O F I M.

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EU SOU SOOJIN AGNOLETTO, FILHA DE HECTOR AGNOLETTO, TALVEZ UMA DAS MAIORES - SE NÃO A MAIOR - modelo da atualidade. É o que digo por aí. Sempre digo, essa é a minha referência. Mas a verdade.... A verdade é outra.

Meu nome é Seo Soojin, filha biológica de Seo Jayoung e Seo Euncheol. Minha mãe sempre esteve bêbada e drogada, caída pelos cantos. Meu pai também foi um bêbado desgraçado, usava e abusava das substâncias como bem entendia. E eu... Bem, eu cresci naquela casa. Quando finalmente consegui me libertar daquela prisão, acho que meus avós esperavam algo diferente, porquê eu estava quebrada. E eles bem que tentaram me resgatar. Mas às vezes você não pode salvar alguém que passou grandes parte de sua infância lutando pela própria sobrevivência. Sim, sobrevivência, porquê viver e sobreviver são coisas diferentes.

Quando você mora com pessoas como meus pais biológicos, tudo o que importa é sobreviver. O problema é quando o que você precisa para sobreviver, se torna inatingível. Se sobreviver já está fodido, então talvez você deva sobreviver se comportando bem. As pessoas pensam que se entra no fundo do poço porque gosta, não porque não tem outra opção.

Nunca entendi quando minha antiga psicóloga me dizia para escrever uma carta para eles, meus pais biológicos, eu digo. Pediram-me para escrever como me sinto, e a verdade é que eu tão pouco sabia de uma fodida coisa. Sempre pensei que de muito me custaria escrever sobre meus sentimentos, principalmente porquê eles não queriam nenhuma merda melancólica e triste, e eu não queria parecer fodida.

Quando você está acostumado a fazer tudo errado, é raro se sentir bem fazendo algo certo. Você sente que está se traindo e não gosta disso. Não sei explicar, é muito louco.

Não é que você não queira se resgatar, o que acontece é que quando você vem com defeito de fábrica, é mais fácil fazer as coisas erradas do que fazer as coisas certas.

Quando você está acostumado a sobreviver e nada mais, você faz qualquer coisa além de se divertir. E é tão bom curtir. Rir, sair, relaxar, são coisas que se esquece quando se está envolvido em um lugar regado por perversidade e caos ao qual estive. A única coisa que você pensa é como fugir, ou quando aquela tortura acaba.

Mas você não pode se empolgar muito, porquê isso é fixo. Quando você pensar em voar um pouco pra longe, eles te abaixam com um estilingue. Ainda depois da morte de meus pais e do sumiço de Tom, existe aquele sufoco agoniante em minha garganta.

Acho que, depois de estar em uma vida ruim por toda a sua vida, você evita a boa, não porque você não a queira, mas por medo de se acostumar com ela e então ela falhar em algum momento.

Quando você cresce em uma casa sem telhado, você não fica muito animado com os dias ensolarados porque sabe que mais cedo ou mais tarde a tempestade virá. Quando a esmola é grande, até o santo desconfia. É por isso que pessoas como eu desconfiam da vida.

Se acostumar não é fácil, o difícil é quando você se emociona com um sim. Porque lá, ele dói mais. Quanto mais você se acostuma com as carícias, mais os golpes doem. Quanto mais alto você pular, mais a queda vai doer. Quanto mais você abre seu coração, mais fácil é quebrá-lo.

Quem nasceu na lama sabe muito bem disso.

Quanto mais força você exerce para levantar a cabeça, mais suas mãos afundam. Você não se ilude com sonhos de felicidade porque a decepção dói mais do que mil surras. Pessoas como eu não ficam animadas com o futuro. Pessoas como eu não ficam empolgadas com o futuro porque sabemos que o passado sempre virá nos procurar. Assim somos nós, então; infelizes, não nos empolgamos muito com a felicidade. Porque não importa quanto progresso façamos, sempre acontecerá algo que nos levará à estaca zero.

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