C A S A.

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SEMPRE TIVE UMA DEFINIÇÃO DISTINTA DAS OUTRAS pessoas sobre o amor. Antes, o amor para mim era um capricho, era querer alguém sem me importar com nada, fazer o que for preciso para tê-lo. Agora, começo a entender que o amor passa por outro lado.

O amor é tão raro as vezes, que chega a ser inexplicável, de repente vem e vai. E o que quer o amor? Ser correspondido, isso quer. Dá para ser feliz vendo a pessoas que ama apaixonada de outra? Dá para amar sem ser egoísta?

Acredito que comecei a entender o que era o amor, quando deixei de ser egoísta, quando comecei a fazer as coisas sem esperar nada em troca, como por exemplo. Passei a entender o que era o amor e como era ser amada quando me permitir. É claro que, conhecer a pessoa certa, facilitou o processo. Não que eu acreditasse nessa coisa toda de destino e amor da sua vida, porquê nunca acreditei! Eu sempre tive em mente que tudo acontecia por algum motivo. E, inevitavelmente, tive que passar pelo amor distorcido de Nolan para chegar até ela.

Shuhua me ensinou muita coisa, mesmo implicitamente. E, o fato dela nunca pedir nada em troca, mesmo que tivesse a pura consciência do bem que me faz, foi confuso por um tempo. Foi meio confuso no começo porquê era o que minha criação me ensinava desde o começo. Mesmo depois de ir morar com Hector, isso não mudou nem um pouco. Segundo Charlotte, é algo difícil de se desprender, já que eu vivi uma vida inteira achando que deveria dar algo em troca pras pessoas, porquê foi exatamente isso que meus progenitores me ensinaram.

Eles foderam com tudo, de verdade.

Mas, de pouco a pouco, Shuhua começava a se fazer vista em minha vida. Ela me ensinava, implicitamente, que nada dessas coisas se parecia como um relacionamento saudável. E aquilo era realmente muito interessante, porquê é a primeira vez que experimento algo como isto. Eu não digo, mas percebo a forma como Shuhua se choca com o modo em que enfrento algumas coisas.

Estou encarando o teto escuro de meu quarto agora, inalando o cheiro do shampoo de Shuhua, que adormece suavemente abraçada a meu corpo. Normalmente, os remédios que Charlotte prescreveram me auxiliam em uma boa noite de sono, porém não hoje. Eu não me remexo na cama porquê tenho medo de acordar lírios, só que é difícil ficar imóvel encarando o nada quando não consigo realmente pregar os olhos. Fazia um tempo que não tinha pesadelos com meu pai, mas aquela última semana parecia fadada ao fracasso.

Três dias seguidos sonhando com as mesmas coisas, as mesmas pessoas, e isso tem me deixado completamente apavorada. Comecei a pensar que, talvez, o motivo dos remédios não fazerem efeito seja isso. Estou me forçando a ficar acordada porquê não quero sonhar com esse cara novamente. Tudo o que desejo fazer, é esquecer.

Eu me agarro a Shuhua, pressionando os olhos com força para tentar afastar aqueles pensamentos idiotas para bem longe. Em pouco tempo, então, eu consigo adormecer, sentindo a respiração calminha de minha namorada ressoar em meu pescoço. Mas, como as outras noites, o mesmo maldito pesadelo me faz despertar.

Lírios me balança, numa tentativa preocupada de me acordar de meu pesadelo. Abro os olhos, respirando pesadamente enquanto seu rosto apavorado entra em meu campo de visão. Não tenho certeza de como estou agora, mas devo estar um verdadeiro caco porquê Shuhua está praticamente tremendo só de olhar pra mim. Pisco algumas vezes, não sabendo exatamente o que dizer pra ela.

- Amor, você estava gritando. - sussurra, acariciando meu rosto. - Estava tendo um pesadelo?

Eu faço que sim, não tendo forças para erguer minha voz. Não gosto quando Shuhua me vê dessa maneira, fraca.

- Está tudo bem agora. - ela entrelaça nossos dedos. - Eu estou aqui.

Respiro fundo, encarando a transparência no olhar de minha namorada. Ela está preocupada agora e isso me deixa culpada. Me ergo na cama, puxando ela para um beijo desesperado. Shuhua se agarra em mim, tentando ajustar suas mãos em meu corpo. Eu me agarro a ela como se fosse água e eu estivesse sedenta. Mas, como sempre, lírios me surpreende ao afastar-se de mim.

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