Capítulo 3- Any

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Não vou mentir, esqueci de hj kkkk

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A claridade toca meus olhos, estou odiando isso a cada dia que passa. Preferiria dormir por sete meses sem acordar em nenhum dia, não quero continuar acordando sabendo que eu não tenho para onde correr, sabendo que não tenho outra saída a não ser esperar que os dias passem até que os remédios não sejam mais úteis e a minha única opção seja contar meus últimos suspiros.

Meu quarto está lotado de flores, em uma semana meus colegas da faculdade fizeram flores serem insuportáveis. Não aguento mais vê-las murcharem e pensar que em algumas semanas eu vou estar igual a elas.

Josh disse que ainda não posso ir para casa, falou que ainda preciso estar em observação e cuidados médicos. Mas eu entendi no mesmo instante que não vou voltar para casa, o tratamento com antibióticos só pode acontecer no hospital com a sua observação. Por mais sete meses eu irei ter que fingir que esse quarto é o meu quarto, que essa maca é a minha cama.

Ao menos ele disse que vai conversar com as enfermeiras sobre não abrir as cortinas enquanto eu não estiver acordada. Claramente ainda não conversou com nenhuma delas.

Aperto o botão do controle para a cama subir, observo ao redor, meu pai está dormindo sobre o antebraço, o ronco baixo parece alto no quarto silencioso.

Esfrego meus olhos, olhando as horas no meu celular sei que não faz muito tempo que estiverem aqui para aplicar um dos antibióticos. O da manhã é o que mais da sono e moleza, gostaria que aplicassem esse sempre e eliminassem os outros.

Inclino meu corpo para pegar minha garrafa d'água , minha mão para a centímetros dela quando vejo o envelope branco ao seu lado. Penso na possibilidade de ser uma carta do Guilherme e que ele não pode esperar que eu acordasse para receber. Meu coração acelera, pego o envelope branco e abro.

Mas no mesmo instante meu coração desacelera, pois eu sei que essa não é a letra dele.

"Hey, eu estou vendo você. Estou vendo o esboço do seu sorriso, vejo resquícios de esperança que um dia estiveram em seu olhos.

Eu sinto muito, sei que você sente dor e que as faltas de ar não desaparecem como deveriam. Eu te vejo sufocando.

Eu sei que você espera todos os dias que ele entre pela porta, não queria ter que falar isso, mas ele não irá entrar mais. Ele foi covarde e não quis te dar tchau como você merecia. Aquele cara não quis voltar e dizer um último eu te amo, você parece gostar dessas palavras.

Mas por favor, não diminua o universo que existe dentro de você por causa de outra pessoa que não soube admirá-lo. Não vale a pena apagar o seu brilho por alguém que não quis segurar a sua mão e enfrentar com você o que está passando.

Vamos lá! Sorria de novo, eu quero ver você sorrir de novo.

Talvez você algum dia saiba quem te enviou isso.

De um humano secreto para você."

Limpei a lágrima que escorreu por minha bochecha, procuro no papel algum resquício de dica de quem me mandou.

Dói perceber que alguma pessoa de fora consegue melhor do que eu entender que meu noivo não irá passar pela porta com um buquê de rosas e um olhar arrependido.

Tento fazer com que meus soluços sejam baixos para não acordar meu pai. Essa manhã parece estar um pouco mais difícil de respirar do que o normal. Sinto como se estivessem apertando a entrada de ar do meu pulmão, deixando o mínimo de oxigênio entrar nele.

Cartas ao amanhecerOnde histórias criam vida. Descubra agora