M I L A N.

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COMECEI A DESENVOLVER CRISES DE ANSIEDADE muito antes de entrar na tão falada puberdade. Difícil de acreditar que uma garotinha de seis anos de idade pudesse vir a desencadear algo tão sério desse jeito, visto que, cacete, quais eram as responsabilidades que eu tinha para carregar nessa idade?

Minha primeira crise de ansiedade eu não consigo me lembrar muito bem. Mas me lembro de algo, mamãe ainda estava em ascenção como modelo, então suas viagens para outros países era algo constante, acho que, por isso, de alguma forma, essa coisa toda foi como um gatilho para mim. Precisei de visitas frequentes ao consultório de Becca para entender o que acontecia comigo e meu corpo.

Caramba, eu era uma criança que não conseguia entender o porquê caralhos minha respiração simplesmente sumia e meu corpo entrava em um estado de tremedeira fora do normal. A ansiedade não é um transtorno legal como algumas pessoas dizem lá fora, não mesmo. Então, por favor, jovens, quando estiverem para brincar com a cara de alguém sobre isso, pensem duas vezes.

Eu sofri muito para lidar com minha ansiedade, e ainda sofro, mas não é como se eu pudesse fazer algo para mudar, não é tão simples porquê não posso escolher a hora e o lugar de minhas crises. E eu gostaria que fosse toda aquela coisa bonita e romântica que as pessoas compartilham no twitter e tumblr. Não, não é.

As vezes, não consigo dormir porquê alguém me respondeu de uma forma diferente ou por simplesmente não responder. Não consigo lidar com situações que demanda muita pressão, é difícil ficar em público e ter de suportar olhares, mesmo que nem sempre sejam para mim, minha ansiedade sempre vai indicar outra coisa.

Ter ansiedade, nada mais é, do que um medo constante. Tenho medo de não ser o suficiente para as pessoas ao meu redor. Medo de ser trocada por alguém que possa não ser tão problemática. Tenho medo de situações em público que possam vir a me constranger de alguma forma. Tenho medo de sair, porquê estar do lado de fora significa que estou sujeita a ter uma crise a qualquer momento e isso faria com que as pessoas me olhassem de um modo diferente.

Os sintomas físicos são ainda piores, eu devo deixar claro. As vezes, me falta a respiração e parece que estou prestes a morrer, é como se as paredes estivessem se fechando contra mim. Sem contar, é claro, as palpitações e tonturas. Mas, bem, não é grande coisa e eu apenas deveria me conter, não é? Quero dizer, eu tenho absolutamente tudo! Qual é, Shuhua! Por quê sempre tão preocupada? Por quê não consegue deixar de balançar sua perna ou as mãos? Não é algo tão grave, você pode parar se quiser!

É claro que não é nada muito grave, que besteira! Perco peso de uma maneira absurda e fico dias sem dormir por conta da minha ansiedade, mas não, não é nada muito grave! E, é, eu apenas deveria me controlar, certo? Se eu tiver força de vontade, então talvez eu possa passar por isso. Como nunca pensei nisso antes? Ter força de vontade!

Essa sou eu, meus caros, em minha versão mais frágil e preciso de um esforço para entender que tudo bem porquê sou humana!

Não tenho tomado meu rémedio para controlar a ansiedade pelo simples fato de que já não funcionavam mais! Eles deixaram de ser eficazes no instante em que me entreguei. Deixei que a ansiedade fosse maior que eu e nisso confesso, sou culpada!

É claro que ainda converso com Becca sobre, o tratamento existe e é real a partir do momento em que coloco meus pés em seu consultório. O problema, no final de tudo, é que aquele medo irracional sobre qualquer coisa direcionada à minha vida, ainda existe e está bem aí, é visível.

À noite, antes de embarcar para Milão, Yuqi precisa passar a madrugada acordada porquê minhas crises simplesmente não dão descanso algum.

Normalmente prefiro ficar sozinha em momentos assim, mas minha amiga não é capaz de me deixar só. Ela tenta me distrair com músicas, filmes e até mesmo jogos. Odeio ser assim, odeio ser um peso para as pessoas que amo.

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