto de adoecer alguém.

Uau, que afirmação mais descabida.

Segundo a visão psicanalítica de Lacan, a relação familiar, principalmente durante a infância, é crucial para a formação de um indivíduo. A família representa um papel fundamental na transmissão cultural pois é através da família que o indivíduo realmente se humaniza e tem sua subjetividade desenvolvida.

O que se fazer quando esse laço familiar é desestruturado? respostas? Maneiras de mudanças?

Voltamos a pergunta inicial, por favor. Com quantos anos você parou de enxergar seus pais como heróis e passou a vê-los como eles realmente são?

Cho Miyeon percebeu que o percurso de sua vida seria completamente diferente das outras crianças quando ainda tinha sete anos.

Aquele era seu aniversário e ela pensou, pela primeira vez, que seus pais teriam um tempo para ela, apesar de suas agendas sempre lotadas. É claro que ela sabia que seus pais eram ocupados devido à suas profissões, afinal de contas ser ator requer muito de você como pessoa. Miyeon era uma garotinha compreensiva desde sempre, estava acostumada a passar grande parte do seu tempo com babás. Quantos aniversários ela já não passou sem a figura de sua família, não é?

Contudo, desta vez, ao menos desta vez, a garotinha teve um sentimento adocicado de que seria diferente. Então ela se arrumou, deixou-se ser enfeitada pelos vestidos caros que sua mãe sempre lhe comprava. Estava tão feliz, que sentia que poderia explodir naquele dia. Então ela se ergue, os olhinhos brilhando em euforia quando escuta a porta da frente sendo destravada.

A pequena garotinha desce as escadas correndo, ignorando por completo os chamados da babá quando praticamente voa até seu pai, agarrando suas pernas pois sua altura não era o suficiente. O homem, totalmente deslocado com o contato, ficou sem saber o que fazer enquanto olhava para a esposa.

- Papai, mamãe, vocês chegaram!

Miyeon estava tão feliz, que não conseguia soltá-lo. Seu coraçãozinho batia demasiadamente forte. Estava tão feliz que aquela seria a primeira vez que passaria o seu dia ao lado deles!

- Pode tirar ela?

O primeiro baque foi aquele. Uma pergunta carregada de indiferença do pai, que olhava para a menina sem muito saber o que fazer. Miyeon sentiu seu coraçãozinho doer, mas aquilo não deixou aquilo abalar sua felicidade de ter os pais em casa, não mesmo.

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